21/10/2011

Alunos digitais, escola analógica e agência ausente


Brasília - Quem formulou a comparação entre as categorias tecnológicas de desenvolvimento de alunos e escolas foi o historiador e professor da Universidade de Campinas (Unicamp), Jaime Pinsky, na matéria da Agência Brasil CNTE aponta envelhecimento dos professores e desinteresse pelo magistério ... , publicada em 15/10/2009, Dia dos Professores.
O objetivo daquela matéria, e de outras quatro publicadas no mesmo dia de 2009, com certeza não era o de comemorar a efeméride e sim fazer um balanço do processo histórico da educação em nosso país.
No ano seguinte, em 15 de outubro de 2010, outras seis matérias deram conta e atualizaram a discussão sobre a carreira relacionando-a à qualidade do ensino. Dentre elas destaca-se Magistério tem dificuldade de atrair jovens talentos para a carreira ... na qual uma das fontes ouvidas, o assessor especial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Célio da Cunha, alertava para o problema de desvalorização da profissão: “A universalização do ensino fundamental foi feita à custa dos baixos salários dos professores. Quando se expandiu o número de escolas e fez-se a inclusão de mais alunos, ironicamente foram os professores que financiaram isso porque a expansão não foi feita melhorando a carreira e os salários”
Todavia, agora em 2011, a Agência Brasil não publicou uma única linha sobre o assunto. Quem chamou a atenção para a omissão foi o leitor Sonielson Luciano de Sousa: “Notei com tristeza que a Agência Brasil não fez nenhuma matéria especial sobre o Dia dos Professores. Estaria aí um lapso da equipe, que subestimou data tão importante? Ou será que não há muito o que comemorar nesta classe ainda tão pouco valorizada em nosso país? Ou foi por outro motivo que esqueceram de mostrar os avanços e gargalos na área? Enfim, gostaria de entender a ausência. Um abraço e parabéns pela qualidade das matérias disponíveis.”
A Diretoria de Jornalismo – DIJOR, da EBC, respondeu ao leitor: “estamos constantemente acompanhando o tema professor na nossa cobertura de educação. Não havia nenhum fato novo ou informação inédita para produzir um material diferenciado para a data. E lembramos que nem sempre fazemos reportagens sobre dias comemorativos. Mas é importante ressaltar que a situação dos professores está sempre em pauta na Agência Brasil.”
A Dijor também encaminhou exemplos de matérias recentes publicadas sobre o tema: "Formação de professores é desvalorizada pelas universidades, avaliam especialistas", "STF publica decisão que declarou legal o piso nacional dos professores" e "Professores de escolas públicas fazem paralisação nacional para cobrar cumprimento da Lei do Piso.
Apesar de estar acompanhando o processo ao longo do tempo, a Agência Brasil poderia ter aproveitado a oportunidade para dar continuidade ao tipo de balanço que vinha fazendo ano após ano, resumindo os principais fatos ocorridos, ouvindo especialistas, entidades de classe e principalmente os protagonistas da educação no Brasil: autoridades, alunos, professores e dirigentes, ou seja, a comunidade escolar.
A consolidação da agência pública como espaço democrático de debate passa pelo agendamento das discussões que contribuem para a avaliação do rumo das políticas públicas. Para isso, mais importante do que “fato novo ou informação inédita” é pautar o debate sobre assuntos que outros veículos de comunicação normalmente desprezam. Espera-se que a Agência Brasil, justamente por ser pública, dispense o sensacionalismo produzindo um material diferenciado e aprofundado para aquela data. Só ela tem condições de fazer isso.
A educação também foi tema de demanda enviada pelo leitor Fabio Galvão: “A matéria 'Ensino no Brasilavança em ritmo mais acelerado do que média mundial, diz Haddad ...', publicada nesta sexta-feira, dia 30, está muito chapa branca. É preciso fazer jornalismo direito e não temer a pré-candidatura do ministro. AAgência Brasil deveria ter publicado as opiniões dos outros debatedores do evento. (o evento foi o Fórum da revista Exame, da Abril, sobre qualidade da educação). Sei que os debatedores não são do espectro político do ministro (nem do meu), mas a Agência Brasil é pública, não estatal. Ou não?”
Em resposta ao leitor a Dijor ressaltou: “a Agência Brasil não faz cobertura de fóruns de debates de outros veículos de comunicação, como fez a Exame. A nossa reportagem esteve lá para cobrir a fala do Ministro da Educação do Brasil. Alguns dos convidados do fórum são fontes frequentes da Agência Brasil. A cobertura que fizemos sobre educação é reconhecida por pesquisadores, especialistas, pela sociedade civil organizada, por movimentos como "Todos pela Educação". Trabalho reconhecido com o prêmio Vladimir Hergoz de educação concedido a jornalista Amanda Cieglinsky da Agência Brasil.”
A referida matéria não identificou qual era o fórum nem seu tema. Tampouco informou quem foram os outros debatedores, quais foram suas opiniões ou em que elas divergiram ou convergiram. Citar prêmios ou reconhecimentos é uma forma de não discutir concretamente a qualidade do jornalismo praticado naquela matéria, conforme reivindicou o leitor. Por sinal essa foi a mesma estratégia utilizada pelo ministro no debate sobre a qualidade da educação – citar a colocação do Brasil em rankings internacionais.
Até a próxima semana.

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