Delações Odebrecht: PSDB recebeu R$ 28,7 milhões em propina por acordo da Rodovia Carvalho Pinto, diz delator

Empreiteira pagou quantia para fechar acordo e encerrar disputa judicial com o Governo de SP, segundo ex-diretor. Partido nega irregularidades.

Ex-executivo da Odebrecht diz que José Serra foi beneficiado com dinheiro de caixa 2
O ex-diretor da Odebrecht Carlos Armando Paschoal afirmou, durante seu depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), que a empreiteira pagou R$ 28,7 milhões em propina ao PSDB para garantir um acordo judicial referente à Rodovia Carvalho Pinto, em São Paulo.
Segundo o delator, a Odebrecht realizou uma obra na via no fim da década de 90, mas “não viu ressarcido todos os seus direitos”. O tempo passou e, para não ficar a ver navios, a empreiteira entrou na Justiça contra o Estado em 2001, cobrando a atualização dos valores e o recebimento do dinheiro.
O processo se arrastou por oito anos, até que, em 2009, para encerrar a disputa, empreiteira e governo estadual fecharam um acordo milionário: R$ 191,590 milhões a serem pagos em 23 parcelas. De acordo com Paschoal, a agilização do acerto, no entanto, também teve seu preço. E esse não foi publicado em nenhum Diário Oficial.
O governador de São Paulo à época era o tucano José Serra e o ex-executivo contou à Justiça que, para fechar o acordo, foi ”combinado um pagamento para o PSDB de 15% do valor de cada parcela que fosse ser recebida”. Segundo Paschoal, a Odebrecht preferiu pagar a propina do que correr o risco de ver o processo se arrastar por mais anos.
R$ 28,738 milhões. Conforme o delator, era este, portanto, o saldo credor do PSDB com a empresa. A quantia teria sido quitada ao logo de diversos repasses feitos ao longo de 2009 e 2010. “A gente parcelava. Havia uma orientação, talvez por questão de segurança, para não enviar mais de 500 mil reais em cada pagamento, então ia sendo fatiado”, disse.
Rodovia Carvalho Pinto é citada em delação de executivos da Odebrecht (Foto: Reprodução/TVGlobo)Rodovia Carvalho Pinto é citada em delação de executivos da Odebrecht (Foto: Reprodução/TVGlobo)
Rodovia Carvalho Pinto é citada em delação de executivos da Odebrecht (Foto: Reprodução/TVGlobo)
Ainda de acordo com Paschoal, parte dos pagamentos foi feito no Brasil e intermediado pelo então tesoureiro do PSDB, Márcio Fortes, que acumulava a função com a presidência da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano do Estado (Emplasa). O delator diz que o dinheiro tinha um destino certo: a campanha de José Serra à presidência da República.
“Na época, o Pedro Novis [ex-presidente da Odebrecht] me relatou que era para o PSDB fortalecer a candidatura do Serra”, afirmou.

Outra citação

José Serra também é relacionado ao suposto esquema de propina envolvendo a Rodovia Carvalho Pinto na delação de outro ex-executivo da Odebrecht: Luiz Soares. No depoimento dele, o tucano é citado como o beneficiário dos repasses feitos pela empreiteira no exterior. O delator apresentou uma planilha da empresa como prova.
O documento indica nove parcelas referentes à Carvalho Pinto e relaciona os pagamentos ao codinome “Vizinho”, o apelido de José Serra nas listas da Odebrecht em referência ao fato de ele morar próximo ao ex-presidente da empreiteira Pedro Novis. A planilha aponta um pagamento de R$ 6,250 milhões a Serra no exterior. Neste caso, os pagamento teriam sido intermediados pelo ex-deputado federal Ronaldo César Coelho (PSDB).

Outro lado

Em nota, José Serra diz que não cometeu nenhuma irregularidade e que suas campanhas foram conduzidas pelo partido dentro da lei. O PSDB, por sua vez, afirma que os membros do partido citados nas delações, como Márcio Fontes, terão a oportunidade de se defender e de comprovar que sempre agiram de forma correta e em consonância com a lei.
Já Ronaldo César Coelho alega que é "absolutamente mentira" o que foi dito durante a delação premiada. Ele alega que a conta citada no exterior era para que fosse ressarcido pelo PSDB pelos gastos que teve com a manutenção de um avião.

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