As campanhas do ‘eu sozinho’




Eleição deveria ser sinônimo de disputa, escolha ou algo que envolvesse pelo menos dois concorrentes, não é? Não. No Estado de São Paulo existem 18 cidades em que a prefeitura é almejada por apenas um candidato. No Brasil, há outros 105 municípios com apenas uma opção no cardápio – ou 2,2% dos total de5.568.
No caso paulista, as cidades tem um perfil bem definido: são pequenas, com poucos eleitores e distantes da capital. Em muitos casos, os candidatos são prefeitos em busca de reeleição ou lideranças que já estiveram no comando da administração por um ou dois mandatos. As alianças são amplas e, em alguns casos, “abraçam” todos os partidos constituídos na localidade.
Em Regente Feijó, a 547 km da capital, há aproximadamente 15 mil eleitores. O atual prefeito é Arlindo Eduardo Fantini (PTB) – que está terminando seu segundo mandato. O concorrente solitário, Marco Rocha (PSDB) também já foi prefeito de dois mandatos e é apoiado pelo atual ocupante do cargo (que já havia trabalhado na administração de Rocha) .
“Pra mim é uma novidade fazer uma campanha sozinho. Na verdade, fico até lisonjeado. Quando coloquei meu nome, a oposição achou que não teria chance”, disse o candidato único. O arco de alianças de Rocha tem PRB, PP, PDT, PSB, PSDB e PSD. “Sim, claro que existe oposição. Tem o PT e o PMDB, mas eles apenas terão candidatos à Câmara”, explica o concorrente tucano.
Ainda assim, Rocha garante que vai às ruas fazer campanha. “Vamos explicar para a população quais são as nossas ideias e projetos para a cidade. Também tenho o dever de ajudar a nossa chapa de vereadores.”
Sem oposição
No caso de Junqueirópolis, cidade que fica a 645 km da capital e tem cerca de 13 mil eleitores, o que mais chama atenção é a diversidade da aliança que em torno do candidato Hélio Furini (PSDB): PP, PT, PTB, PMDB, PSC, PR, PPS, PSB, PV e PSDB. Ou seja, todos os partidos com representatividade no município – inclusive o PT.
“Aqui em Junqueirópolis a gente se relaciona bem. O meu vice é do PT. Em outro mandato (Furini também já foi prefeito), meu secretário de educação era do PT também”. O PT estadual, porém, seria contrário à coligação com os tucanos e teria ameaçado intervenção.
Assim como em Regente Feijó, o candidato único de Junqueirópolis também vai sair em campanha. “Os partidos são independentes. Haverá disputa para vereador”, diz Furini. “Acho que a campanha fica mais positiva, com apresentação de propostas.”
O presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, vê na falta de disputa um sinal do desestímulo às candidaturas em municípios pequenos. “As pessoas estão se afastando da vida partidária porque o sujeito entra na prefeitura e, no outro dia, já é ladrão”, analisa.
Dados do TSE mostram que, na campanha municipal anterior, em 2008, 180 municípios escolheram seus prefeitos sem disputa. Os números oscilam a cada eleição, sem uma tendência de crescimento ou de queda. É um fenômeno suprapartidário: os candidatos únicos desta eleição estão filiados a nove partidos diferentes.
Campanha bilionária
A listagem do tribunal revela também que, onde vai haver disputa, os candidatos declararam a intenção de gastar R$ 11,9 bilhões para serem eleitos. O orçamento das campanhas de prefeitos equivale à metade dos gastos do programa Bolsa Família, de distribuição de renda, durante o ano.
“Isso é quanto os candidatos declaram, para cumprir uma exigência da lei, mas o valor real gasto nas campanhas é infinitamente maior”, avalia Ziulkoski. Ainda de acordo com dados tabulados pela CNM, apenas uma minoria (12,4%) dos candidatos é do sexo feminino.
Disputam as eleições deste ano 15.261 pessoas, já descontadas as inscrições negadas pela Justiça Eleitoral. O número, porém, pode se reduzir mais com impugnações de candidaturas até o início de agosto.

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