UM #MANIFESTO CONTRA O #MACHISMO: manas de Pernambuco, estamos com vocês!

Jornalistas Livres
UM #MANIFESTO CONTRA O #MACHISMO: manas de Pernambuco, estamos com vocês!
Nós, do Movimento Mulheres no Audiovisual Pernambuco - viemos publicamente manifestar nosso repúdio e indignação diante do curta metragem "Embaraço", do diretor paulista Fernando Rick, que foi exibido no 10º Festival De Cinema De Triunfo.
O filme apresenta a história de uma mulher branca, de classe média, que tenta interromper uma gravidez indesejada. Ao longo de toda a narrativa, a construção da personagem se dá através de fetiches relacionados a um perfil psicológico estereotipado e ainda mais a um olhar estigmatizado sobre o corpo da mulher.
A história começa com a mulher em estado de vulnerabilidade transando com um homem que nunca vemos o rosto por completo. Uma cena de sexo amplamente utilizada nos meios de comunicação comerciais, explorando planos fechados em partes especificas do corpo da mulher como face e órgãos genitais. Após a descoberta da gravidez, a primeira tentativa de aborto induzido através do uso de uma medicação, é uma cena em que o diretor consegue erotizar o corpo da mulher a partir de uma construção sonora e visual que expõem de forma sensual a sua dor.
A partir deste momento, é colocada uma trajetória de repetidas tentativas solitárias e sem êxito da personagem. Aquela mulher, que tenta tomar a decisão sobre sua vida é gradativamente castigada aos olhos do diretor que retrata no seu corpo, na sua casa, e no seu psicológico, um estado de deteriorização como forma de puni-la pelas decisões tomadas. A “salvação” para esta mulher chega em um momento de auto agressão física direcionada para sua barriga que expõe a gravidez avançada. É quando surge a figura de um homem negro, com características que se assemelham ao universo das religiões de matrizes africanas de forma demonizada, preconceituosa e racista.
A irresponsabilidade de retratar um tema tão delicado e importante na trajetória de luta das mulheres a partir do horror, demonstra uma narrativa desinteressada em aprofundar o debate sobre o tema, que reforça um discurso conservador apenas através do campo da polêmica. Como se não bastasse, o diretor tenta ainda colocar o filme em um lugar que não condiz com sua abordagem, criando uma sinopse que se apropria justamente do debate das mulheres para ocupar um lugar que não o pertence.
Vivemos tempos difíceis. Tempos em que a luta feminina e antiracista se faz cada vez mais urgente e necessária. Tempos difíceis em que um retrocesso gigante nas conquistas sociais nos tornam ainda mais vulneráveis. E é nesse tempo que temos que assistir em tela grande, num festival de cinema, um filme que desconsidera completamente a luta de todas as mulheres e que de forma inconsequente fala sobre aborto.
Sabemos que a arte é livre e cada um faz e fala o que quer, mas, nós, enquanto movimento de luta contra o machismo não podemos permitir que isso passe impune. Vocês, homens cineastas, precisam entender de uma vez por todas que não podem mais nos transformar em objetos de suas obsessões e olhares viciados sobre os nossos corpos. E aos festivais fazemos um apelo para que não selecionem filmes como esse em suas programações.
Num país onde 4 mulheres morrem por dia devido a complicações em práticas de abortos ilegais, NÃO PERMITIREMOS QUE FILMES COMO ESSE nos silenciem uma vez mais.
Direcionamos ainda este manifesto a todas as janelas nas quais este filme já foi exibido, para que reflitam a própria responsabilidade:
Morce-Go Vermelho - Goiás Horror Film Festival
Festival de Cinema de Bogotá
NAU - Festival de Cinema e Artes de Expressão Ibérica
Lakino Berlin
Cineclube Toca o Terror
Festival Internacional de Cinema Independente (Festicine).
Riofantastik - Festival Internacional de Cinema Fantástico do Rio de Janeiro
Cinefantasy IFFF
Cine Horror - Rv Cultura Arte - Bahia
Festival de Cinema de Três Passos
Fantaspoa
E todos os outros."
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*Na imagem, as mulheres que trabalham com audiovisual e estavam presentes na exibição do filme no 10º Festival de cinema de Triunfo, manifestam repúdio durante a cerimônia de premiação.
Foto e informações: Mulheres no Audiovisual PE

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