Chefe de UTI de hospital do PR não antecipou mortes, diz defesa


Folha de São Paulo

O advogado da médica Virgínia Helena Soares de Souza, indiciada sob suspeita de provocar a morte de pacientes na UTI do Hospital Evangélico de Curitiba, afirmou que a polícia não tem meios científicos para embasar as acusações contra sua cliente.

Em entrevista à Folha, Elias Mattar Assad sustenta que os laudos das vítimas apontam, até aqui, que as condições dos corpos condizem com as causas indicadas no atestado de óbito, e não comprovariam, portanto, uso de anestésicos ou outros medicamentos para antecipar a morte.
Para ele, os depoimentos de testemunhas "podem nada ou muito pouco" para provar a materialidade dos crimes.
Assad sustenta que este é "o maior erro investigativo, judiciário e midiático" dos últimos anos no país.
Além de Virgínia, a chefe da UTI, estão presos outros quatro funcionários do Hospital Evangélico (veja quadro).(ESTELITA HASS CARAZZAI)
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O sr. diz que faltam evidências científicas ao inquérito.
Não há meios científicos que possam embasar uma conclusão como a que chegaram a autoridade judiciária e a polícia.
Mas o decreto de prisão da sua cliente diz que o laudo cadavérico das vítimas permite a "subsunção sumária" [presume-se que o fato tem procedência] das denúncias...
Isso é uma prova de desconhecimento de medicina legal. Os laudos dizem que os pulmões estavam "armados, congestos ou hepatizados". É justamente o contrário: pessoas que apresentaram aquela causa mortis obrigatoriamente terão seus pulmões desta forma.
Todos os atos praticados nesses pacientes foram atos médicos estritamente científicos, fundamentados na literatura médica.
É justamente nesses aspectos que vamos nos apegar para demonstrar que este caso se converterá no maior exemplo de erro investigativo, judiciário e midiático dos últimos anos no país.
O Ministério Público afirma que há uma possibilidade de alteração dos prontuários médicos. Qual a garantia de que isso não ocorreu?
Só se for por eles [polícia]. Porque veja bem: eles foram ao hospital, arrecadaram os prontuários médicos originais e não deixaram cópias. Se houver alguma alteração, a culpa é de quem levou os originais.
Os depoimentos em que se fundamenta a polícia são bastante contundentes. Eles não são provas?
Não, porque a prova testemunhal não pode tudo. São delitos que necessitam de provas científicas e materiais para acusação. A prova testemunhal aí não pode nada, ou pode pouco.
Mas então a que atribuir esses depoimentos?
As pessoas mal compreenderam, se assustaram, se impressionaram e estão emitindo suas opiniões.
Mas elas têm um estudo científico para saber o que se passava realmente ali?
Se aquele ato de reduzir parâmetros do respirador era comum ou não, necessário ou não?
As escutas citadas pela polícia mostram frases bastante contundentes da sua cliente, como "O próximo que vamos desligar é o Fulano" ou "Não adianta entulhar a UTI; tem que girar".
São, mas quero fazer uma ressalva: nós não temos os áudios originais. Ela está duvidando de algumas coisas. Nós temos que fazer o confronto entre o que está no papel e o que está no áudio.
Além disso, tudo o que ela falou são jargões próprios de UTI. Se uma pessoa não tem mais como continuar viva e está morrendo, vai morrer!
Agora, daí a fazer uma suposição de que essas mortes eram antecipadas... Isso não aconteceu.
O inquérito também levanta a possibilidade de que ela agiria para "economizar tempo e dinheiro".
Eu perguntei para ela como ela é paga. Ela me disse: "Eu ganho por leito. Se tem 14 leitos, eu ganho pelos 14 leitos. Se ficam vazios, eu não ganho. Mas, para mim, é a mesma coisa tirar um e pôr outro no lugar".
Apressar o óbito [de um paciente] não aumentaria a renda dela.
Editoria de Arte/Folhapress

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