Governador tucano busca se consolidar como
candidato de centro ao Palácio do Planalto e investe em parcerias com a
iniciativa privada
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Adriana Ferraz, O Estado de S.Paulo
29
Janeiro 2018 | 03h00
Geraldo Alckmin na sexta-feira, 26, em Santos, onde
inaugurou unidades habitacionais Foto: AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO
Ao bater o martelo
duas vezes em um intervalo de nove dias sobre concessões à iniciativa privada,
o governador Geraldo Alckmin (PSDB) procurou dar um recado a seus adversários
pelo posto de candidato do centro ao Palácio do Planalto: “Aqui em São Paulo, a
gente não fica no discurso, a gente já faz reforma de Estado”, disse no dia 19,
após conceder duas linhas de metrô à iniciativa privada por 20 anos em um
negócio que alcançou 185% de ágio.
No último dia 10, o
tucano já havia comemorado o resultado do leilão do trecho norte do Rodoanel,
fechado com valor 91% acima do exigido. E, sem perder tempo, marcou a próxima
concessão para esta quarta-feira, quando pretende repassar a administração de
267 imóveis estaduais ao mercado, pelo lance mínimo de R$ 1 bilhão.
Às vésperas do início
de uma nova campanha presidencial, Alckmin quer deixar claro que desta vez não
vai esconder a disposição de conceder e privatizar bens nacionais, caso vença a
disputa pelo Planalto. Em 2006, quando perdeu a eleição para o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, o tucano chegou a vestir uma jaqueta com as marcas
de estatais como Petrobrás e Banco do Brasil para sinalizar que não “venderia o
patrimônio nacional”.
Agora, a estratégia é
inversa e considerada necessária tendo em vista as pretensões eleitorais do
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), e do presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ambos se apresentam como defensores de uma ampla reforma
de Estado.
“Não teríamos como
fazer esses investimentos apenas com os recursos do Tesouro, ainda mais em
período de crise”, diz Alckmin, que tem reforçado que a função do Estado não é
a de executor e provedor de tudo, mas a de fiscalizador dos investimentos em
serviços públicos.
Com a conclusão da
concessão das linhas 5-Lilás e 15-Ouro do Metrô, o governo atingiu R$ 130
bilhões em investimentos a partir de contratos firmados com a iniciativa
privada desde o primeiro negócio do tipo, o sistema Bandeirantes-Anhanguera, em
1998. De março do ano passado para cá, o valor alcançado foi de R$ 17 bilhões.
Campanha. Até
se desincompatibilizar do cargo para se dedicar à campanha nacional, em abril,
Alckmin pretende tirar do papel a concessão do sistema intermunicipal de ônibus
e fazer sua primeira privatização como governador: a da Companhia Enérgica de
São Paulo (Cesp), planejada por governos tucanos há mais de 20 anos.
Mas não sem sofrer
resistência da oposição e de setores diretamente afetados, como o dos
metroviários, que no dia 18 fizeram uma greve em protesto contra o leilão das
linhas 5 e 17. Segundo o sindicato da categoria, o edital lançado pelo governo
foi direcionado para a vencedora, a CCR. Alckmin negou.
Segundo a
subsecretária de Parcerias e Inovação do governo estadual, Karla Bertocco, uma
alteração na forma como o governo elabora os editais aumentou a concorrência.
Desde o ano passado, o governo não exige mais atestado técnico dos consórcios
durante a licitação, o que abriu caminho para a participação de fundos de
investimentos. Dois fundos já saíram vencedores de pregões, um espanhol e outro
italiano.
“Isso ampliou a
competitividade. Primeiro, porque permitiu a entrada desses novos players
(fundos de investimentos); segundo, porque deu acesso a empreiteiras menores de
participar das obras”, disse Karla.
“Ou fazemos isso ou continuamos reféns dessas quatro
ou cinco empresas que mandam no País ou mandavam antes da Lava Jato”, afirmou o
secretário de Governo, Saulo de Castro. A CCR, no entanto, é formada por
empresas como Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, investigadas na operação.
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