do jornal da estância
Plínio de Arruda Sampaio, 81 anos, advogado, promotor
público, candidato a Presidente da República em 2010, obtendo 888816
votos. Foi secretário do Governo
Carvalho Pinto e do prefeito Prestes Maia.
Em 1962 foi eleito deputado estadual pelo PDC, relator do projeto de
reforma agrária que fazia parte das reformas de base do governo João
Goulart. Após o golpe de 64 foi um dos
cem primeiros brasileiros a serem cassados pelo regime militar. Viveu exilado no Chile, Estados Unidos,
ajudou a fundar o PT foi eleito deputado constituinte saiu da legenda em 2005
para ajudar a fundar o PSOL. Acompanhe a
entrevista deste brasileiro que não só viveu como participou ativamente da vida
política brasileira nos últimos 60 anos.
JE – O senhor que conhece profundamente a vida política do
Brasil nos últimos sessenta anos, tendo
exercido vários cargos eletivos, como políticos. Qual a avaliação que o
Sr. faz deste período?
Plínio de Arruda Sampaio – Nestes últimos sessenta anos
aconteceram mudanças muito importantes.
Você tem um período até 1954, que é o segundo governo Vargas onde
acontecem avanços significativos na consciência política do País, avança na
industrialização, economia, sobretudo na participação política. Em 1964 os militares rompem a legalidade
democrática e instalam uma tremenda ditadura e cometem um grande erro, que
aliás já havia sido cometido por Juscelino, mas eles agravam que é a entrada de
capital estrangeiro no País, e essa ação contamina a indústria nacional. Isto vai até a democratização. Grande campanha popular. Na democratização, nós temos numa primeira
fase digamos uma grande esperança de participação, as diretas foi um fruto da
enorme participação popular. Mas depois
o povo de certa maneira perdeu a esperança, porque os militares voltaram para o
quartel e não aconteceu nada, entro o Sarney segurou a inflação, grande
animação e não deu em
nada. Agora é o Lula,
não deu em nada. Então nós estamos
vivendo, desde 2002 um período de queda da pressão de massa. Nós estamos passando por uma fase muito
difícil que aparentemente, o povo vai bem a economia vai bem, mas na verdade a
economia vai muito mal, por que o País perde competitividade industrial, se
desnacionaliza a sua indústria, e nós passamos de uma economia industrial para
uma economia primária exportadora, que é uma economia mais dependente do que
uma economia industrial.
JE – O sr. foi uma das cem primeiras pessoas cassadas pelo regime militar em 1964, partiu para o exílio no Chile inicialmente e depois foi para os EUA como representante da FAO, como é deixar sua Pátria e viver
Plínio de Arruda Sampaio – Extremamente duro. Costuma-se dizer o seguinte: o exílio fortalece os fortes e arrebenta os fracos. Apesar de ser muito duro foi uma experiência bastante positiva, para mim e para minha família. Foi um período de muito estudo eu aproveitei para rever todo minha filosofia política, e aprofundar os meus conhecimentos do Socialismo, foi lá que eu li Marx eu antes não tinha lido, estava na ação, fazíamos também um seminário toda a sexta feira a noite, nos reuníamos na minha casa os políticos de maior peso que estavam exilados no Chile. Almino Alfonso, Fernando Henrique, Francisco Wefort, Jesus Vilares Pereira, Celso Furtado, discutíamos o Brasil. E o que fazer com o Brasil. E foi nestas reuniões que surgiu a idéia de criarmos um partido popular, ficou tudo combinado, durante os 12 anos de exílio não fizemos outra coisa senão estudar esse partido. Chegando aqui a idéia inicial foi lancar a candidatura de FHC, porque ele podia ser candidato e nós não. Pelo fato de nós estarmos cassados, então o Fernando Henrique saiu. A idéia era se tivermos mais de 1 milhão de votos, nós demonstramos a viabilidade do partido, e portanto temos condição de lançá-lo em seguida. No dia seguinte a vitória, vou cedo para a televisão e o repórter anúncia o senador que teve mais de 1,2 milhão de votos, o Fernando chega e diz assim; não podemos dividir o MDB, temos que manter a frente e divisionismo e fazemos isso porque a ditadura ainda está aí. Não esperei nem ele sair da emissora, e liguei para ele e disse; o Fernando eu saí do barco, isso eu não aceito. Aí o Aloysio mandou me chamar para ir a casa dele, e me perguntou que candidatura eu queria, que seu quisesse ser prefeito eu seria, se quiser ser candidato governador a legenda é sua. Não a idéia não é essa, eu não acredito mais nesse grupo político. Eu hoje sou um Socialista e não acredito mais nisso. De modo que eu vou lutar em outra frente. Então fiquei muito aborrecido e aceitei o contrato da FAO e fui para Roma esfriar a cabeça. Lá o Lula pediu ao Moyses que me telefonasse para que eu fizesse o Estatuto do PT e eu fiz.
JE – O nome do partido que sr. tinha acordado com FHC e outras lideranças políticas era PSDP?
Plínio de Arruda Sampaio – Partido Socialista Democrático Popular.
JE – O sr. é um dos fundadores do PT. Militou no partido de 1980 até 2005,
inclusive foi candidato ao Governo de São Paulo, suplente de Deputado Federal,
assumiu o mandato do Suplicy e se elegeu Deputado Constituinte. Qual a avaliação que sr. faz da fundação do
PT, período em que militou no partido e como vê PT hoje.
Plínio de Arruda Sampaio – Eu que costumo dizer que não sai
do PT, o PT que saiu de mim. Por que eu
continuei do jeito que nós fizemos quando fundamos. O PT era um partido Socialista,
revolucionário e contra a ordem estabelecida.
O partido foi gradualmente dando passos para a direita. De 1980 a 1989 ele foi um partido Socialista pela
base, era um partido popular, você tinha um processo de base fantástico. Em 89 fizemos uma avaliação equivocada,
achamos que a derrota foi um acidente de percurso, e iríamos ganhar a outra
eleição sem maiores dificuldades, não foi assim, ganhou o FHC no primeiro
turno. Aí fizemos uma análise
equivocada, que tínhamos perdido porque éramos rígidos em nossas alianças, tínhamos
um discurso muito radical e uma presença política muito rebelde. Eu fui contra essa análise, mas foi a que prevalecer.
Então tinha que abrir aliança com pequeno e médio empresário que depois
terminou no Gerdau, mas começou assim.
Em 1998, o Lula veio com uma conversa que não seria o candidato e eu
falei, Lula você tem que ser o candidato, pois você é a única figura pública do
partido. Em todas as sedes do partido
qual o retrato que tem? É o seu não o
meu. Segundo, você que foi para a TV. Todo projeto bom na constituinte você
assinava para estar em evidência, então tem que ser você. Mas você não vai ganhar, e se ganhar não vai
levar. Faça o seguinte, aproveita para
dizer tudo denunciar a burguesia, sobretudo anunciar o socialismo no
Brasil. O Brasil nunca ouviu falar em
socialismo, a massa nunca ouviu falar.
Os coitados dos comunistas falavam, mas era tamanho pau em cima deles
que eles não podiam sustentar a defesa da causa. Fomos para a instância partidária para votar
a minha proposta, aí eu perdi estourado.
Disseram que eu só falava besteira, estupidez. E arrumaram um
marqueteiro para ele. Em 2002 ele fez
aquela barbaridade. Desde 1994 que eu
estou meio no ostracismo, por isso não aceitei
coordenar a campanha, mas ainda assim fiz um esforço, vou ser candidato
a presidente do partido, porque eu viro isso.
Fui e ganharia o direito de disputar o segundo turno se só militantes
votassem, mas é impossível você ganhar no PT com 600 mil filiados votando e
muitos grupos ligados a este ou aquele deputado. Resultado eu falei não, isso não é mais democrático,
a democracia tem que dar chance de virada, se eu não tenho chance de virar o
que estou fazendo aqui. Mesmo assim eu aceitei o convite do Lula, ele não
acreditou muito. Olha Plínio você não
quer fazer parte do Consea, e você não faz para mim o plano de Reforma Agrária?
Faço. Fiz, reuni um grupo de nossos
amigos, e fizemos o plano. O planejamento era de 1 milhão de assentados em
quatro anos ao custo de 24 bilhões de reais, passava além do FMI, aí o
Ministério da Fazenda vetou. Tentei
falar com o Lula e ele se esquivou, não me recebeu. Bom esse discurso foi o discurso que eu fiz
nessa campanha. Não vai ter voto, você
perde. O povo não está preparado para
ouvir uma mensagem socialista. Não está,
mas aquilo precisa ficar na memória dele.
Porque amanhã o que você estiver dizendo for comprovado na prática, você
vai ter. Citei o exemplo do De
Gaulle. O dia que o De Gaulle fez o
apelo para os franceses votarem se ele disputasse a eleição com o Marechal
Pétain ele perdia. Pois o francês estava
com mais medo do comunismo do que do alemão.
Dois anos depois acabou e ele virou o grande líder. Churchil esteve em 1933 na Alemanha, viu
Hitler voltou apavorado e disse: gente este homem vai se armar e bater em nós. Ninguém queria
ouvir falar disso na Inglaterra. No auge da crise foi colocado de lado e ficou
num ostracismo total. Pois bem, quando
Chamberlain voltou desmoralizado só tinha uma pessoa para dirigir. É a mesma coisa Lula, você é moço espera aí 10 a 15 anos e vão buscar você
na sua casa. Aí você comanda este País tranqüilo. Ele ficou muito impressionado, mas não teve
coragem. Aí negócio de empreiteiras, enfim ganhou. Não fez nada.
Então o que acontece, você tem hoje um País aparentemente em uma
situação boa, na realidade em uma situação péssima. O Lula irresponsavelmente ta pegando um
dinheirão que está vindo na mão dele sem que ele tenha feito nada. É uma coincidência que a crise mundial joga
dinheiro aqui, porque o capital estrangeiro não tendo onde aplicar lá vem tudo
para cá para ter valorização financeira.
Temos uma taxa de juro altíssima e eles entram aqui, como estão indo
para a África do Sul, Índia e China.
Isso permite ao Brasil uma folga cambial muito grande, o que lhe dá uma
folga orçamentária. Em vez de pegar essa folga orçamentária e fazer um processo
de solidificação da economia, não, está jogando isso na Bolsa Família, sobretudo
no crédito, que está gerando um consumismo, e a pessoa que está consumindo, não
tem condição de agüentar. Se mudar o
vento lá fora em 24 horas esse dinheiro deixa o Brasil. E aí os efeitos serão brutais na
economia. Pois bem, mas esse homem por
hora atribui este “sucesso” ao Lula. O
Lula só fez uma coisa para favorecer esta parcela da população. Ele fez um irresponsável aumento das reservas
do Banco Central de 380 bilhões. Com
isso o estrangeiro venha porque se faltar dinheiro eu pago. Se quiser levar
embora é na hora. Esse homem que nunca
teve um bem de prestígio, o que ele está fazendo; o sujeito vai nas Casas
Bahia, tudo gente do povo comprando geladeira, computadores, coisas que no
tempo ele atribui a um consumo de classe b, ele é da classe c, então eu entrei
na classe b, e o Lula que me colocou na
classe b. Agora ele esquece que quando
ele faz isso a escola do filho dele é uma desgraça, que se não tiver um plano
de saúde é outro problema, mas na consciência dele ele não faz esta relação.
Ele pensa da seguinte forma agora eu ando de avião, tenho automóvel, e isso dá
ao Lula essa popularidade inacreditável que o Getúlio Vargas não teve.
JE – Em 2005 o sr. ajudou a fundar o Psol, sabemos que no
partido existem várias correntes, inclusive o sr. discordou da corrente do
Deputado Ivan Valente. Eu queria que o
sr. fizesse uma avaliação do Psol como partido e o que ele pensa para o Brasil?
Plínio Arruda Sampaio – O Psol é uma aposta. O Psol é uma incógnita. Pode ser que ele venha a ser um grande
partido, eu estou lutando dia e noite para isso, mas não é seguro. Não é seguro primeiro por uma razão, na
verdade o Psol é uma federação de pequenos partidos. Não é um partido unitário, ele está meio
praguejado pela briga interna. Ele tem uma contradição programática estratégica
muito forte, alguns aceitam a tese do PT de que nós não vamos direto para o
socialismo, temos que ter uma etapa intermediária, e que esse processo é uma
etapa de reformas. E outro grupo diz que
tem que colocar o socialismo na linha de frente direto que é a minha corrente. Eu pessoalmente defendo essa posição baseado em Florestan Fernandes.
Florestan diz o
seguinte: a burguesia brasileira vive um processo de contra revolução
permanente, ela não admite em hipótese nenhuma que o povo conquiste melhorias
por conta própria, ela pode até dar umas quirelas, mas ela não permite que o
povo brasileiro conquiste autonomamente. Aí ela fecha o processo. Foi assim em 1964 e 1930 e agora. Quero dizer
que essa estratégia é equivocada. Ela
não permite ao partido e nem a esquerda acumular, a idéia do socialismo é
perdida, pois estamos discutindo programinha.
O discurso dos meus adversários na última campanha, então eu defendo a
outra tese. O Psol tem esse problema lá
dentro. Esse debate seria muito salutar se não fosse usado como está para a
luta interna. Mas eu creio, tanto que eu
estou jogando todos os trunfos que eu tenho politicamente na construção do
partido e isso me deixa otimista em ralação as possibilidades, mas não é
seguro.
JE – Para fecha nossa entrevista eu queria que o sr. deixasse uma mensagem a população de São Roque.
Plínio de Arruda Sampaio – Primeiro é um prazer muito grande
estar aqui, e eu quero ajudar o meu candidato Luis Guilherme. Homem sério,
competente, engenheiro químico, filho de uma figura estelar da política de São
Roque, o pai dele é considerado por muitos o melhor prefeito que a cidade já
teve, portanto é uma figura que merece o voto do cidadão de São Roque. Eu conheço a cidade a muito tempo mora aqui
um grande amigo meu Dom Paulo Evaristo Arns, de modo que eu tenho uma atenção
muito especial pela cidade. Eu espero
que essa minha visita colabore para a construção do Psol aqui em São Roque e para a
eleição do meu amigo Luis Guilherme.
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