Foto: Wilson Dias/ABr
Banco deixou de contabilizar uma perda de R$ 720 milhões em ações
da Iberdrola, que é também muito atuante no Brasil; jornal El Pais
denuncia ainda manobra para pagar menos impostos; presidente Dilma, que
ontem esteve com Emilio Botín, já vê com apreensão situação dos bancos
estrangeiros
247 – A maré de más notícias que atinge o banco
Santander, maior banco da Espanha e a terceira maior instituição
financeira privada do Brasil, é cada dia maior. Ontem, as ações do
banco na BM&FBovespa caíram 6,07%, diante das evidências de que os
espanhóis decidiram vender participações acionárias em vários países
para drenar recursos para a matriz espanhola, em crise aguda. Hoje, o
assunto é ainda mais grave. Segundo reportagem publicada no jornal El
Pais, o mais importante da Espanha, o Santander maquiou seus balanços
em 2010. De acordo com o periódico, o banco deixou de contabilizar pelo
valor correto sua participação acionária na empresa de energia
Iberdrola, que possui várias operações no Brasil. Esta participação,
avaliada pelo Santander em 672 milhões de euros, deveria estar
registrada em 31 de dezembro de 2010 por 299 milhões de euros a menos,
em função da queda dos papeis no mercado acionário. Isso significa uma
fraude contábil de mais de R$ 720 milhões.
Os dados foram descobertos num levantamento interno da CNVM, a
Comisión Nacional del Mercado de Valores, órgão semelhante à CVM no
Brasil. De acordo com o banco de Emílio Botín, que passa férias no
Brasil e se reuniu ontem com a presidente Dilma Rousseff, essas
participações não foram contabilizadas pelo valor real porque a queda
seria fruto da crise econômica internacional – e, a despeito dela, a
Iberdrola continuaria apresentando uma posição econômica sólida.
Ocorre, porém, que o grupo de Botín, também possui ações da Iberdrola e
de outras companhias em fundos de investimento. Estes fundos ficam fora
do balanço do banco e, nesses casos, as participações foram registradas
pelo valor real em bolsa – e não por um valor hipotético – o que
geraria, segundo o El Pais, até um benefício fiscal para o grupo de
Botín. No caso do banco, ao contrário, as participações estariam
sobrevalorizadas para inflar o patrimônio do banco e reduzir a
necessidade de capitalização.
Apreensão na equipe econômica
Essa necessidade de capitalização dos bancos internacionais tem
sido vista pela equipe econômica brasileira como um possível fator de
contágio da crise internacional.
Instituições financeiras internacionais que antes traziam linhas
de financiamento para o Brasil em momentos de crise hoje utilizam a
liquidez do mercado brasileiro para socorrer suas matrizes, enxugando o
crédito interno.
No Banco do Brasil, há um comitê formado que já acompanha de perto
as movimentações dos bancos internacionais no País – em especial do
Santander e do HSBC.
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