Início » Atentado contra Lula é o último recurso do golpismo (por Stela Farias)
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(Foto: Brasil de Fato)
Stela Farias (*)
O ex-presidente Lula sofreu um atentado à sua vida. Os ônibus da sua caravana na Região Sul foram alvejados por quatro tiros. Episódio confirmado pela perícia policial e registrado por jornalistas que ocupavam um dos veículos atingidos, mas relativizado por boa arte da imprensa da nacional, que minimiza a onda de assassinatos de lideranças de esquerda. Foram mais de 20 casos desde 2016, quando a ruptura democrática autorizou a ação de grupos extremistas e milícias financiadas por empresários e partidos de direita.
O escandaloso assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, inscrito nessa lista, está negligenciado pelas autoridades da mesma forma. Houve até uma campanha difamatória imediatamente após a morte de Marielle, revertida graças à ação abnegada de três advogadas. Mas até agora ninguém foi preso pelo crime.
A desonestidade intelectual, a mentira e a simpatia por milicianos aparecem disfarçadas na relativização e nas comparações esdrúxulas com as manifestações reivindicatórias de movimentos sociais, que jamais atacaram com paus, pedras, relhos e tiros. O fenômeno da relativização não é de hoje e vem dos mesmos lugares que negam o racismo, o preconceito de gênero e as realizações de governos de esquerda. São os militantes da amnésia, que acusam o povo de não ter memória e eleger maus políticos. Também são defensores da substituição dos políticos por empreendedores e do voto popular pela indicação de iluminados.
Os que queriam ter o poder para autorizar a livre circulação de Lula pelo RS ou pelo Brasil ignoraram que a caravana do ex-presidente demonstrou o quanto os governos do PT foram fundamentais na vida da maioria da população. Tentaram esconder que Lula foi recebido com enorme carinho por uma multidão, que reconhece nele uma liderança sensível, que materializou sonhos e mudou a vida das pessoas para melhor. Nem mesmo a campanha difamatória, as acusações sem prova, a vida privada revirada do avesso, as sentenças antecipadas, emitidas sem considerar a defesa e condenadas pelos mais sérios juristas do mundo, retiraram de Lula seu brilho e popularidade.
Se ninguém é obrigado a gostar, concordar ou apoiar Lula ou o PT, também é verdade que não se pode admitir grupos extremistas, agindo à margem da Lei e agredindo quem quer seja com paus, pedras e armas, impondo o medo e a censura à população. Isso é inaceitável e contamina toda a sociedade.
As lideranças envolvidas nesses episódios têm todo o direito de discordar ou de não apoiar, mas deveriam, no mínimo, respeitar a democracia. O que se viu guarda antecedentes na História. É o mesmo comportamento intolerante e criminoso que levou à ascensão do nazismo, como demonstrou a filósofa política Hannah Arendt em seus estudos sobre as causas do totalitarismo. A pensadora identificou exatamente esse tipo de comportamento dos autoproclamados cidadãos de bem, que formavam milícias para atacar judeus, ciganos e qualquer um que discordasse de suas ideias. A impunidade para o comportamento do olho por olho só estimula e autoriza que isso se repita, aumente e se torne um conflito de grandes proporções.
Não há como contestar as evidências de que os ataques contra a população foram executados por milícias, que tiveram a conivência, em alguns momentos, de autoridades cuja obrigação constitucional era evitar confrontos e deter eventuais delinquentes que atentassem contra vida de qualquer pessoa. Não se tratava de duas manifestações. Houve uma caravana democrática, percorrendo cidades gaúchas e um grupo de milicianos organizados, que perseguiu e agrediu as pessoas dessa caravana.
Os que denunciam a corrosão moral das instituições brasileiras, a começar por quem deveria zelar pelos nossos mais altos valores, são logo qualificados de paranoicos, de viverem numa bolha ou de serem adeptos das teorias da conspiração. Mas não foi uma paranoia que vitimou a vereadora Marielle Franco, no RJ. Assim como não foi uma teoria da conspiração que perfurou o rim de Deise Miron, em Cruz Alta, agredida a chutes, pontapés e relhaços por covardes que não sabem exercer seu direito à manifestação.
Normalizar atos de violência, aplaudir a agressão de mulheres, trabalhadores, agricultores, professores e estudantes tem raízes muito conhecidas. No entanto, o relho nunca foi instrumento de bravura ou dignidade dos gaúchos. Ao contrário, ele representa historicamente a covardia, o autoritarismo e a opressão.
Comparar fascistas com os movimentos sociais, como fizeram alguns jornalistas, demonstra desonestidade intelectual e descompromisso com os fatos. É um flerte perigoso com o que há de pior na sociedade. Hoje é a esquerda, amanhã pode ser qualquer pessoa por uma opinião contrária.
Quem apoia a violência, como a senadora Ana Amélia Lemos, se torna co-autor dos crimes e será responsabilizado, nos termos da lei. Incitar à violência é crime tipificado no Código Penal brasileiro.
A democracia foi criada para estabelecer o diálogo entre os diferentes, no lugar da guerra e da violência. Quem não reconhece isso, certamente opta pela barbárie, pelo retrocesso e por um caminho sem volta.
(*) Líder da Bancada do PT na ALRS
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