PF afirma que homens do Denarc e do Deic liberaram
presos após propina
Segundo investigação, escutas mostram três ocasiões
em que policiais civis paulistas extorquem criminosos
ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Policiais civis de São Paulo são investigados sob
suspeita de exigir propinas milionárias de traficantes internacionais em
atividade no Brasil.
Ao menos 12 policiais do Denarc (departamento de
narcóticos) e do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais),
considerados órgãos de elite da Polícia Civil, estão na mira.
Segundo 1.771 páginas de documentos sigilosos do
Gise-SP (Grupo Especial de Investigações Sensíveis em São Paulo), da Polícia
Federal, esses policiais pegaram R$ 3 milhões dos traficantes, entre dólares,
reais, carros e armas.
Trata-se de um valor superior aos R$ 2,5 milhões
que o megatraficante colombiano Juan Carlos Abadia diz ter pago a policiais
civis paulistas antes de ser preso, em 2007.
As extorsões ocorreram entre agosto de 2010 e março
deste ano, diz o inquérito.
Segundo os federais, as propinas foram exigidas
para livrar quatro criminosos da prisão -um deles, João Alves de Oliveira, o
Batista, tido como chefe de uma quadrilha internacional de traficantes.
Ainda segundo a investigação, traficantes eram
pegos e mantidos reféns dentro das sedes do Denarc e do Deic sem que houvesse
registro oficial de que estivessem ali. Acabavam liberados após o acerto,
afirma a investigação.
As negociações das propinas para os policiais foram
feitas, segundo a PF, pelo advogado André Luiz Bicalho Ferreira. Há conversas
telefônicas gravadas com autorização da Justiça e imagens captadas pelos
agentes federais.
Em 8 de novembro de 2010, os federais fotografaram
a hora em que, diz o inquérito, um traficante leva R$ 500 mil de propina para o
advogado Ferreira, que está com policiais ao lado do prédio do Deic, na zona
norte de São Paulo. O dinheiro serviu, afirma a PF, para liberar o traficante
Batista.
Em março de 2011, Batista aparece num grampo
conversando com o advogado a respeito de outro traficante preso. "Pegaram
ele e estão levando para o prédio lá", afirma Batista. O advogado
pergunta: "Mas qual prédio?". Ele responde: "Denarc".
Em seguida, segundo a PF, Ferreira repassa a
proposta dos policiais civis: "Os caras estão querendo fazer aqui o
seguinte: 100 [mil] para amanhã; daqui 15 dias, 50 [mil]; mais 15 dias, 50
[mil]; mais 15 dias, 100 [mil]; mais 15 dias, 100 [mil]. [Total de] 400
[mil]".
Até agora, os policiais civis não foram presos
porque isso alertaria os traficantes. A operação, que começou em junho de 2010,
já prendeu 105 pessoas -entre elas os líderes da quadrilha internacional- e
apreendeu 9,5 toneladas de drogas (4,3 t de cocaína).
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