O país do “se vira”

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Dias atrás, o senhor Michel Temer inovou na ciência econômica ao proclamar que os números que davam conta do aumento da desocupação de milhões de brasileiros eram fruto do “desemprego psicológico”.
Na estranha e cínica deformação da mente temerina, o resultado se devia ao fato de que, com a “retomada” da economia, as pessoas que estava desalentadas, desistindo de procurar uma colocação, teriam “se animado” a procurar uma vaga, tamanha a nova pujança econômica.
Aí vem o IBGE e prova que aquilo que parecia uma idiotice, afinal, uma idiotice mesmo.
Porque aconteceu, sim, mas o contrário: desde o golpe, quase dois milhões de brasileiros desistiram de procurar um emprego e, como não podem desistir de viver e de dar comida para as crianças,  foram “se virar”. Do comércio de rua, aos bicos – que rareiam – até o inimaginável.
Diz a chamada de capa de O Globo, cruamente, que a taxa de desemprego só cedeu alguns décimos porque 500 mil pessoas saíram no mercado de trabalho para a inatividade em apenas um trimestre.
Dá para imaginar o que nos aguarda logo adiante, agora que o que era ruim piorou e até a mídia oficialista aceita que estamos à beira de uma novo espasmo de crise?
Segunda-feira, assisti uma destas operações de retirada da “casa” de moradores de rua, um amontoado de tapumes de obra feito para proteger um casa e seus dois fihos do frio da noite. Ontem, estavam lá outra vez, mas sem os tapumes e, claro, com o frio e a chuva.
O que vi, qualquer um pode ver nas ruas de nossas cidades maiores, onde a solidariedade diminui à medida em que os prédios crescem.
Vai piorar e piorar.
O “Super-Homem Moro” e seus coleguinhas da Liga da Justiça, que transformaram o Brasil no paraíso da honestidade deveriam, ao menos, entender que o único auxílio-moradia que esta gente sem esperança está recebendo são os restos de tapume para abrigar sua miséria.
Mas não vão, vão usar o mesmo conceito canalha do “desistiu de buscar emprego” como prova de indolência, como se os miseráveis deste país tivessem resolvido “viver de renda”.


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