Seminário de Gilmar pago pela JBS foi plataforma de tucanos; ministro não vai deixar de votar no STF em assuntos relacionados ao frigorífico

14 de junho de 2017 às 11h29

viomundo
Instituto de Gilmar Mendes recebeu R$ 2,1 milhões da J&F em patrocínio
Ministro Gilmar Mendes alega não estar impossibilitado de participar de votações envolvendo a JBS, controlada pelo grupo J&F
O Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), que tem como sócio o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, teria recebido cerca de R$ 2,1 milhões do grupo J&F, que controla a JBS. A quantia teria tido como objetivo o patrocínio de eventos realizados pelo instituto.
O dinheiro teria sido utilizado em cinco eventos, incluindo um congresso em abril, realizado em Portugal. Além dos eventos, a quantia também foi utilizada para dar suporte a projetos sociais e atividades acadêmicas do instituto.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o instituto afirmou ter devolvido R$ 650 mil no dia 29 de maio, logo após ser divulgada a delação premiada de executivos da empresa. De acordo com a JBS, desde 2015 foram gastos R$ 1,45 milhão, além dos R$ 650 mil.
Por meio da assessoria, Gilmar alegou não ser administrador do IDP e que por isso não teria como se manifestar sobre questões relativas à administração do instituto.
A delação dos executivos da JBS será julgada pelo colegiado que Gilmar Mendes faz parte. O ministro já havia defendido que a ação fosse discutida pelo plenário.
Gilmar e a JBS
De acordo com a Folha de S. Paulo, a família de Gilmar vende gado para o frigorífico em Mato Grosso. No entanto, o ministro afirma que quem comanda os negócios é o irmão e portanto não teria motivos para ser impedido de participar de julgamentos envolvendo a JBS.
Gilmar Mendes se encontrou ainda com o empresário Joesley Batista, quando, segundo o ministro, teriam discutido sobre um julgamento no STF sobre o setor do agronegócio. Segundo Mendes, a reunião aconteceu após o dia 30 de março, quando o Tribunal realizou um julgamento sobre o Funrural.
Seminário de Gilmar Mendes em Portugal terá FHC e Doria
O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, também presidente do Tribunal Superior Eleitoral, coordenará, de 18 a 20 abril, a quinta edição de um seminário jurídico em Portugal.
O evento é promovido pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), do qual Mendes é fundador, e pelo Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
O tema deste ano é “Constituição e Governança”.
A conferência de abertura será proferida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A de encerramento caberá ao presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza.
Na edição anterior, em março do ano passado, o então vice-presidente Michel Temer (PMDB) fez a exposição de abertura por videoconferência, elogiando o Poder Judiciário e as privatizações da década de 1990.
O seminário de 2016 foi realizado durante os debates sobre o impeachment de Dilma Roussef (PT).
Houve manifestações de protestos no local, quando o senador José Serra (PSDB) foi recebido sob vaias e gritos de “não vai ter golpe”.
Neste ano, o seminário ocorre em meio à expectativa do julgamento da chapa Dilma/Temer, no TSE.
Mendes diz que permaneceria no Brasil se o julgamento não tivesse sido adiado.
TUCANOS
O programa preliminar prevê palestras do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), dos prefeitos de São Paulo, João Dória Junior (PSDB) e de Fortaleza, Roberto Cláudio (PSB), e do presidente do Parlamento do Mercosul, deputado Arlindo Chinaglia (PT).
A primeira versão da programação previa a presença do senador Aécio Neves (PSDB-MG), citado na delação da Odebrecht, mas ele não irá ao evento.
O ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, do Superior Tribunal de Justiça, será o moderador do painel sobre investigação de crimes financeiros.
Um dos debatedores será o desembargador federal Gebran Neto, relator da Lava Jato no TRF-4.
Participarão do seminário o ministro do STF Dias Toffoli, o ex-ministro da corte Eros Grau, hoje aposentado, e os ministros do Superior Tribunal de Justiça Mauro Campbell, João Otávio de Noronha, Luís Felipe Salomão e Paulo Tarso Sanseverino.
“É um evento plural, sem coloração política dos participantes brasileiros e portugueses”, diz Gilmar Mendes.
Ele também não vê problema em se ausentar de sessões do Supremo para participar de uma iniciativa privada.
“É uma atividade acadêmica, como será um evento privado a conferência em Harvard”, diz, em referência à Brazil Conference at Havard & MIT, nos próximos dias 7 e 8, nos Estados Unidos, que terá a presença de Dilma Rousseff e Sergio Moro.
O seminário em Portugal é patrocinado pela Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais (Aesbe), Itaipu Binacional e Federação do Comércio do Rio de Janeiro.
Tem apoio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), FGV, Fundação Peter Härbele, Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe).
PS do Viomundo: No evento de Gilmar em Portugal, o ministro e seu colega Dias Toffoli, que fazem parte da turma que julga os casos da Lava Jato no STF, se encontraram com três investigados pela Lava Jato, o ministro tucano Bruno Araújo, o senador Antonio Anastasia e o deputado petista Arlindo Chinaglia, todos convidados para o encontro.
A fala de abertura (ver o vídeo acima) foi de Fernando Henrique Cardoso, que indicou Gilmar ao STF. Aécio Neves desistiu de última hora, ele que foi gravado usando Gilmar como militante do PSDB para convencer o senador Flexa Ribeiro a votar a favor da lei do abuso de autoridade (ouça a interceptação telefônica abaixo).
Ou seja, foi um verdadeiro espetáculo de conflito de interesses reunindo empresas privadas, juízes e políticos.

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