Para 2017, ONU alerta para riscos que emergentes podem sofrer com novas políticas de TrumpJamil Chade, correspondente ,
O Estado de S.Paulo
01 Fevereiro 2017 | 15h07
GENEBRA - A ONU aponta que o Brasil sofreu uma contração de US$ 15 bilhões em investimentos entre 2015 e 2016, com multinacionais reduzindo suas apostas no País no ano passado por conta da recessão. Dados publicados nesta quarta-feira, 01, pela Conferência da ONU para Desenvolvimento e Comércio (Unctad) indicam que, depois de receber US$ 65 bilhões em investimentos externos em 2015, o Brasil acumulou US$ 50 bilhões em 2016. A queda, de 23%, foi uma das maiores do mundo.
Para 2017, uma recuperação no Brasil pode ser minada justamente por conta da incerteza gerada pelas novas políticas de Donald Trump, revisão em acordos comerciais e multinacionais que, diante do novo cenário, hesitariam em voltar a manter o fluxo de recursos para os emergentes.
O valor deixou o Brasil na sexta posição entre os principais destinos de multinacionais pelo mundo. O ranking foi liderado pelos EUA, com US$ 385 bilhões, seguido pelo Reino Unido com US$ 179 bilhões. A China aparece na terceira posição, somando US$ 139 bilhões. A lista dos primeiros colocados ainda se completa com Hong Kong com US$ 92 bilhões e Cingapura com US$ 50 bilhões.
No mundo, a contração no fluxo de investimentos foi de 13%, totalizando US$ 1,52 trilhão. O grupo de países em desenvolvimento viram uma contração de 20% da entrada de capitais, para um total de US$ 600 bilhões.
Mas um dos maiores tombos foi registrado no Brasil. A economia nacional sofreu ao mesmo tempo com a recessão - afastando empresas que estavam interessadas no mercado doméstico - e com a queda no preço das commodities, fazendo gigantes do setor de matéria prima adiar investimentos.
Um dos aspectos mais importantes foi a queda na compra de ações de empresas brasileiras. O volume foi reduzido de US$ 49 bilhões para US$ 35 bilhões. O que chama a atenção também dos especialistas foi o tombo na abertura de novas fábricas por parte de multinacionais, passando de US$ 17 bilhões em 2015 para apenas US$ 11 bilhões, uma redução de 35%.
Para 2017, A Unctad não garante uma expansão dos investimentos no Brasil. Se de um lado existe uma tendência ao aumento dos preços de commodities e, portanto, maior interesse por investir no País, a queda no consumo doméstico abortou planos de empresas de apostar no mercado brasileiro.
"Os investimentos em toda a América Latina estavam em valores muito baixos e, portanto, não descartamos que possa haver um aumento", explicou James Zhan, diretor do Departamento de Investimentos da Unctad. "Mas não sabemos como esses investimentos vão poder compensar a queda em outros setores", disse.
Segundo ele, outra incerteza que ronda a América Latina é a eventual política comercial de Donald Trump, nos EUA. Um dos maiores investidores na região é o setor privado americano que, por sua vez, pode ser obrigado a manter seus recursos na economia dos EUA para não sofrer sobretaxas.
Empresas do setor automotivo que tinham planos de investir no México foram obrigadas a repensar sua estratégia. O mesmo, portanto, pode ocorrer com o Brasil.
China - Zhan não descarta que o espaço deixado pelos americanos pode ser preenchido por empresas chinesas e europeias. De fato, as aquisições no Brasil subiram de 1 bilhão para US$ 8 bilhões entre 2015 e 2016. Mas praticamente graças a compras chinesas.
A China Three Georges Corp investiu US$ 4 bilhões numa concessão de energia no Brasil e ainda gastou mais US$ 1 bilhão para ficar com os ativos brasileiros da empresa americana Duke Energy.
Ainda assim, a queda de fluxo ao Brasil afetou o total recebido pela América Latina. As mais de 30 economias da região acumularam, juntas, menos investimentos que individualmente foi aplicado por multinacionais China, EUA ou no Reino Unido. Com US$ 135 bilhões em 2016, a América Latina só conseguiu superar a África.
Para 2017, a previsão da ONU é de uma recuperação em 10% nos fluxos de investimentos no mundo, com um ano melhor para as economias emergentes e uma estabilização nos mercados ricos. Mas Zhan admite que "incertezas significativas" sobre o que ocorrerá com a política comercial dos EUA e as eleições em diversos mercados na Europa podem afetar qualquer cálculo.
O principal impacto pode ser sentido justamente nos mercados emergentes, entre eles o Brasil. "Para economias emergentes, um período de incertezas nos investimentos dos países ricos pode minar a recuperação dos fluxos de investimentos a seus países", indicou a ONU.
Multinacionais estariam aguardando para entender o que Trump pretende fazer em termos de políticas de investimentos para tomar suas decisões. Outro fator que pode pesar seria uma retomada de um aumento das taxas de juros nos EUA, depois de uma década a níveis baixos. Para a ONU, tal medida significaria "uma mudança profunda na composição dos fluxos de capital, com implicações nas taxas de juros e nos sistemas financeiros pelo mundo, especialmente para economias em desenvolvimento".
"O aumento do custo do capital pode minar investimentos por multinacionais que tenham assumido um nível de dívida elevado", disse. No lado comerciais, o Brexit e a decisão de renegociar o Nafta e outros tratados também poderiam afetar.
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