A urgência do empoderamento da juventude são-roquense



Foto de Amanda Sobral no SESC Sorocaba - intervenção "Linhas de Fuga" da Cia de Eros



Os dicionários definem juventude como “parte da vida do ser humano da infância à idade viril; estado de uma pessoa jovem; as pessoas jovens; energia, vigor e viço. E apresentam como sinônimos as palavras: puberdade, adolescência, juvenilidade e mocidade. Ou seja, atualmente a juventude é vista como uma experiência positiva.
No entanto, durante muitos séculos os jovens foram associados à imaturidade, ignorância e subserviência familiar. Eram vistos como crianças “crescidas” e aqueles que não se enquadravam nas imposições eram retirados do convívio social ou, no limite, mortos.
Esse cenário sofrerá consideráveis transformações após a Segunda Guerra Mundial, em especial na década de 1960, no contexto das manifestações políticas de jovens e da contracultura. Assim, a visão etária arraigada que dividia a trajetória do ser humana em criança, adulto e velhice foi enriquecida com as categorias de adolescência e juventude.
Numa abordagem geracional, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) define juventude como aquela fase da vida que compreende os cidadãos de 15 aos 29 anos. Esse período se caracterizaria por mudanças biológicas, psicológicas e sociais que contribuiriam para o desenvolvimento do ser humano.
As ciências humanas definem juventude como um grupo que compartilha distintos atributos, como a mesma faixa de idade, interesses, visão de mundo, trajetórias socioeconômicas entre outras características que a diferencia das demais gerações. Portanto, os jovens seriam representantes de uma cultura juvenil, que tanto pode se opor aos valores consolidados por gerações mais velhas quanto pode ser complementar a essa.
Na década de 1980, a juventude alça voo na sociedade brasileira e alguns dos seus diretos são estabelecidos na Constituição cidadã de 1988, entre os quais, o direito a votar a partir dos 16 anos e a criação do Estatuto da Criança e Adolescente - que protege o jovem adolescente de 15 a 18 anos.
No início do século XXI, a quantidade de jovens no Brasil atingiu a impressionante marca de mais de 50 milhões cidadãos. Como consequência, em 2005 criou-se a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), que visa potencializar uma série de programas e ações voltadas aos jovens com idade entre 15 e29 anos.
Com o objetivo de coordenar, integrar, articular e promover as políticas de juventude, a SNJ desenvolveu, nesses 10 anos, diversas ações, entre as quais, os programas ProJovem, Identidade Jovem, Juventude Viva, Estação Juventude e as Conferências Nacionais da Juventude de 2008 e 2011 com a participação de milhares de pessoas. Como fruto dessas inúmeras ações, em 2013 aprovou-se o Estatuto da Juventude.
Validando-se tais conquistas da juventude em especial e da sociedade brasileira como um todo, criam-se, por todo o país, secretarias municipais e estaduais da juventude. Na nossa região, duas cidades destacaram-se nessa empreitada: Sorocaba e Votorantim.
A construção dessas secretarias fundamenta-se na ideia que em um mundo marcado por constantes e frequentes mudanças, a noção clássica de gerações de 25 e 25 anos não atende mais a realidade e, por conseguinte, pais e filhos não falam a mesma “língua”. No limite, irmãos com mais de 10 anos de diferença apresentam visões de mundo totalmente díspares.
Além disso, estudos demonstram que as crises econômicas atingem, principalmente, a juventude. Pesquisas revelam que os jovens atuais poderão ser os primeiros excluídos dos novos arranjos societários que ainda estão se formando. No Brasil cunhou-se a expressão Nem-Nem (jovem que nem estuda, nem trabalha) para mensurar essa realidade.
Dessa forma, a construção de espaços de convivência e participação nas decisões deste segmento torna-se essencial. Para isso, é necessário, antes de mais nada, ouvi-los. Experiências em outros países demonstram que políticas públicas elaboradas para os jovens que miram o seu futuro sem considerar os seus anseios, isto é, sem permitir o som de suas vozes, tendem a naufragar.
Diante desse quadro e aproveitando-se a montagem de uma nova gestão municipal para o quadriênio 2017-2020, faz-se necessário a criação de um Departamento ou Divisão voltado para ouvir e compartilhar poder com os jovens são-roquenses. A sua função seria coordenar, integrar, articular e promover as políticas de juventude, isto é, criar espaço de convivência e participação para esse segmento.
Os jovens são-roquenses estão gritando, no entanto, poucos prestam a atenção. Os protestos de junho de 2013 reuniram mais de 2.500 pessoas na cidade, principalmente jovens; a luta para a criação da pista de skate é liderada por jovens; as manifestações contra a PEC 241/55 e a reforma do ensino médio neste ano foram conduzidas por estudantes secundaristas e universitários; nas madrugadas de sexta e sábado nas ruas de São Roque ou nas tardes na Brasital os jovens clamam por atenção. Dessa forma, a palavra do momento é empoderamento desse segmento e consequentemente criação de políticas públicas por e para essa juventude.

Rogério de Souza Silva, professor do IFSP.


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