Liquidação foi motivada por 'graves violações às normas legais e estatutárias que disciplinam a atividade'
Célia Froufe, Eduardo Cucolo e Murilo Rodrigues Alves, da Agência Estado
BRASÍLIA - Epicentro do chamado "núcleo financeiro" do escândalo do mensalão, o Banco Rural teve sua liquidação decretada pelo Banco Central.
O BC ressaltou também a existência de "graves violações" às normas legais e de estatuto do setor e os "sucessivos prejuízos" como motivos para a ação. Ao apresentar recorrentemente balanços no vermelho, a instituição sujeitava os credores a um "risco anormal". Segundo o BC, pesou também na tomada de decisão, a falta de um plano viável para a recuperação da situação do banco.A instituição, controlada pela família Rabello, apresentava comprometimento da situação econômico-financeira. Em 2005, o banco foi acusado de abrir e manter contas de pessoas e empresas ligadas ao maior escândalo de corrupção da história do País.
Com a ação, os bens dos controladores e ex-administradores do Rural, um total de 18 pessoas, ficam indisponíveis. A liquidação atinge ainda as demais empresas que fazem parte do conglomerado financeiro: o Banco Rural de Investimentos S/A; o Banco Rural Mais; o Banco Simples; e a Rural DTVM.
Ao contrário do que acontece usualmente com instituições em dificuldade, o BC optou desta vez por decretar a liquidação diretamente, sem passar antes pelo trâmite burocrático de intervenção na instituição financeira. Segundo fontes com conhecimento do processo, metade dos depósitos do Rural será coberta pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
Esquema. O Rural alimentou o mensalão, emprestando recursos para o PT e para a agência de propaganda do publicitário Marcos Valério, como ficou comprovado no julgamento da ação penal 470. Três dirigentes da instituição foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A ex-presidente do banco Kátia Rabello e o ex-vice-presidente José Roberto Salgado foram condenados por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e evasão de divisas. No caso do ex-vice-presidente Vinícius Samarane, a condenação foi por lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta.
Antes disso, em 1992, o Rural também teve o nome envolvido nas investigações que culminaram no processo de impeachment do então presidente Fernando Collor. A Comissão Parlamentar de Inquérito, aberta no Congresso Nacional, concluiu que o Rural atuou de forma decisiva no esquema capitaneado por PC Farias. Era do Rural, por exemplo, o cheque que comprou o Fiat Elba, símbolo das investigações contra o governo Collor.
Segundo o BC, o conglomerado financeiro Rural detinha 0,07% dos ativos e 0,13% dos depósitos do sistema financeiro em março de 2013. O BC informou que está tomando todas as "medidas cabíveis" para apurar as responsabilidades.
História. O Banco Rural surgiu no início da década de 1960, com o nome de Banco Rural de Minas Gerais. O nome atual foi adotado quase 20 anos depois. Em 1976, o empresário Sabino Rabello assumiu a presidência do banco. Em 2001, o comando da instituição passou para sua filha, Kátia Rabello, que recebeu a quarta maior pena no julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF).
As denúncias do mensalão tiveram início em 2005 e as penas foram anunciadas no ano passado. Em maio deste ano, os advogados de Kátia pediram, em recurso apresentado ao STF, a redução das penas aplicadas à ex-presidente do banco, que somam mais de 16 anos.
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