Instituições do país já foram consideradas grandes demais para falir, mas agora caminham lentamente para a bancarrota
Peter S. Goodman/THE NEW YORK TIMES,
O Estado de S.Paulo
O Estado de S.Paulo
02 Dezembro 2016 | 05h00

Para Victor Massiah, do UBI, os bancos são ‘vítimas do momento histórico’
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Os problemas da Itália são problemas de toda a Europa. Quase um quinto de todos os empréstimos do sistema bancário italiano são considerados problemáticos, somando cerca de ¤ 360 bilhões no fim de 2015, segundo o Fundo Monetário Internacional. Isso representa cerca de 40% de todos os empréstimos inadimplentes dos países do bloco do euro.
Nas últimas semanas, o mundo voltou os olhos para o maior credor da Alemanha, o Deutsche Bank, temendo que o banco precisasse de ajuda do governo. Contudo, embora o Deutsche tenha se tornado a crise do momento, a Itália é uma ameaça perene que, a qualquer instante, pode presentear o mundo com uma surpresa desagradável e grande o bastante para que representantes de governos de todo o planeta venham a Roma para tentar conter os danos.
O governo italiano tentou aumentar os gastos públicos para acelerar a economia. Contudo, os líderes da União Europeia, como a Alemanha, estabeleceram regras para limitar os déficits orçamentários. Além disso, os bancos italianos estão guardando dinheiro, retirando capital de uma economia já anêmica.
Tudo isso leva a Itália, a Europa, e em certa medida a economia global a um impasse considerável. É possível que a Europa jamais recupere o vigor econômico do passado e, nesse contexto, os bancos italianos criam uma emergência em câmera lenta. Os bancos italianos não serão capazes de se restabelecer sem que haja crescimento, e a economia italiana não pode crescer sem bancos saudáveis.
Massiah não tem paciência para histórias que identifiquem os bancos como fonte do perigo. A não ser por alguns casos irresponsáveis, os credores italianos não são os causadores do problema, insiste o banqueiro. Na verdade, eles são vítimas do momento histórico.
Uma recessão que durou sete anos destruiu cerca de um quarto da indústria italiana. Os índices de desemprego passam dos 11%. Muitas empresas italianas são de pequeno porte, o que as torna especialmente vulneráveis à globalização. Empresas familiares especializadas na fabricação de produtos artesanais foram massacradas pela concorrência da China. Além disso, as taxas de juros negativas mantidas pelo Banco Central Europeu para encorajar os empréstimos afetaram a lucratividade dos bancos. “A Itália é um país ‘bancocêntrico’, e a crise é gigantesca. Quando a maré baixar, não vai restar nada que preste”, afirmou Massiah.
Sintoma, não causa. Os problemas bancários da Itália são um sintoma do estilo italiano de fazer negócios, que tradicionalmente prioriza relacionamentos pessoais e laços comunitários, em vez da busca fria pela lucratividade. Durante visitas a autoridades italianas em escritórios que mais parecem versões particulares da Capela Sistina, sempre se repetem as reclamações de que as reformas passaram despercebidas. As autoridades revelam que se ressentem do fato de a Itália continuar a ser vista como o país dos irresponsáveis no centro da decadência econômica da Europa.
O ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi – magnata da imprensa viciado em bronzeamento artificial – era comicamente incapaz do ponto de vista econômico e assim entrou para os livros de história. Atualmente, quem está no controle é o jovem tecnocrata Matteo Renzi, responsável por uma série de reformas politicamente perigosas há muito tempo desejadas pelas autoridades carrancudas em Bruxelas.
Ainda assim, de acordo com alguns economistas, as reformas não são mais que uma cortina de fumaça: o verdadeiro problema está no sistema bancário, que mantém “empresas zumbi”, que jamais serão capazes de pagar suas dívidas, mas que recebem crédito o suficiente para não atrasar os pagamentos. Mas, se dizem isso ao homem responsável pelo sistema, Ignazio Visco, diretor do Banco da Itália, ele reage como se alguém tivesse atirado um objeto sujo na tapeçaria elegante de seu escritório. A maior parte das dívidas podres da Itália tem algum tipo de garantia, afirmou. “Esse é o resultado de uma situação econômica desfavorável, de sete anos de recessão quase contínua. Os bancos são um sintoma. Não a causa.”
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