Machado e Renan tinham 'esquemão' para atender PMDB, diz Delcídio

29/05/2016 17h37 - Atualizado em 29/05/2016 20h17


Segundo senador cassado, os dois atendiam interesses da sigla no Senado.
Assessorias de Renan e Machado não se manifestaram sobre o caso.

Andreia SadiDa GloboNews
Andreia SadiDa GloboNews

x-líder do governo no Senado, o senador cassado Delcídio do Amaral (sem partido-MS) disse neste sábado (28) em entrevista exclusiva à GloboNews que o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado era “prioridade absoluta’’ do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na residência oficial do peemedebista. Delcídio relatou episódios em que o presidente do Senado suspendia reuniões com outras pessoas para atender Machado.

Delcídio teve o mandato cassado no último dia 10. Ele foi preso em novembro de 2015 por suspeita de tentar atrapalhar as investigações da operação Lava Jato e deixou a prisão em fevereiro deste ano. Desde então, ele é mantido em recolhimento domiliar.

A cassação de Delcídio ocorreu após parlamentares descobrirem que ele havia firmado acordo dedelação premiada. Na colaboração, ele fez revelações envolvendo diversos ex-colegas de parlamento, como o próprio Renan, o que irritou os senadores. Delcídio atribui a rapidez de sua cassação, antes da votação no Senado do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, a uma “vingança’’ do presidente da Casa.
 
Delcídio, como senador, era um dos principais parlamentares do Congresso. Ele tinha livre acesso a deputados e senadores de diversos partidos, e atuava como líder do governo de Dilma Rousseff. Como líder, frequentava o Palácio do Planalto, da Alvorada e também a residência oficial do Senado.
Segundo o parlamentar cassado, as reuniões de Renan com Machado, que também fechou acordo de delação premiada, na residência oficial “eram frequentes’’. Ele diz que a dupla formava um ‘’esquemão fidelizado’’. De acordo com Delcídio, Sérgio era "blindado pelo Renan". "Ninguém encostava nele. Sérgio era totalmente fidelizado a Renan’’, disse. “Sérgio era o cara que fazia a interlocução com os donos das empresas, e outros operavam financeiramente para Renan”, completou.

Para manter o que chamou de "hegemonia", segundo Delcídio, Renan usava o ex-presidente da Transpetro para atender outros parlamentares da cúpula do PMDB no Senado, como Romero Jucá (RR), Valdir Raupp (RR), José Sarney (AP) e Edison Lobão (MA).

A assessoria jurídica de Sérgio Machado informou que não vai se manifestar por causa do sigilo do processo de delação premiada que ele assinou.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o senador Valdir Raupp informou que "jamais fez indicações políticas para o setor elétrico e que as acusações do ex-senador Delcídio do Amaral são descabidas e inverídicas". A assessoria de imprensa de Romero Jucá disse que o senador não vai comentar as declarações do parlamentar cassado.

A GloboNews e o G1 entraram em contato com as assessorias de imprensa de Renan Calheiros e Edison Lobão, mas não obtiveram resposta até a última atualização desta reportagem.
Machado ficou mais de dez anos na presidência da Transpetro indicado por Renan. Na semana passada, foram divulgados áudios em que ele gravou conversas comprometendo a cúpula do PMDB do Senado.

GloboNews
: Como ex-líder do governo e com trânsito com todos os senadores, o senhor tinha acesso livre à residência oficial do Senado e na presidência. Sérgio Machado frequentava a residência oficial? O senhor já testemunhou a presença dele com Renan?
Delcídio: Eu estive. Mas o Renan blindava demais o Sérgio. O Sérgio era uma pessoa que ninguém encostava nele. E ele também fazia questão de não dar nenhuma ousadia para ninguém. Ou seja, Sérgio era fidelizado a Renan. Para você ter uma ideia, eu estava conversando com Renan, na residência oficial, o Sérgio chegava, e o Renan suspendia a reunião e atendia Sérgio numa saleta que tinha na entrada na casa. Ele nem esperava. Era despacho rápido, eles conversavam, e o Sérgio ia embora. Não dava nenhuma oportunidade de o Sérgio se integrar ou conversar ou ficar junto com o pessoal.
GloboNews: O senhor está falando de que período?
Delcídio: Mais recentemente, no ano passado, até quando o Sérgio saiu da Transpetro (fevereiro de 2015) isso era frequente. Eu mesmo estive em algumas situações em que o Sérgio chegou lá, Renan o recebia e a gente ficava ali esperando até ele ir embora.
GloboNews: Sérgio era prioridade absoluta de Renan, então?
Delcídio: Absoluta. Ele era o único cara que Renan tinha ascendência direta.
GloboNews: E do que eles tratavam?
Delcídio: Eu não presenciei, mas normalmente eram as operações da Transpetro. Todo mundo sabia. Sérgio era o cara que fazia a interlocução com os donos das empresas e outros operavam financeiramente para Renan.
GloboNews: Quem?
Decídio: Eu prefiro não falar agora, ainda.
GloboNews: E o senhor tinha relação com Sérgio?
Delcídio: Falava [com Machado] porque ele foi do PSDB, eu também. Eu tinha relação com ele desta época, tinha um aproximação natural com ele. Então, falava com ele e tal, mas eu nunca vi um esquema tão fidelizado de uma indicação política com alguém que indica como essa relação de Renan com Sérgio. E olha que eu conheço muita gente, é impressionante.
GloboNews: O que o senhor quer dizer com fidelizado?
Delcídio: Fidelizar é o seguinte: é um esquemão mesmo. Uma operação restrita, onde eles tinham controle absoluto e agiram com muita competência. Porque ninguém fica mais de dez anos na Transpetro.
GloboNews: Então, na avaliação do senhor, Machado pode detalhar outras operações envolvendo a cúpula do Senado?
Delcídio: Essas conversas que foram divulgadas, isso é 'peanuts' perto do que vem, Sérgio tinha todo controle. É um perigo, por isso o povo está apavorado: ele sabia de tudo. Ele era o cara do Renan e o Renan. Para garantir a hegemonia, atendia outros senadores do núcleo do PMDB que sempre comandou o Senado, através do Sérgio.

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