Falta de peritos ajuda a complicar trânsito na capital


SP tem só seis especialistas por turno para todos os acidentes na cidade; demanda desnecessária complica ainda mais a situação


Bruno Ribeiro - Estado de S.Paulo
Excesso de veículos, transporte público deficitário, vias congestionadas. Se já não bastassem esses velhos problemas, o trânsito da capital paulista tem sofrido com um fator que, a princípio, não tem nenhuma ligação com o planejamento urbano: faltam peritos criminais na cidade.
Eles têm a palavra final para liberar uma via caso seja interditada por um acidente de trânsito com vítimas – mortos ou feridos. Como a polícia precisa descobrir se o acidente teve um responsável – para indiciá-lo, se for o caso –, ela precisa de provas técnicas. Assim, é pedido laudo para a Polícia Técnico-Científica. E os locais de perícia têm de ser isolados até que esses técnicos terminem suas análises.

O engavetamento ocorrido na madrugada de ontem na Marginal do Tietê, por exemplo, deixou duas faixas interditadas por 10 horas. Tudo começou quando um caminhão roubado na Lapa, na zona oeste, bateu em 11 carros enquanto o motorista fugia da polícia. O acidente aconteceu às 20h de anteontem, mas os peritos só chegaram ao local às 2h de ontem. As duas faixas interditadas, no sentido Ayrton Senna, só foram liberadas às 6h.

Os peritos somam 1.170 em todo o Estado. O número não aumenta desde 1992, segundo o Sindicato dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo (Sinpcresp). A frota de veículos, só nos últimos três anos, cresceu 20% e ultrapassa 7,1 milhões.

O resultado da combinação desses números é que, somente nas duas primeiras semanas deste ano, houve quatro acidentes que se arrastaram por causa de demora na perícia – o tempo de espera para a liberação das vias chegou a 16 horas, se somados os quatro episódios.

Expediente. Segundo o Sinpcresp, há apenas seis peritos por plantão de 12 horas para atender exclusivamente os acidentes de trânsito na capital. “Mesmo com a sirene, se você está na zona leste e precisa ir para a zona sul, vai demorar. E a rua já está interditada há algumas horas quando você chega”, diz Carlos Coana, da diretoria do Sinpcresp.

Peritos que pediram para não ter o nome publicado dizem que os agentes saem com uma lista de requisições para atender e que, no fim do dia, não conseguem fazer todas. As que não foram realizadas ficam para o próximo expediente. E, caso aconteça algum acidente de trânsito, têm de interromper o restante dos atendimentos para ir ao local da colisão.

O superintendente da Polícia Técnico-Científica, Celso Perioli, no entanto, não concorda que haja poucos peritos no Estado. Mas afirma que o governo já aprovou a realização de concursos públicos – não só para peritos, mas para outros agentes especializados, como médicos legistas, desenhistas, fotógrafos e pessoal para cargos administrativos. Somando todas as categorias, a instituição tem pouco mais de 3,2 mil agentes. A promessa é de que o número seja acrescido de mais mil pessoas ainda neste ano.

Burocracia. A tramitação dos pedidos de perícia também atrapalha o processo. Ela só pode ser solicitada por um delegado. E ele só é avisado de um acidente pessoalmente, por um PM. Esse “leva e traz” entre as polícias também pode demorar horas.

O delegado-geral da Polícia Civil, Marcos Carneiro de Lima, diz que uma portaria permite, há 12 anos, que o delegado possa ser notificado sobre essas ocorrências sem que um PM tenha de ir até o distrito. “O policial avisa o Copom (Comando de Policiamento Militar) e o Copom avisa o Cepol (Central de Comunicação da Polícia Civil), que avisa tanto o delegado da região quanto a Superintendência da Polícia Técnico-Científica”, diz Carneiro.


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