Dados do Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que Sorocaba possui 178.777 chefes de família, dos quais 112.118 são homens e 66.659 são mulheres. Ou seja, desse universo, 37,28% dos lares da cidade têm na mulher a responsabilidade pelo sustento dos filhos - e de si própria - e pela manutenção da infraestrutura da casa.
O curioso é que outro levantamento, feito pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade-SP), indica que as mulheres já representam 37% dos trabalhadores com carteira assinada em Sorocaba. Das 176.551 pessoas que possuem vínculo empregatício formal na cidade, 66.363 são do sexo feminino. Os números são parecidos e conclusivos.
Para o professor Alexander Itria, doutor em economia, a pesquisa mostra que a configuração familiar está mudando, sendo que diversas mulheres passaram a assumir o papel de chefes de família.
O rendimento médio das trabalhadoras sorocabanas é R$ 1.407,08. Itria lembra que embora as mulheres ainda possuam remuneração menor que a dos homens, a diferença salarial vem caindo. O setor industrial é o que paga mais às mulheres, em média R$ 1.672,58, o que para o economista, é apenas um reflexo do fato de que as melhores remunerações atualmente são oferecidas pela indústria.
Do total de mulheres que trabalham com carteira assinada, 34.696 atuam em serviços, 14.251 na indústria, 781 na construção civil e 110 na agropecuária. A escolha das mulheres pelo setor de serviços também foi apontada pelo "Anuário das Mulheres Brasileira", produzido pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com dados de 2009. De acordo com o relatório, as mulheres ocupadas foram maioria nos setores relacionados aos serviços de cuidados, como educação, saúde e serviços sociais, alojamento e alimentação, além dos serviços domésticos. "Historicamente, a cultura de nossa sociedade denominou o sexo feminino como frágil, numa sociedade industrial não havia muito espaço para as mulheres. Hoje o setor de serviços exige pouco esforço de força humana, sendo assim as mulheres podem ter maior perspectiva nele", explica o economista.
A chefe de família Sandra Regina dos Santos, sustenta os sete filhos - o maior tem 21 anos e o menor 3 anos - com o salário que recebe como auxiliar de limpeza. Além de trabalhar para uma empresa terceirizada que realiza a limpeza do prédio da Secretaria de Educação do Município, ela ainda faz faxinas na casa dos funcionários do local, aos fins de semana. Os dias de Sandra são ocupados: das 7h às 17h trabalha na secretaria, depois vai direto para a escola onde está terminado o ensino fundamental, ao chegar em casa por volta das 19h ainda faz os serviços domésticos. Apesar da rotina cansativa, a auxiliar de limpeza se diz feliz. "Sou mãe e pai, mas é muito gostoso. Minha família é muito unida, e se ganhasse na Mega Sena teria mais sete filhos", brinca.
Outra mulher que precisou assumir o papel de chefe de família foi Maria Augusta Amorim, 57 anos. Ao se separar do marido, há 17 anos, ela precisou cuidar das duas filhas e um filho com o salário de R$ 225, que recebia ao mês em um restaurante industrial. "Criei eles sozinha, sem ajuda de pensão", lembra. Maria conta que apesar das dificuldades financeiras, fez o que pode para que os filhos continuassem estudando. Hoje com idades entre 31 e 27 anos, são eles que sustentam a casa, pois a mãe está afastada do trabalho por problemas de saúde. Maria conta que está satisfeita com o que os filhos conquistaram. "Tudo valeu a pena. Meus filhos são maravilhosos", afirma.
Igualdade
Segundo o anuário do Dieese as mulheres são responsáveis por quase metade da renda familiar, 47,9%. Para os pesquisadores esses resultados ajudam a desfazer o mito de que o homem é o único provedor das famílias. O economista Itria lembra que o fato de termos residências onde marido e mulher trabalham com a mesma remuneração acarreta um forte impacto de consumo. Ele ressalta ainda que os padrões de consumo feminino e masculino são diferentes. "Isso abriria novas perspectivas para diversas empresas", cogita.
A diretora de recursos humanos da Flextronics, Vânia Silva, 37 anos, contribui com metade dos rendimentos de sua casa. Formada em engenharia elétrica e pós graduada em recursos humanos, Vânia trabalha há dois anos e meio na empresa, onde procura promover a diversidade de gênero. "As equipes são muito mais produtivas quando possuem homens e mulheres", justifica.
Vânia relata que não sente preconceito no local de trabalho. "Aqui na empresa 50% dos funcionários são mulheres", diz. Para a diretora, conciliar trabalho e vida doméstica não é difícil, especialmente porque conta com o apoio o marido. "Me sinto muito realizada", conta. Vânia, que tem planos de ter o primeiro filho em breve, não tem vontade de se afastar de suas funções. "Minha mãe parou de trabalhar quando eu nasci e só voltou quando eu tinha 12 anos, mas eu não pretendo parar", conclui. (supervisão Aldo Fogaça)
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