Em entrevista à TV 247, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo condenou ideia de congelar os gastos públicos proposta e aprovada por Temer; "Ninguém dá um choque como esse numa economia que está desacelerendo, isso é consenso entre os economistas, mesmos os conservadores. É como um pugilista que levou muito soco no round e quando chega no corner o técnico em vez de jogar água nele lhe dá um murro na cabeça. A austeridade não funcionou e provocou danos na Europa", afirmou; Belluzzo comparou a situação do Brasil com o que viveu a Alemanha no período que precedeu a ascensão de Hitler; "O que me preocupa é isso. Qual é a instância na qual você pode confiar? O Judiciário é completamente tomado pela política. O Judiciário alemão se comportou como um partido político"; assista à entrevista na íntegra
24 DE SETEMBRO DE 2017 ÀS 07:51 // 247 NO TELEGRAM // 247 NO YOUTUBE
Leonardo Attuch e Alex Solnik -Nessa entrevista à TV 247, realizada pelos jornalistas Leonardo Attuch e Alex Solnik, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo compara a conjuntura atual no Brasil como a da Alemanha na segunda década do século XX: "De 24 a 28 a Alemanha viveu um período muito promissor, os desempregados tinham uma situação razoável, se criou uma política social muito parecida com o que foi feito aqui".
Quando veio a depressão, o remédio foi amargo: "Quando sobreveio a depressão a reação do chanceler Bruning foi muito parecida com o ajustamento que foi feito aqui em 2015. E o desemprego na Alemanha chegou a 40% ou 7 milhões de pessoas". Também lá o Parlamento caiu em desgraça: "Aconteceu a desmoralização do Parlamento e a entrega ao marechal Hindenburg de poderes especiais para que ele pudesse governar. Isso tirou a força do Parlamento, o que nós estamos assistindo aqui, por outras razões".
Ele não perdoa a ideia de congelar os gastos públicos proposta e aprovada por Temer: "É um negócio de uma burrice... desculpem, eu vou usar uma expressão meio violenta: é uma burrice que não tem tamanho". Leia a seguir os principais trechos da entrevista e veja a íntegra no vídeo.
LEONARDO ATTUCH: Por que o senhor tem feito comparações entre a situação do Brasil hoje e a República de Weimar que antecedeu o nazismo?
LUIZ GONZAGA BELLUZO: Porque as semelhanças são muito acentuadas. De 24 a 28 a Alemanha viveu um período muito promissor, os desempregados tinham uma situação razoável, se criou uma política social muito parecida com o que foi feito aqui e quando sobreveio a depressão a reação do chanceler Bruning foi muito parecida com o ajustamento que foi feito aqui em 2015. E o desemprego na Alemanha chegou a 40% ou 7 milhões de pessoas. Se jogou a sociedade numa crise social enorme, como a que estamos vivendo aqui. Estamos vivendo aqui uma crise social de muita profundidade.
LEONARDO ATTUCH: Mas é uma crise social que se soma a uma crise deslegitimização política.
BELLUZO: Isso.
ATTUCH: Isso começou como um processo que visava derrubar a presidente Dilma, como derrubou, destruir um partido político como quase destruiu e pode chegar à inabilitação do presidente Lula. Mas, no processo, toda a classe política da chamada Nova República acabou sendo desmoralizada. Esse fim da Nova República vai levar aonde?
BELLUZZO: Isso aconteceu com o Parlamento alemão, a desmoralização, e a entrega ao marechal Hindenburg de poderes especiais para que ele pudesse governar. Isso tirou a força do Parlamento, o que nós estamos assistindo aqui, por outras razões. O Parlamento está contaminado por uma inquietação da população...
ATTUCH: E o próprio Executivo que tem 3% de aprovação.
BELLUZZO; O que me preocupa é isso. Qual é a instância na qual você pode confiar? O Judiciário é completamente tomado pela política. O Judiciário alemão se comportou, segundo Franz Neumann, como um partido político.
ATTUCH: Processo que aconteceu na Itália depois...
BELLUZZO: Na Itália depois, isso...isso é terrível. Eu sou filho de juiz, filho de desembargador. Jamais eu poderia imaginar meu pai dar uma declaração sobre um processo em que ele está atuando. Jamais! Isso era impensável. Mas o clima é esse, todo mundo virou celebridade.
ATTUCH: Como sair da depressão que tirou 10% do PIB?
BELLUZZO: Para sair de uma depressão como essa olhando a situação histórica, em outros países, Roosevelt, que foi o maior estadista do século 20...
ATTUCH: Nisso concordamos...
BELLUZZO: ...que assumiu em 1933 tinha uma visão, digamos, um pouco mais ortodoxa da política fiscal, mas foi aconselhado pelo Hopkins, que era um sujeito que dizia: a fome não se discute.
ALEX SOLNIK: O que você achou dessa proposta de teto de gastos públicos por 20 anos?
BELLUZZO: A única vantagem é que não é factível. É um negócio de uma burrice... desculpem, eu vou usar uma expressão meio violenta: é uma burrice que não tem tamanho. O Brasil fez superávit primário até 2013. 2014 foi o primeiro ano em que você teve um déficit primário...
ATTUCH: 20 bilhões...Dilma fez num ano o que o Meirelles está fazendo todo mês.
BELLUZZO: Era 0,6% do PIB. Ninguém dá um choque como esse numa economia que está desacelerendo, isso é consenso entre os economistas, mesmos os conservadores. É como um pugilista que levou muito soco no round e quando chega no corner o técnico em vez de jogar água nele lhe dá um murro na cabeça. A austeridade não funcionou e provocou danos na Europa.
ATTUCH: Já foi criticada até pelo FMI...o que vai acontecer depois da destruição do BNDES? Nossos Facebook e Apple vão sair do nada?
BELLUZZO: O Facebook e a Apple são produtos do gasto americano com ciência e tecnologia nos programas militares e espacial americano.
ATTUCH: Capitalismo de estado?
BELLUZZO: Sempre foi.
Veja a entrevista na íntegra:
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