Pré-candidato a prefeito é preso em aeroporto



Em Viracopos, Paulo Estausia (PT) foi flagrado com um carregador de pistola, de uso restrito, dentro da mochila
 Jornal Cruzeiro do Sul
Marcelo Andrade
marcelo.andrade@jcruzeiro.com.br

Carlos Araújo
carlos.araujo@jcruzeiro.com.br

O pré-candidato a prefeito de Sorocaba pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Paulo João Estausia, 48 anos, foi preso anteontem no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas. O sindicalista foi flagrado com um carregador de uma pistola calibre 9 milímetros desmuniciado, de uso restrito das Forças Armadas, acondicionado no interior de sua mochila. Ele foi preso em flagrante acusado de porte ilegal de arma e vai responder pelo crime em liberdade. Uma máquina de choque também foi encontrada na bagagem de mão do sindicalista. O acusado alegou ter achado o carregador jogado numa rua, em Sorocaba. A lei 10.826 abrange armas, munição e equipamentos. O voo de Estausia tinha como destino o Rio de Janeiro.

A notícia pegou o diretório municipal do PT de surpresa. Tanto que a executiva do partido se reuniu ontem à tarde às pressas e decidiu manter o processo de eleição prévia para a escolha do representante petista na disputa para a Prefeitura. Os 988 filiados terão o poder de escolher Estausia ou Iara Bernardi nas urnas, no domingo, em votação feita na sede do Diretório Municipal. O presidente do diretório municipal do PT, José Carlos Triniti Fernandes, diz que a prisão de Estausia abalou o PT em Sorocaba. "Queira ou não, esse tipo de caso cria um mal-estar, principalmente nessa época de prévias eleitorais", diz.

O vereador Izidio de Brito (PT) disse ter conversado com Estausia anteontem, por telefone, por volta das 20h, mas não comentou sobre a prisão. "Conversamos sobre a eleição interna do partido e nada mais. Eu já sabia da detenção, mas preferi não entrar em detalhes para evitar algum tipo de constrangimento.", diz Brito. A pré-candidata Iara Bernardi soube ontem de manhã da detenção de seu concorrente nas urnas. "Não sei de muitos detalhes, mas só posso lamentar", relata.

O chefe dos investigadores da Delegacia de Polícia Civil do Aeroporto Internacional de Viracopos, Durval Ramos, acompanhou a detenção de Estausia. Segundo ele, o acusado não ofereceu resistência e disse em depoimento ter achado o carregador em uma via pública, três dias antes do embarque. O carregador foi visto por funcionários da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) durante a passagem da mochila pelo aparelho de raio X. Policiais federais foram chamados ao local e encaminharam o acusado à Polícia Civil para ser autuado em flagrante. Segundo Ramos, dentro da mochila também foi encontrada uma peruca. "Mas não vejo relação com o crime", comenta.
O advogado de Estausia esteve na Polícia Civil e conseguiu anteontem, por volta das 19h, a liberação de seu cliente.
 
Boletim de ocorrência 
O boletim de ocorrência descreve que Estausia foi preso no setor de embarque doméstico. O carregador de pistola e a máquina de choque estavam na bagagem de mão do sindicalista. Estausia não tinha registro ou qualquer autorização legal para portar o equipamento (carregador). O agente de apoio da Infraero avisou os policiais federais do aeroporto e ele foi levado para o 2º Distrito Policial (Polícia Civil) de Campinas, e preso pela delegada Isabella Sguerra Vita Bossler.
 
O que diz o sindicalista 
Em entrevista no início da noite de ontem, Estausia reiterou que à 1h de quarta-feira achou o carregador no chão, próximo ao canteiro em torno de uma árvore no estacionamento de um hipermercado: "Eu imagino que possa ter caído do bolso de alguém." No caminho até sua casa, pretendia entregá-lo a policiais em uma viatura, mas não cruzou com nenhuma unidade. Guardou o carregador na mochila. Quando saiu de casa pela manhã, sua intenção ainda era entregar o equipamento a uma autoridade, em vez disso dirigiu-se ao aeroporto de Viracopos para viajar. O voo estava marcado para as 10h10. Na capital carioca, tinha encontro de negociação representando os trabalhadores aeroviários com as companhias aéreas. Ele também é presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes (CNTT).

Como ele voltaria a Sorocaba no mesmo dia, na mochila só havia objetos pessoais e o carregador, que ele esqueceu ali: "Esqueci no compromisso de entregar (o carregador à polícia), no raio X fui surpreendido, eu também não lembrava. O raio X constatou e eu fui convidado a abrir a mochila. E eu, com toda boa vontade, mostrando tudo o que tinha na mochila. Eu mesmo fui surpreendido. Peguei o carregador dentro da mochila, fiquei surpreendido, eu não lembrei que aquele carregador estava ali."

Ele negou que tenha sido preso ou detido: "Eu fui encaminhado até a delegacia local, dentro do aeroporto, e fiquei na sala aguardando os procedimentos jurídicos: boletim de ocorrência, interrogatório, todo o desfecho." Eram 9h40 quando o raio X detectou o carregador. Foi liberado por volta das 18h30, sem precisar pagar fiança.

Sobre a sua disputa na prévia do PT para a escolha do candidato do partido a prefeito, referindo-se ao episódio em Viracopos, disse: "Na minha avaliação esse é um episódio bastante irrelevante para especulação. Isso não me prejudica. Eu estou em Sorocaba representando a categoria do transporte há 20 anos. E a nossa representação é reconhecida como a melhor do país em todo o Brasil. Foi uma fatalidade, foi um descuido, mas não há nenhum destaque de imoralidade da minha pessoa nesse acontecido. E, deixando claro, que um carregador vazio."

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