Veja abaixo, a sua manifestação na rede social e os motivos que a levaram a deixar o partido:
Prof. Nelice Pompeu
São Paulo, 13 de julho de 2022
Sobre ciclos que se encerram!
Poderia começar com
reticências, mas será um ponto final, fim de um ciclo que se encerra!
E em respeito às tantas pessoas
que, como eu, acreditaram que o PSOL fosse um partido diferente, de
transformação das práticas políticas, alinhado às causas populares e que
mulheres tivessem vez e voz, informo que tomei a decisão de me desfiliar do
partido, que se tornou uma “colcha de retalhos” de várias correntes, que
disputam o poder permanentemente entre si, invisibilizando a militância
independente.
Tenho consciência que o momento
pode não ser o mais adequado para tomar essa decisão, por ser um ano decisivo,
com eleições importantes, e alguns podem distorcer os fatos e alegar que a
motivação é politica e eleitoral, porém os últimos acontecimentos, o assédio e
monitoramento constantes e outras situações me forçaram a antecipar a minha
desfiliação do PSOL. Para mim é uma grande decepção, pois eu estava disposta a
somar, aprender e ajudar a construir o partido! O PSOL precisa ir além do
discurso e disputas entre correntes, porém o fato determinante que levou à
minha desfiliação não é o “modus operante” do partido e sim a omissão frente às
denúncias que formalizei na comissão de ética.
No PSOL, que tem como uma das
principais bandeiras o protagonismo feminino, infelizmente senti na pele que é
um partido que não combate com vigor o machismo e o assédio. A humanidade e a
camaradagem que deveria prevalecer entre companheiros e companheiras de um
mesmo partido deram lugar à indiferença e falta de empatia!
A sororidade feminina e a luta
das mulheres deve ir muito além dos cards, estampas de camisetas e mensagens de
auto ajuda! Quando uma mulher grita por ajuda, ela não pode ser ignorada! Em
fevereiro deste ano, na véspera do Dia Internacional da Mulher, eu precisei
renunciar à coordenação do setorial da educação do PSOL, após episódio de
deboche e persistente ataque de um dos denunciados à comissão de ética do
partido. Foi muito dolorido decidir me retirar de um setorial, dentro da minha
área de atuação, sabendo que isso só fortalece a lógica machista que acaba
excluindo as mulheres dos espaços, rompendo a solidariedade entre nós!
Perante todos as situações que
passei e após uma longa reflexão, decidi também abrir mão da minha candidatura
neste ano , mesmo tendo recebido muito apoio para disputar as eleições. Passei
por momentos difíceis e percebi que a prioridade neste momento é me reconstruir
como ser humano e como mulher. Estou cansada de julgamentos, ataques e
tentativas de invadir a minha privacidade e de sofrer violência política de
gênero.
Resisti o máximo que pude pra
esperar o resultado do processo que instaurei na comissão de ética, mas ele
está paralisado devido às saídas de militantes do partido. Esperei o que pude
para que houvesse Justiça não só para mim mas para muitas mulheres, mas com
minha saída provavelmente este processo se encerra.É decepcionante ver que com
isso, inveterados machistas e assediadores, próximos de mandatos, talvez irão
vencer.
Resisti até agora, porque sempre foi por outras mulheres. Chega de ficar
em silêncio e a omissão também é uma violência contra a mulher.
Hoje vejo com muita tristeza,
um partido rachado, discursos distantes das práticas, muitas desfiliações,
militantes insatisfeitos e muita resistência em assumir o apoio ao Lula e ao
Haddad, em um momento que a esquerda deveria se unir , para derrotar a barbárie
e o bolsonarismo , bem como impedir que o tucanistão assuma novamente o Governo
em São Paulo! O fato de eu assumir publicamente o meu apoio à campanha de Lula
e Haddad trouxe algumas retaliações, que se intensificaram quando o Movimento
Escolas em Luta (em que participo) declarou apoio a uma Chapa, na eleição pela
Direção do Sindicato dos Servidores Municipais.
Os fatos aqui narrados são
apenas uma parte de todo sofrimento que passo, já que há muitas outras
situações que não foram expostas aqui! Diante de todo o exposto se tornou
inviável a minha permanência no partido, principalmente após a perda repentina
de uma companheira que era um dos únicos elos que eu mantinha com o PSOL.
Não é mais possível conviver no mesmo espaço político, com pessoas que
traíram a educação publica, machistas, misóginos e assediadores! Basta!
Amadureci diante das
dificuldades que passei e isso serviu como intenso aprendizado.
Não sou dona da razão, mas só esperava ser respeitada em minhas
posições.
Reconheço que ainda há valorosos companheiros e
companheiras no partido e de forma sincera e fraterna, agradeço toda a
solidariedade que recebi
Queria abraçar a todos e todas independentemente de correntes e partidos
e dizer muito obrigado.
Agora é momento de virar a página, saio do PSOL de cabeça
erguida, e jamais vou abandonar a luta por justiça para as mulheres, no combate
ao machismo, misoginia e ao assédio. E se isso é ser Rebelde, eu sou!
Continuo minha militância de mais
de trinta anos na educação e estarei sempre na defesa da escola pública,
gratuita, laica e de qualidade. Nossa luta é legitima e necessária! Informo
também que por enquanto não entrarei em nenhum outro partido e que continuarei
a atuar no Movimento Escolas em Luta, espaço plural na defesa da educação.
E não podemos vacilar, a luta continua e agora temos que reconstruir
nosso país, superar retrocessos e recuperar direitos.
É tempo de ir para as ruas apoiar a esperança de novos tempos e eleger
LULA, HADDAD e nossas candidatas a deputada federal e estadual.
Nos encontramos na luta!
Profa Nelice Pompeu
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