O poder ilegítimo leva a poder algum

debret
O jornalista espanhol Tom Avedaño, em artigo publicado ontem à noite na edição brasileira do El País, diz que o Brasil é um país “em que os juízes tomaram o poder“.
A economia está em crise, a política gira em torno dos tribunais e o povo perdeu a esperança de que tudo fique melhor quando todos os culpados estiverem na cadeia. “A nova e definitiva era é de substituição de pessoas pelas instituições. Salvação, sim, sem salvadores”, afirma Ayres Britto, que foi juiz do Supremo Tribunal nomeado por Lula entre 2003 e 2012. Um futuro com a classe política atrás das grades, e que deixa a dúvida sobre quem liderará o país.
A “restauração da moralidade” – a pública, porque a privada segue ganhando imoralmente com a pobreza geral – que engana alguns trouxas, de fato, nos levou a esta estranha “democracia togada”, onde uma camada de “meritocratas” se substituiu ao povo na decisão de quem deve governar e, até, quem pode pretender governar pela via do voto.
 Moralidade, aliás, de uma casta que, alegremente, se autoconcede vantagens irrazoáveis e, várias delas, absolutamente imorais e vive, ao contrário do povo brasileiro, na fartura de quem – nas palavras do ex-presidente do Tribunal de Justiça de SP – vai a Miami comprar ternos.
Agora, o poder judicial volta-se para o processo eleitoral o qual, no fundo, desejaria abolir, o que faz na prática, ao pretender dirigi-lo.
O “povinho” deve clamar para que os iluminados bacharéis escolham quem eles poderão “escolher”.
A fórmula, para isso, é adaptar o seu poder de julgar de acordo com a lei em “julgar” por critérios absolutamente estranhos à lei: ideologia, moral, repercussão midiática e, até, obsessão patológica por exibir-se como “salvador da pátria” e refazedor, nos trópicos, de Cavaleiro das Mãos Limpas.
A disputa política, em nosso país, levada aos tribunais – e isso não é recente, vem dos tempos do “mensalão” – passou a ser travada quase que apenas na mídia, nos tribunais e nos mais imundos subterrâneos do parlamento, onde os personagens abjetos “servem” a propósitos desta ou daquela causa, ainda que depois sejam devorados e descartados pela máquina, como o foram Eduardo Cunha e Aécio Neves.
A que isso está levando, desde 2014, estamos vendo e, dolorosamente, sentindo.
Os únicos prazeres que se dão ao povo são os sádicos, a única expectativa é de que surjam mais escândalos.
O Brasil entrou num processo de dissolução que aboliu todas as nossas identidades, toda a nossa autoestima , toda a nossa capacidade de convívio minimamente  harmônico, em todos os graus, desde as famílias até o nacional.
Até mesmo as pesquisas eleitorais passaram a ser “comparativos de rejeição”, em lugar dos de apoio, uma espécie de “eu odeio este mais que odeio aquele”.
 É possível que suas Excelências, afinal, ocupem todo o poder e esvoacem suas togas como os militares desfilaram seus dólmãs, enquanto o poder real fica com aqueles com que o dinheiro lhes dá.

Postar um comentário

0 Comentários