31/10/2011

Tribunais de Contas são comandados por suspeitos em ações


Três presidentes de TCEs deixaram seus cargos; em sete Estados, chefes dos órgãos são alvos de questionamentos

Para cientista político, conselheiros escolhidos pelo Legislativo têm dificuldade de julgar as contas de forma isenta

FELIPE BÄCHTOLD
DE PORTO ALEGRE
CÍNTIA ACAYABA
DE SÃO PAULO

Reduto de ex-políticos semiaposentados, Tribunais de Contas dos Estados são presididos por suspeitos envolvidos em operações da Polícia Federal e réus em processos que tramitam na Justiça.
Três presidentes desses órgãos de fiscalização tiveram que deixar seus cargos nos últimos meses por suspeitas de irregularidades. Em ao menos sete Estados, o atual comando do órgão também é alvo de questionamentos.
A Procuradoria-Geral da República assinou há duas semanas o pedido de afastamento do presidente do TCE do Rio de Janeiro, Jonas Lopes de Carvalho, ao denunciá-lo por suspeita de envolvimento em irregularidades apuradas na Operação Pasárgada, da Polícia Federal. 
Dezesseis prefeitos foram presos na ação, de 2008, que apurava facilitação de benefícios a municípios.
A cúpula do TCE de Minas também foi alvo de suspeitas na mesma operação. Uma autorização do Superior Tribunal de Justiça permitiu à polícia ouvir o presidente Antônio Carlos de Andrada e outros membros. A investigação ainda não está concluída.
A mesma corte mandou afastar há um mês o então presidente do TCE de Roraima, Marcus Hollanda, que virou réu em uma ação penal ligada à Operação Gafanhoto, da PF. Quem assumiu o cargo dele foi Essen Pinheiro, que também é réu em outro processo no STJ.
No Acre, o chefe do TCE responde a processo por peculato. No Amapá, a PF fez ação de busca e apreensão na casa do presidente em maio. Os presidentes no Ceará e no Espírito Santo acabaram deixando seus cargos.
Criados para fiscalizar e julgar ações dos governantes nos Estados, os TCEs se tornaram atrativos para nomeações políticas. A maior parte dos integrantes é escolhida pelo Legislativo, o que garante presença de ex-deputados.
O cargo tem status vitalício e salário de desembargador.
O cientista político Bruno Speck, que fez estudo sobre os TCEs na Unicamp, diz que "alguém indicado pelo governador vai ter dificuldade de julgar de forma isenta as contas do governo."

OUTRO LADO
A direção dos TCEs alvos de processos na Justiça negaram irregularidades.
Em Minas, a defesa do chefe do órgão disse que não há vínculo da instituição com suspeitas levantadas contra dirigentes do TCE-RJ.
A defesa do presidente do tribunal do Rio afirmou que não há provas contra ele. No Amapá, o advogado Paulo Martins disse que o presidente Regildo Salomão nunca foi considerado suspeito. Em Mato Grosso, a defesa do presidente do TCE conseguiu inocentá-lo em primeira instância, mas há recurso. Os demais não responderam ou não foram localizados.

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