1 A política nacional em todos os cantosA
festa teve um tom político ainda um ponto acima do já efervescente
contexto que o país vive. Prova disso é que antes mesmo do show começar,
um dos diretores criativos da festa, o escritor Marcelo Rubens Paiva se
manifestou claramente contra o impeachment da presidente Dilma
Roussef. , No microfone, sob os olhos de Fernanda Lima e do mascote Tom,
ele bradou “viva a democracia”. Foi a senha para o primeiro “Fora,
Temer” da noite.

2 A contagem radicalA
contagem regressiva tornou-se, nas últimas décadas, um dos momentos
mais aguardados das cerimônias dos grandes eventos. A da Paralimpíada
foi especial. O grito que o público deu ao ver Aaron Wheelz descer a
mega-rampa, justamente no segundo zero da contagem regressiva, entra
para o hall dos momentos mais barulhentos da história do Maracanã,
acompanhado de clássicos com gol do Romário na final da Copa América de
89, do gol do Pet na final do carioca de 2001…


3 Em seus lugaresNão
foi apenas o campo do Maracanã que esteve repleto de deficientes na
noite desta quarta-feira. Nas arquibancadas, o número de pessoas em
cadeiras de rodas, por exemplo, também era impressionante. É bastante
provável que nunca tantos deficientes tenham se reunido num ambiente
público no país. Talvez não exista legado paralímpico maior do que esse
tal: tirar os deficientes — todos eles — de casa de uma vez por todas.
4 O que é perto para você?Para
muitos deficientes, foram exageradas as obstruções no trânsito no
perímetro do Maracanã. Quem optou por táxis adaptados teve que
desembarcar e embarcar longe do estádio e percorrer penoso trajeto. Será
que não seria viável permitir, pelo menos, que os veículos adaptados
pudessem circular nas ruas adjacentes ao estádio?

5 Até mesmo com ingressos caros
As vaias ao “presidente” Michel Temer foram ainda mais impactantes a ver o ambiente relativamente controlado em que ele estava. As Olimpíadas deixaram claro que arenas com ingressos caros eram muito mais hostis aos gritos de “Fora, Temer” do que a praça pública. Para se ter uma ideia, no Maracanã lotado para a semifinal do futebol feminino, o “Fora, Temer” foi completamente abafado por vaias antipetistas. No mesmo dia, na praça Mauá, os apupos ao presidente tinham estrondosa força. Interessante perceber que a transmissão do telão do Maracanã foi diferente daquela da televisão. Para o Maracanã, Temer nem mesmo apareceu. Muita gente ao fim da cerimônia não tinha certeza se o presidente realmente havia estado no Maracanã.
As vaias ao “presidente” Michel Temer foram ainda mais impactantes a ver o ambiente relativamente controlado em que ele estava. As Olimpíadas deixaram claro que arenas com ingressos caros eram muito mais hostis aos gritos de “Fora, Temer” do que a praça pública. Para se ter uma ideia, no Maracanã lotado para a semifinal do futebol feminino, o “Fora, Temer” foi completamente abafado por vaias antipetistas. No mesmo dia, na praça Mauá, os apupos ao presidente tinham estrondosa força. Interessante perceber que a transmissão do telão do Maracanã foi diferente daquela da televisão. Para o Maracanã, Temer nem mesmo apareceu. Muita gente ao fim da cerimônia não tinha certeza se o presidente realmente havia estado no Maracanã.

6 Optou pela novela
A Globo não ter transmitido ao vivo a cerimônia repercutiu forte nas
redes sociais. Mais uma oportunidade perfeita para entender do que se
trata este ramo do capitalismo chamado comunicação e jornalismo. Nos
canais comerciais, relevância informativa e educacional servem tanto
quanto touca e luvas no interior do Piauí. Fica claro outra vez que o
que importa para esse jornalismo é dinheiro. Se você se revoltou com o
fato, deveria lutar pela sobrevivência dos canais públicos, de interesse
público e gestão democrática. Vale lembrar: eles estão ameaçadíssimos.

7 Não deu para cantar
O maestro João Carlos Martins é uma figura formidável, que, sobretudo
neste momento paralímpico, merece nossa reverência. Dito isso, vale
salientar que foi impossível acompanhar o hino nacional executado por
ele ao piano. O público não sabia muitas vezes em que estrofe ele estava
e não conseguiu cantar junto.

8 Símbolos
A cerimônia merece uma nota dez no quesito simbologia. Começar o show
com a homenagem à roda foi fantástico, uma oportunidade perfeita para os
andantes refletirem o quanto a vida dos cadeirantes está ligada às
rodas. Se a mensagem pegasse forte, o país ganharia demais em
acessibilidade.

9 Dançando com a máquinaAinda no quesito simbologia: a dança de Amy Purdy com
uma máquina industrial foi sensacional. A performance foi uma releitura
da relação máquina-humano, magnificamente perpetuada no cinema por
Charles Chaplin em Tempos Modernos. Se
Carlitos trouxe uma pesada crítica, Purdy a substituiu por uma leveza
jamais vista. Nada melhor que uma linda bailarina biamputada que dança e
compete com próteses nas duas pernas.

10 A quedaNo
esporte, o fundamental é ser rápido, ágil, forte, saudável. É
importante chegar. Mas poucas coisas emocionam tanto quanto uma queda. A
ex-atleta
Márcia Malsar, que tem paralisia cerebral, foi a figura mais ovacionada
de toda a noite, justamente porque caiu a conduzir a tocha, minutos
antes do auge da festa.

11 O grande momentoClodoaldo
Silva não é o precursor do esporte paralímpico brasileiro, mas é o que o
apresentou para o grande público, nos grandes canais de televisão. Seu
carisma, aliado às suas medalhas de ouro paralímpicas, foi fundamental
para o crescimento do paradesporto brasileiro. Prova disso é que o maior
astro da delegação, Daniel Dias, admite que se interessou pelo esporte
justamente pelo êxito de Clodoaldo Silva. Portanto, foi merecida demais à
homenagem máxima da noite ao nadador potiguar. Entretanto, a perfeição
do momento surgiu da criação artística em si. Simbolizar uma escada que
vira rampa ao desejo do cadeirante é um sopro de esperança para tantos
brasileiros que ainda sofrem com o problema de acessibilidade no Brasil.



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