Vítimas de chacina em Mato Grosso foram assassinadas com tiros e golpes de facão






Representante do governo afirma que suspeita é de que fazendeiros locais tenham contratado matadores de aluguel para exterminar grupo em local marcado por disputas de terra


As nove vítimas de uma chacina rural na Gleba Taquaruçu do Norte, a 1.062 km de Cuiabá, foram assassinadas com golpes de facão e disparos de arma de fogo. Parte das vítimas teve o rosto mutilado no crime ocorrido nesta quinta-feira, 20, à tarde. Neste sábado, 22, pela manhã, os corpos foram levados para a cidade de Colniza, no extremo noroeste de Mato Grosso. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, a motivação do ataque é disputa por terras na região.
Todas as vítimas eram homens e evangélicos – entre os mortos está um pastor. A violência impressionou policiais e peritos enviados ao local da chacina. De acordo com a Polícia Civil, a suspeita é de que os autores do crime sejam capangas contratados por fazendeiros. Homens encapuzados atacaram o assentamento onde vivem cem famílias.
“Os assassinos entraram de barraco em barraco matando as pessoas”, contou a policial Elizângela Nunes. Segundo ela, “os corpos estão em estado de decomposição” e passam por necropsia em uma sala improvisada no cemitério. Até a conclusão desta edição, as vítimas não haviam sido identificadas pelos peritos.
A Secretaria de Segurança Pública já informou que três das vítimas eram de Rondônia e três, de Guariba, uma gleba também de Colniza. A origem três delas ainda não foi divulgada.

Foto: Secretaria de Estado de Segurança Pública do Mato Grosso
Chacina de Colniza (MT)
Um dos corpos das nove vítimas de chacina ocorrida no assentamento de Taquaruçu do Norte em 19 de abril, no Mato Grosso
O secretário Elizandro Jarbas afirmou que é “prioridade” do governador de Mato Grosso, Pedro Taques (PSDB), descobrir e punir os autores da chacina. Segundo ele, foi montada uma força-tarefa entre as Polícias Civil e Militar para acelerar as investigações. Nesta segunda-feira, 24, chegarão mais policiais à região. Nenhum dos assassinos foi identificado nem preso.
Conflitos. O município de Colniza está em uma região marcada por conflitos entre fazendeiros, índios, trabalhadores rurais, madeireiros e garimpeiros.
Cercado por reservas indígenas, como a Roosevelt, dos índios cinta-larga, e a Tenharim-Marmelos, dos tenharins, quatro grandes parques nacionais (Juruena, Campos Amazônicos, Jaru e Aripuanã), além de três reservas estaduais, o município nasceu de um projeto da empresa de garimpo Colniza Colonização, que deu o nome à cidade.
Em 1986, quando se tornou município, Colzina concentrava três garimpos de ouro. A chegada de fazendeiros e madeireiros incluiu o município no chamado “arco de fogo”, um cinturão de desmatamento que avança em direção à Floresta Amazônica. Nos últimos cinco anos, Colniza foi o município com maior registro de desmatamento em Mato Grosso, com 54,8 mil hectares derrubados, segundo a Secretaria Estadual de Meio Ambiente.
Reações. A Federação dos Trabalhadores da Agricultura (Fetagrii-MT), em nota  lamentou “o agravamento do clima de tensão na região” e cobrou providências das autoridades responsáveis. O Movimento dos Sem-Terra (MST) considerou uma “tragédia anunciada” o assassinato dos nove homens. Também em nota, o MST lamentou que a chacina não seja um fato isolado e lembrou que há dois anos Josias Paulino de Castro e Irani da Silva Castro, dirigentes camponeses do município, foram assassinados 48 horas após denunciar ameaças de fazendeiros locais para o ouvidor nacional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Segundo o movimento, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) apontou a região como uma das mais violentas do Brasil. “Essa onda de violência integra um avanço do modelo capitalista sobre os direitos dos trabalhadores, sobre a apropriação dos recursos naturais, terra, minerais e água. Avanço este potencializado pelo golpe que o Brasil está vivendo, e por projetos de lei como a PEC 215 que dispõem sobre as terras indígenas e quilombolas, a MP 759 que dispõe sobre a reforma agrária, e o PL 4059 sobre a compra de terras por estrangeiros, além de outros projetos e medidas provisórias que não são criados no sentido de resolver os problemas no campo, mas para aumentar a concentração fundiária.”
Ainda segundo a nota, “nada está sendo encaminhado no sentido de impedir essas novas tragédias e a repetição de outras que marcam o mês de abril, como Eldorado dos Carajás, que dia 17 completou 21 anos de impunidade” - em abril de 1996, 19 sem-terra foram mortos em ação da Polícia Militar nesse município paraense. “Não podemos nos calar diante de tão grande dor; que nossa indignação alcance os responsáveis diretos e indiretos por este massacre, e que este não seja mais um caso de impunidade. Que o Estado não seja novamente conivente com os assassinos. A cada companheiro tombado, nenhum minuto de silêncio, mas toda uma vida de luta”, conclui o MST.
Pastoral. De acordo com dados apresentados pela CPT na segunda-feira, 17, há atualmente 6.601 famílias instaladas em áreas de conflitos em Mato Grosso. Em nível nacional, houve um aumento de 26% no volume de conflitos no campo registrados no Brasil, segundo a instituição. Eram 1.217 em 2015 e, em 2016, 1.536. Com relação às investigações dos crimes, dos 1.387 assassinatos ocorridos de 1985 a 2016 no País decorrentes de conflitos entre proprietários rurais e assentados, apenas 112 casos foram julgados, 31 mandantes foram condenados e 14 foram absolvidos.
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