O protesto pró-Trump é prova de que o poço da direita brasileira não tem fundo. Por Zambarda







“O mundo decente quer Trump presidente!”
Achou insano? Essa não foi a única palavra de ordem proferida no sábado (29). Outra era “Ei, CUT, vai arrumar emprego!”.
Os gritos na frente do Citibank na Avenida Paulista oscilavam entre chamar todo mundo de “mortadela”, “comunista” ou “socialista”.
Com mais de mil pessoas confirmadas, o “Ato de apoio a Donald” em São Paulo neste final de semana reuniu pouco mais de 50 pessoas.
Marcado para começar às 14h, a manifestação começou com pancadaria entre antifascistas, anarquistas e punks contra os coxinhas na avenida. Quatro pessoas foram detidas pela Polícia Militar nos primeiros minutos do evento.
Às 15h, a PM formou um cordão protegendo os pró-Trump na frente do banco. Os antifascistas berraram pelo fim da Polícia Militar. Enquanto isso, os oficiais do governo do estado não tratavam mal os coxinhas, mas provocavam os anti-Trump.
“Tá vendo aqueles caras ali? Eles dão emprego para vocês!”, disse um oficial da PM de cabelos brancos que não deu entrevista ao DCM. Um segundo policial tentava acalmar os antifascistas. Sem sucesso.
Na tensão, todos os presentes estavam com medo da Polícia Militar utilizar as balas de borracha que foram proibidas pela Justiça a partir do dia 20 de outubro exceto em condições “excepcionalíssimas”.
“A Hillary Clinton quer destruir a sociedade ocidental”, disse Paulo Eneas, um dos organizadores do evento. Os cartazes dos manifestantes eram um show de horrores: “Hillary é a Dilma Americana”, “Hillary deve ir presa”, “Bolsonaro presidente” eram algumas das sandices.
Perto das 16h, um dançarino cover de Michael Jackson roubou a cena. Com uma caixa de som e acompanhado do irmão mais novo, ele dançou ‘They Don’t Care About Us’, um clássico de 96 do Rei do Pop.
“Essa música do Michael Jackson é um grande protesto. Não tinha música mais oportuna para que eu dançasse do que aquela naquele momento. Fala sobre segregação, violência da polícia, xenofobia e o Michael gravou ela na favela do Rio de Janeiro. Essa galera protestando a favor do Donald Trump é a síntese da incoerência de uma forma absurda. Eu sinceramente não tenho palavra pra eles”, disse Felipe Gomes ao DCM, dançarino há sete anos nas ruas de São Paulo. Ele os comparou aos integralistas.
Logo após sua performance, a PM, com ajuda do Choque, encurralou os antifascistas e os expulsou da Avenida Paulista, sem atirar balas de borracha.
Enquanto isso, os manifestantes pró-Trump permaneceram intocados. Eles só perderam espaço quando a rua foi ocupada por carros. De maneira gentil, a polícia os conduziu até a estação Brigadeiro de metrô.
Um homem que tinha voltado de um almoço na Augusta com sua namorada caminhava na Paulista e mandou os manifestantes tomarem no cu. A PM pediu para que ele parasse e afirmou que ele poderia ir preso por “calúnia”.
“Eu não sei nem o que pensar desses caras ou dessa situação. Só quero sair daqui”, desabafou ao ir embora entre risadas nervosas e lamentos.
Há um novo protesto dos apoiadores de Trump marcado para o outro domingo (30). Os reaças não aguentam manifestar sua simpatia por xenofobia, desinformação e canalhice numa única data.
Michael Jackson está certo. Eles não se importam conosco.

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Pedro Zambarda de Araujo
Sobre o Autor
Escritor, jornalista e blogueiro. Autor do projeto Geração Gamer, que cobre jogos digitais feitos no Brasil. Teve passagem pelo site da revista EXAME e pelo site TechTudo.

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