Lula nega todas as acusações e reafirma determinação para disputar eleição


Em redes sociais, Moro disse que interrogatório seria parte "normal" do processo. Mas não foi o que se viu em Curitiba
Lula chega na Justiça Federal de Curitiba para prestar depoimento a Moro | Foto: Leandro Taques, Jornalistas Livres
Por Maria Carolina Trevisan
Ao pedir que manifestantes a favor da Lava Jato não fossem a Curitiba, o juiz Sergio Moro alegou que seria um interrogatório comum ao processo e que “nada de diferente da normalidade” aconteceria. Mas normalidade foi o que não houve em Curitiba.
A rotina da cidade foi modificada, quarteirões no entorno do prédio da Justiça Federal foram fechados e só moradores e jornalistas credenciados tinham acesso ao espaço cercado por barricadas.
O depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mobilizou um contingente de cerca de 3 mil agentes de segurança. A Polícia Militar divulgou ter abordado uma parte dos 168 ônibus de manifestantes a favor de Lula. A maioria, 92 deles, viajou de outros estados. Apenas um veículo tinha irregularidades. Curitiba recebeu pelo menos 6,7 mil pessoas de ônibus.
O ato de apoio a Lula juntou 30 mil manifestantes, de acordo com os organizadores. O grupo que apoiou a Lava Jato estava composto por 100 pessoas, segundo a Polícia Militar (ou 300, de acordo com organizadores).
Os partidários do ex-presidente Lula ficaram na Praça Santos Andrade, no Centro de Curitiba, a cerca de 2,5 km de distância dos partidários da Lava Jato, que ficaram em frente ao Museu Oscar Niemeyer, no Centro Cívico.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, o juiz Sergio Moro alegou que seria um depoimento corriqueiro, dentro da normalidade. Porém, o interrogatório com Lula durou quase 5 horas. É um dos mais longos de toda a Operação Lava Jato.
Usando uma gravata com as cores da bandeira brasileira, que Lula considera um acessório de sorte, o ex-presidente respondeu exclusivamente a Moro por 3 horas e 20 minutos. Ele prestou depoimento sobre o triplex do Guarujá e o acervo presidencial.
Moro compareceu de camisa branca e gravata vermelha. Deixou de lado a tradicional camisa preta. Depois do magistrado, foi a vez de o Ministério Público Federal fazer perguntas. Ao final, a defesa fez considerações.
As primeiras imagens divulgadas pela Justiça Federal mostraram que Moro insistiu diversas vezes vezes sobre o pertencimento do triplex ao ex-presidente. Lula negou ser dono do imóvel. Também negou que tenha pedido a Leo Pinheiro, da OAS, que apagasse as provas contra ele. “A verdade é a seguinte, doutor Moro: não recebi, não solicitei, não paguei e não tenho um triplex”, afirmou.
Por volta das 19 horas, com o fim do depoimento, Lula foi ao encontro de seus apoiadores, entre eles, movimentos sociais, parlamentares e a ex-presidenta Dilma Rousseff.
“Se não fossem vocês, eu não suportaria o que eles estão fazendo comigo”, disse Lula. “Eu não quero ser julgado por interpretações, quero ser julgado por provas. E eu queria dizer às pessoas mais velhas e às pessoas mais jovens. Eu queria que vocês olhassem no meu olho. Eu, quando pedi para que fosse transmitida ao vivo é porque a minha mãe nasceu, como todo mundo nasce, analfabeta. E a minha mãe morreu analfabeta. Mas ela dizia: Ô Lula, a gente conhece quando uma pessoa está falando a verdade não é pela boca. É pelos olhos. É por isso que eu queria que fosse transmitido ao vivo, para que as pessoas que vão assistir vejam os olhos de quem está perguntando e os olhos de quem está respondendo.”
O ex-presidente nega todas as acusações e reafirma sua inocência. “Se um dia eu tiver que mentir para vocês, eu prefiro que um ônibus me atropele em qualquer rua deste País. Eu estou vivo”, concluiu, emocionado. Ele afirmou que  pretende se candidatar à Presidência da República.
Em entrevista coletiva, os advogados de Lula disseram que “você não está diante de um processo jurídico, mas contra o Estado Democrático de Direito”.

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