01/11/2011

Plínio de Arruda Sampaio, ex candidato a Presidência da República visitou São Roque.


do jornal da estância


Plínio de Arruda Sampaio, 81 anos, advogado, promotor público, candidato a Presidente da República em 2010, obtendo 888816 votos.  Foi secretário do Governo Carvalho Pinto e do prefeito Prestes Maia.  Em 1962 foi eleito deputado estadual pelo PDC, relator do projeto de reforma agrária que fazia parte das reformas de base do governo João Goulart.   Após o golpe de 64 foi um dos cem primeiros brasileiros a serem cassados pelo regime militar.  Viveu exilado no Chile, Estados Unidos, ajudou a fundar o PT foi eleito deputado constituinte saiu da legenda em 2005 para ajudar a fundar o PSOL.  Acompanhe a entrevista deste brasileiro que não só viveu como participou ativamente da vida política brasileira nos últimos 60 anos.

JE – O senhor que conhece profundamente a vida política do Brasil nos últimos sessenta anos, tendo  exercido vários cargos eletivos, como políticos. Qual a avaliação que o Sr. faz deste período?

Plínio de Arruda Sampaio – Nestes últimos sessenta anos aconteceram mudanças muito importantes.  Você tem um período até 1954, que é o segundo governo Vargas onde acontecem avanços significativos na consciência política do País, avança na industrialização, economia, sobretudo na participação política.  Em 1964 os militares rompem a legalidade democrática e instalam uma tremenda ditadura e cometem um grande erro, que aliás já havia sido cometido por Juscelino, mas eles agravam que é a entrada de capital estrangeiro no País, e essa ação contamina a indústria nacional.  Isto vai até a democratização.  Grande campanha popular.  Na democratização, nós temos numa primeira fase digamos uma grande esperança de participação, as diretas foi um fruto da enorme participação popular.  Mas depois o povo de certa maneira perdeu a esperança, porque os militares voltaram para o quartel e não aconteceu nada, entro o Sarney segurou a inflação, grande animação e não deu em nada.  Agora é o Lula, não deu em nada.  Então nós estamos vivendo, desde 2002 um período de queda da pressão de massa.  Nós estamos passando por uma fase muito difícil que aparentemente, o povo vai bem a economia vai bem, mas na verdade a economia vai muito mal, por que o País perde competitividade industrial, se desnacionaliza a sua indústria, e nós passamos de uma economia industrial para uma economia primária exportadora, que é uma economia mais dependente do que uma economia industrial.


JE – O sr. foi uma das cem primeiras pessoas cassadas pelo regime militar em 1964, partiu para o exílio no Chile inicialmente e depois foi para os EUA como representante da FAO, como é deixar sua Pátria e viver em um País estranho?


Plínio de Arruda Sampaio – Extremamente duro.  Costuma-se dizer o seguinte: o exílio fortalece os fortes e arrebenta os fracos.  Apesar de ser muito duro foi uma experiência bastante positiva, para mim e para minha família.  Foi um período de muito estudo eu aproveitei para rever todo minha filosofia política, e aprofundar os meus conhecimentos do Socialismo, foi lá que eu li Marx eu antes não tinha lido, estava na ação, fazíamos também um seminário toda a sexta feira a noite, nos reuníamos na minha casa os políticos de maior peso que estavam exilados no Chile.  Almino Alfonso, Fernando Henrique, Francisco Wefort, Jesus Vilares Pereira, Celso Furtado, discutíamos o Brasil.  E o que fazer com o Brasil.  E foi nestas reuniões que surgiu a idéia de criarmos um partido popular, ficou tudo combinado, durante os 12 anos de exílio não fizemos outra coisa senão estudar esse partido.  Chegando aqui a idéia inicial foi lancar a candidatura de FHC, porque ele podia ser candidato e nós não. Pelo fato de nós estarmos cassados, então o Fernando Henrique saiu.  A idéia era se tivermos mais de 1 milhão de votos, nós demonstramos a viabilidade do partido, e portanto temos condição de lançá-lo em seguida. No dia seguinte a vitória, vou cedo para a televisão e o repórter anúncia o senador que teve mais de 1,2 milhão de votos, o Fernando chega e diz assim; não podemos dividir o MDB, temos que manter a frente e divisionismo e fazemos isso porque a ditadura ainda está aí.  Não esperei nem ele sair da emissora, e liguei para ele e disse; o Fernando eu saí do barco, isso eu não aceito.  Aí o Aloysio mandou me chamar para ir a casa dele,  e me perguntou que candidatura eu queria, que seu quisesse ser prefeito eu seria,  se quiser ser candidato governador a legenda é sua.  Não a idéia não é essa, eu não acredito mais nesse grupo político.  Eu hoje sou um Socialista e não acredito mais nisso.  De modo que eu vou lutar em outra frente.  Então fiquei muito aborrecido e aceitei o contrato da FAO  e fui para Roma esfriar a cabeça.  Lá o Lula pediu ao Moyses que me telefonasse para que eu fizesse o Estatuto do PT e eu fiz. 


JE – O nome do partido que sr. tinha acordado com FHC e outras lideranças políticas era PSDP?


Plínio de Arruda Sampaio – Partido Socialista Democrático Popular. 

JE – O sr. é um dos fundadores do PT.  Militou no partido de 1980 até 2005, inclusive foi candidato ao Governo de São Paulo, suplente de Deputado Federal, assumiu o mandato do Suplicy e se elegeu Deputado Constituinte.  Qual a avaliação que sr. faz da fundação do PT, período em que militou no partido e como vê PT hoje.

Plínio de Arruda Sampaio – Eu que costumo dizer que não sai do PT, o PT que saiu de mim.  Por que eu continuei do jeito que nós fizemos quando fundamos.  O PT era um partido Socialista, revolucionário e contra a ordem estabelecida.  O partido foi gradualmente dando passos para a direita.  De 1980 a 1989 ele foi um partido Socialista pela base, era um partido popular, você tinha um processo de base fantástico.  Em 89 fizemos uma avaliação equivocada, achamos que a derrota foi um acidente de percurso, e iríamos ganhar a outra eleição sem maiores dificuldades, não foi assim, ganhou o FHC no primeiro turno.  Aí fizemos uma análise equivocada, que tínhamos perdido porque éramos rígidos em nossas alianças, tínhamos um discurso muito radical e uma presença política muito rebelde.  Eu fui contra essa análise, mas foi a que prevalecer. Então tinha que abrir aliança com pequeno e médio empresário que depois terminou no Gerdau, mas começou assim.  Em 1998, o Lula veio com uma conversa que não seria o candidato e eu falei, Lula você tem que ser o candidato, pois você é a única figura pública do partido.  Em todas as sedes do partido qual o retrato que tem?  É o seu não o meu.  Segundo, você que foi para a TV.  Todo projeto bom na constituinte você assinava para estar em evidência, então tem que ser você.  Mas você não vai ganhar, e se ganhar não vai levar.  Faça o seguinte, aproveita para dizer tudo denunciar a burguesia,  sobretudo anunciar o socialismo no Brasil.  O Brasil nunca ouviu falar em socialismo, a massa nunca ouviu falar.  Os coitados dos comunistas falavam, mas era tamanho pau em cima deles que eles não podiam sustentar a defesa da causa.  Fomos para a instância partidária para votar a minha proposta, aí eu perdi estourado.  Disseram que eu só falava besteira, estupidez. E arrumaram um marqueteiro para ele.  Em 2002 ele fez aquela barbaridade.  Desde 1994 que eu estou meio no ostracismo, por isso não aceitei  coordenar a campanha, mas ainda assim fiz um esforço, vou ser candidato a presidente do partido, porque eu viro isso.  Fui e ganharia o direito de disputar o segundo turno se só militantes votassem, mas é impossível você ganhar no PT com 600 mil filiados votando e muitos grupos ligados a este ou aquele deputado.  Resultado eu falei não, isso não é mais democrático, a democracia tem que dar chance de virada, se eu não tenho chance de virar o que estou fazendo aqui. Mesmo assim eu aceitei o convite do Lula, ele não acreditou muito.  Olha Plínio você não quer fazer parte do Consea, e você não faz para mim o plano de Reforma Agrária? Faço.  Fiz, reuni um grupo de nossos amigos, e fizemos o plano. O planejamento era de 1 milhão de assentados em quatro anos ao custo de 24 bilhões de reais, passava além do FMI, aí o Ministério da Fazenda vetou.  Tentei falar com o Lula e ele se esquivou, não me recebeu.  Bom esse discurso foi o discurso que eu fiz nessa campanha.  Não vai ter voto, você perde.  O povo não está preparado para ouvir uma mensagem socialista.  Não está, mas aquilo precisa ficar na memória dele.  Porque amanhã o que você estiver dizendo for comprovado na prática, você vai ter.  Citei o exemplo do De Gaulle.  O dia que o De Gaulle fez o apelo para os franceses votarem se ele disputasse a eleição com o Marechal Pétain ele perdia.  Pois o francês estava com mais medo do comunismo do que do alemão.  Dois anos depois acabou e ele virou o grande líder.  Churchil esteve em 1933 na Alemanha, viu Hitler voltou apavorado e disse: gente este homem vai se armar e bater em nós. Ninguém queria ouvir falar disso na Inglaterra. No auge da crise foi colocado de lado e ficou num ostracismo total.  Pois bem, quando Chamberlain voltou desmoralizado só tinha uma pessoa para dirigir.  É a mesma coisa Lula, você é moço espera aí 10 a 15 anos e vão buscar você na sua casa.  Aí você comanda este País tranqüilo.  Ele ficou muito impressionado, mas não teve coragem. Aí negócio de empreiteiras, enfim ganhou.  Não fez nada.  Então o que acontece, você tem hoje um País aparentemente em uma situação boa, na realidade em uma situação péssima.  O Lula irresponsavelmente ta pegando um dinheirão que está vindo na mão dele sem que ele tenha feito nada.  É uma coincidência que a crise mundial joga dinheiro aqui, porque o capital estrangeiro não tendo onde aplicar lá vem tudo para cá para ter valorização financeira.  Temos uma taxa de juro altíssima e eles entram aqui, como estão indo para a África do Sul, Índia e China.  Isso permite ao Brasil uma folga cambial muito grande, o que lhe dá uma folga orçamentária. Em vez de pegar essa folga orçamentária e fazer um processo de solidificação da economia, não, está jogando isso na Bolsa Família, sobretudo no crédito, que está gerando um consumismo, e a pessoa que está consumindo, não tem condição de agüentar.  Se mudar o vento lá fora em 24 horas esse dinheiro deixa o Brasil.  E aí os efeitos serão brutais na economia.  Pois bem, mas esse homem por hora atribui este “sucesso” ao Lula.  O Lula só fez uma coisa para favorecer esta parcela da população.  Ele fez um irresponsável aumento das reservas do Banco Central de 380 bilhões.  Com isso o estrangeiro venha porque se faltar dinheiro eu pago. Se quiser levar embora é na hora.  Esse homem que nunca teve um bem de prestígio, o que ele está fazendo; o sujeito vai nas Casas Bahia, tudo gente do povo comprando geladeira, computadores, coisas que no tempo ele atribui a um consumo de classe b, ele é da classe c, então eu entrei na classe b, e  o Lula que me colocou na classe b.  Agora ele esquece que quando ele faz isso a escola do filho dele é uma desgraça, que se não tiver um plano de saúde é outro problema, mas na consciência dele ele não faz esta relação. Ele pensa da seguinte forma agora eu ando de avião, tenho automóvel, e isso dá ao Lula essa popularidade inacreditável que o Getúlio Vargas não teve.

JE – Em 2005 o sr. ajudou a fundar o Psol, sabemos que no partido existem várias correntes, inclusive o sr. discordou da corrente do Deputado Ivan Valente.  Eu queria que o sr. fizesse uma avaliação do Psol como partido e o que ele pensa para o Brasil?

Plínio Arruda Sampaio – O Psol é uma aposta.  O Psol é uma incógnita.  Pode ser que ele venha a ser um grande partido, eu estou lutando dia e noite para isso, mas não é seguro.  Não é seguro primeiro por uma razão, na verdade o Psol é uma federação de pequenos partidos.  Não é um partido unitário, ele está meio praguejado pela briga interna. Ele tem uma contradição programática estratégica muito forte, alguns aceitam a tese do PT de que nós não vamos direto para o socialismo, temos que ter uma etapa intermediária, e que esse processo é uma etapa de reformas.  E outro grupo diz que tem que colocar o socialismo na linha de frente direto que é a minha corrente.  Eu pessoalmente defendo essa posição baseado em Florestan Fernandes.  Florestan diz o seguinte: a burguesia brasileira vive um processo de contra revolução permanente, ela não admite em hipótese nenhuma que o povo conquiste melhorias por conta própria, ela pode até dar umas quirelas, mas ela não permite que o povo brasileiro conquiste autonomamente. Aí ela fecha o processo.  Foi assim em 1964 e 1930 e agora. Quero dizer que essa estratégia é equivocada.  Ela não permite ao partido e nem a esquerda acumular, a idéia do socialismo é perdida, pois estamos discutindo programinha.  O discurso dos meus adversários na última campanha, então eu defendo a outra tese.  O Psol tem esse problema lá dentro. Esse debate seria muito salutar se não fosse usado como está para a luta interna.  Mas eu creio, tanto que eu estou jogando todos os trunfos que eu tenho politicamente na construção do partido e isso me deixa otimista em ralação as possibilidades, mas não é seguro.


JE – Para fecha nossa entrevista eu queria que o sr. deixasse uma mensagem a população de São Roque.

Plínio de Arruda Sampaio – Primeiro é um prazer muito grande estar aqui, e eu quero ajudar o meu candidato Luis Guilherme. Homem sério, competente, engenheiro químico, filho de uma figura estelar da política de São Roque, o pai dele é considerado por muitos o melhor prefeito que a cidade já teve, portanto é uma figura que merece o voto do cidadão de São Roque.  Eu conheço a cidade a muito tempo mora aqui um grande amigo meu Dom Paulo Evaristo Arns, de modo que eu tenho uma atenção muito especial pela cidade.  Eu espero que essa minha visita colabore para a construção do Psol aqui em São Roque e para a eleição do meu amigo Luis Guilherme.


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