01/09/2011

Copom surpreende e corta juro em 0,50 ponto porcentual para 12% ao ano

Banco Central vê cenário mais complicado pela crise global e interrompe ciclo de alta da Selic iniciado em janeiro


Fernando Nakagawa, Denise Abarca e Flávio Leonel, da Agência Estado
SÃO PAULO - O Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu e decidiu hoje reduzir a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto porcentual para 12% ao ano. Com isso, o colegiado do Banco Central interrompe o processo de aperto monetário iniciado em janeiro deste ano. Ainda assim, juro do País continua sendo o mais alto do mundo

BC Reduz os juros pela 1ª vez no governo Dilma
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central - André Dusek/AE
André Dusek/AE
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central
Levantamento feito pela Agência Estado com 72 instituições do mercado financeiro mostrou que era unânime a aposta na estabilidade da taxa Selic em 12,50% nesta reunião do comitê do BC. De janeiro a julho, a taxa Selic foi elevada em 1,75 ponto porcentual.
O comitê tem mais dois encontros previstos para 2011. A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 18 e 19 de outubro e a última reunião, para 29 e 30 de novembro. A ata da reunião de hoje será divulgada pelo BC na quinta-feira da próxima semana, dia 8 de setembro.
Diante do quadro, os diretores do BC afirmam que "aumentaram as chances de que restrições às quais hoje estão expostas diversas economias maduras se prolonguem por um período de tempo maior do que o antecipado". Ou seja, o BC reconhece que a crise será mais longa que o previsto anteriormente.
Os diretores do BC citam ainda que nas economias desenvolvidas "parece limitado o espaço para utilização de política monetária e prevalece um cenário de restrição fiscal". "Dessa forma, o Comitê avalia que o cenário internacional manifesta viés desinflacionáriono horizonte relevante", conclui o primeiro parágrafo do documento.
A contaminação da economia brasileira pela crise internacional poderá acontecer por "vários canais", prevê o Banco Central. No comunicado, os diretores afirmam que é possível que haja, por exemplo, "redução da corrente de comércio, moderação do fluxo de investimentos, condições de crédito mais restritivas e piora no sentimento de consumidores e empresários".
Independentemente do canal de transmissão da crise externa ao Brasil, os diretores do BC afirmam que "a complexidade que cerca o ambiente internacional contribuirá para intensificar e acelerar o processo em curso de moderação da atividade doméstica". Essa desaceleração da economia brasileira, destaca o texto do BC, "já se manifesta, por exemplo, no recuo das projeções para o crescimento da economia brasileira".
"Dessa forma, no horizonte relevante, o balanço de riscos para a inflação se torna mais favorável", conclui o BC
As explicações dadas pelo Banco Central para a decisão surpreendente citam rapidamente, em apenas uma frase, a intenção do governo de economizar um volume maior de recursos para pagar os juros da dívida pública, o chamado superávit primário.
No documento de duas páginas divulgado após o anúncio do corte da Selic, os diretores do BC afirmam: "a propósito, também aponta nessa direção (de um balanço de riscos para a inflação mais favorável) a revisão do cenário para a política fiscal". (Fernando Nakagawa)
Veja a íntegra do comunicado do Copom:
"O Copom decidiu reduzir a taxa Selic para 12,00% a.a., sem viés, por cinco votos a favor e dois votos pela manutenção da taxa Selic em 12,50% a.a. Reavaliando o cenário internacional, o Copom considera que houve substancial deterioração, consubstanciada, por exemplo, em reduções generalizadas e de grande magnitude nas projeções de crescimento para os principais blocos econômicos. O Comitê entende que aumentaram as chances de que restrições às quais hoje estão expostas diversas economias maduras se prolonguem por um período de tempo maior do que o antecipado. Nota ainda que, nessas economias, parece limitado o espaço para utilização de política monetária e prevalece um cenário de restrição fiscal. Dessa forma, o Comitê avalia que o cenário internacional manifesta viés desinflacionário no horizonte relevante.
Para o Copom, a transmissão dos desenvolvimentos externos para a economia brasileira pode se materializar por intermédio de diversos canais, entre outros, redução da corrente de comércio, moderação do fluxo de investimentos, condições de crédito mais restritivas e piora no sentimento de consumidores e empresários. O Comitê entende que a complexidade que cerca o ambiente internacional contribuirá para intensificar e acelerar o processo em curso de moderação da atividade doméstica, que já se manifesta, por exemplo, no recuo das projeções para o crescimento da economia brasileira. Dessa forma, no horizonte relevante, o balanço de riscos para a inflação se torna mais favorável. A propósito, também aponta nessa direção a revisão do cenário para a política fiscal.
Nesse contexto, o Copom entende que, ao tempestivamente mitigar os efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, um ajuste moderado no nível da taxa básica é consistente com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012.
O Comitê irá monitorar atentamente a evolução do ambiente macroeconômico e os desdobramentos do cenário internacional para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária."

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