Ônibus e vans trazem todo dia dezenas de pessoas que buscam tratamentos
Jornal Cruzeiro do Sul
Samira Galli
samira.galli@jcruzeiro.com.br
Pacientes das 48 cidades da região de Sorocaba atendidas pelo Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS) passam por uma cansativa rotina para realizar os tratamentos. A maior parte vem de ônibus e vans disponibilizados pelas prefeituras locais e são obrigados a esperar até o final da tarde, quando o último paciente é atendido. Como não há locais apropriados para descanso e espera, os pacientes ficam nas calçadas no entorno do CHS ou dentro dos próprios veículos, esperando o fim da tarde e a volta para casa. Calor, frio, fome e cansado são apenas algumas situações enfrentadas por quem não tem sequer banheiro disponível.
A cada 20 dias, Ivonete de Oliveira, 42, de Itapeva, vai ao CHS fazer quimioterapia. Ivonete teve câncer de mama há quase dois anos e desde então segue a rotina mensal. Por causa da agressividade do tratamento, Ivonete fica fragilizada após as sessões, mas não tem lugar algum para se recuperar. "Eu saio passando mal, mas não tem para onde ir, fico passando mal na calçada mesmo, o dia todo", diz. Além das sessões, ela também vem a Sorocaba devido às consultas. Na maioria das vezes, a gari afastada do trabalho por causa da doença sai às 1h30 de Itapeva e vai embora só depois das 17h. Para ela, o período mais complicado é durante os meses de frio. "É duro. A gente traz cobertor para poder ficar mais confortável, mas tem dia que é bem difícil. No calor é complicado, mas o muro faz sombra na calçada", afirma.
Para acompanhar a amiga, Francisco de Assis Cardoso, 62, passa pela mesma situação. Quando tem quimioterapia, ela come no hospital, mas, como ele não pode acompanhar, passa o dia se alimentando de salgados nos estabelecimentos próximos. "A gente acaba comendo qualquer coisa por aí. Mas faz um sacrifício para ela não passar por tudo isso sozinha. É muito ruim", desabafa. Pelo neto Ryan, de 6 anos, a dona de casa Luzia de Fátima da Silva, 54, de Buri, faz de tudo, inclusive perder alguns dias da semana inteiros nas calçadas próximas ao CHS. Desde os seis meses de idade, o menino tem problemas de saúde, como anemia, vermes e sinusite. "Se eu não corresse com ele, eu tinha perdido esse meu menino", desabafa.
Como passa por vários médicos, ele precisa ir ao CHS em alguns casos até duas vezes por semana. São os dias em que Luzia não dorme. "Amanheço acordada. É sofrido." Como eles saem de Buri por volta das 2h da madrugada e voltam para o ônibus só depois das 16h, o local de descanso é a calçada. "Às vezes ele dorme na calçada, com a cabecinha encostada na mochila. Deus que me perdoe, mas parece até um indigente, coitadinho", lamenta a avó.
Luzia e o neto almoçam por R$ 1 no Bom Prato, mas a avó gosta de comprar bolachas no supermercado para agradar Ryan. "Pelo menos para ele passar a tarde melhor, né?", comenta. Sempre que tem consulta, o menino perde o dia de aula, por voltar só no começo da noite. "Não tem o que fazer", finaliza. Ana Ferreira Metring, 63, recebeu um transplante de rim há 13 anos e atualmente precisa de acompanhamento médico de quatro em quatro meses. De Itararé, Ana vem à Sorocaba num micro-ônibus numa viagem que dura quatro horas. "Toda vez é a mesma coisa. A gente passa a madrugada no ônibus, o dia na calçada e chega em casa à noite, acabada. Já tenho uma idade, já poderia ter um lugarzinho para descansar. Saímos de lá ontem às 23h30 e só vou voltar hoje à noite", diz.
Os comerciantes de estabelecimentos próximos são testemunhas da situação dos pacientes regionais. A comerciante Juliana Chen, 21, trabalha em uma lanchonete em frente ao CHS, e conta que todos os dias eles pedem para ficar um tempo lá para descansar. "Eles vem logo cedo para tomar café da manhã. Alguns pedem para ficar um tempo, mas nunca enfrentamos problemas. Quando a lanchonete fecha, eles entendem e saem dar uma volta, para voltar depois", conta.
samira.galli@jcruzeiro.com.br
Pacientes das 48 cidades da região de Sorocaba atendidas pelo Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS) passam por uma cansativa rotina para realizar os tratamentos. A maior parte vem de ônibus e vans disponibilizados pelas prefeituras locais e são obrigados a esperar até o final da tarde, quando o último paciente é atendido. Como não há locais apropriados para descanso e espera, os pacientes ficam nas calçadas no entorno do CHS ou dentro dos próprios veículos, esperando o fim da tarde e a volta para casa. Calor, frio, fome e cansado são apenas algumas situações enfrentadas por quem não tem sequer banheiro disponível.
A cada 20 dias, Ivonete de Oliveira, 42, de Itapeva, vai ao CHS fazer quimioterapia. Ivonete teve câncer de mama há quase dois anos e desde então segue a rotina mensal. Por causa da agressividade do tratamento, Ivonete fica fragilizada após as sessões, mas não tem lugar algum para se recuperar. "Eu saio passando mal, mas não tem para onde ir, fico passando mal na calçada mesmo, o dia todo", diz. Além das sessões, ela também vem a Sorocaba devido às consultas. Na maioria das vezes, a gari afastada do trabalho por causa da doença sai às 1h30 de Itapeva e vai embora só depois das 17h. Para ela, o período mais complicado é durante os meses de frio. "É duro. A gente traz cobertor para poder ficar mais confortável, mas tem dia que é bem difícil. No calor é complicado, mas o muro faz sombra na calçada", afirma.
Para acompanhar a amiga, Francisco de Assis Cardoso, 62, passa pela mesma situação. Quando tem quimioterapia, ela come no hospital, mas, como ele não pode acompanhar, passa o dia se alimentando de salgados nos estabelecimentos próximos. "A gente acaba comendo qualquer coisa por aí. Mas faz um sacrifício para ela não passar por tudo isso sozinha. É muito ruim", desabafa. Pelo neto Ryan, de 6 anos, a dona de casa Luzia de Fátima da Silva, 54, de Buri, faz de tudo, inclusive perder alguns dias da semana inteiros nas calçadas próximas ao CHS. Desde os seis meses de idade, o menino tem problemas de saúde, como anemia, vermes e sinusite. "Se eu não corresse com ele, eu tinha perdido esse meu menino", desabafa.
Como passa por vários médicos, ele precisa ir ao CHS em alguns casos até duas vezes por semana. São os dias em que Luzia não dorme. "Amanheço acordada. É sofrido." Como eles saem de Buri por volta das 2h da madrugada e voltam para o ônibus só depois das 16h, o local de descanso é a calçada. "Às vezes ele dorme na calçada, com a cabecinha encostada na mochila. Deus que me perdoe, mas parece até um indigente, coitadinho", lamenta a avó.
Luzia e o neto almoçam por R$ 1 no Bom Prato, mas a avó gosta de comprar bolachas no supermercado para agradar Ryan. "Pelo menos para ele passar a tarde melhor, né?", comenta. Sempre que tem consulta, o menino perde o dia de aula, por voltar só no começo da noite. "Não tem o que fazer", finaliza. Ana Ferreira Metring, 63, recebeu um transplante de rim há 13 anos e atualmente precisa de acompanhamento médico de quatro em quatro meses. De Itararé, Ana vem à Sorocaba num micro-ônibus numa viagem que dura quatro horas. "Toda vez é a mesma coisa. A gente passa a madrugada no ônibus, o dia na calçada e chega em casa à noite, acabada. Já tenho uma idade, já poderia ter um lugarzinho para descansar. Saímos de lá ontem às 23h30 e só vou voltar hoje à noite", diz.
Os comerciantes de estabelecimentos próximos são testemunhas da situação dos pacientes regionais. A comerciante Juliana Chen, 21, trabalha em uma lanchonete em frente ao CHS, e conta que todos os dias eles pedem para ficar um tempo lá para descansar. "Eles vem logo cedo para tomar café da manhã. Alguns pedem para ficar um tempo, mas nunca enfrentamos problemas. Quando a lanchonete fecha, eles entendem e saem dar uma volta, para voltar depois", conta.
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