19/11/2022

Hacker Delgatti, da Vaza Jato, se aliou a militares para tentar achar falhas em urnas eletrônicas

 


Bancado por Zambelli, Delgatti se encontrou com Bolsonaro e com o ministro da Defesa e foi utilizado como garoto-propaganda para validar os ataques às urnas

Walter Delgatti e Carla Zambelli
Walter Delgatti e Carla Zambelli

247 - Responsável por hackear as mensagens de procuradores da Lava Jato - o que escancarou os excessos e ilegalidades da força-tarefa e permitiu que o agora presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fosse liberado de sua prisão injusta - Walter Delgatti Neto se aliou a militares para tentar encontrar falhas nas urnas eletrônicas, com o objetivo de alimentar a narrativa de bolsonaristas de que a eleição de 2022 estaria sendo fraudada.

Segundo a Veja, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) vem bancando as despesas de Delgatti. Foi ela, inclusive, que promoveu um encontro entre o hacker e Jair Bolsonaro (PL), em 10 de agosto, no Palácio da Alvorada. A parlamentar também orientou Delgatti a abrir uma empresa, a Delgatti Desenvolvimento de Sistemas, em 22 de agosto. 

"Ao sair da reunião no Alvorada, o hacker foi levado ao Ministério da Defesa para falar sobre as urnas com os militares, incumbidos de encontrar falhas no sistema. Empregar hackers arrependidos de seus crimes para ajudar no aperfeiçoamento de sistemas é um recurso comum em grandes empresas. A diferença neste caso é que a participação de Delgatti na Defesa não era conhecida nem pelo TSE, que àquela altura estava em tratativas públicas com os militares sobre a inspeção do código-fonte das urnas (em 12 de agosto, a Defesa pediu à Corte para estender o prazo de acesso a essa parte do sistema, o que foi atendido). No caso de Delgatti, há um outro complicador: é público que ele está proibido pela Justiça de acessar a internet e de se ausentar de Araraquara (SP) por causa do processo em que é réu pela invasão de contas no Telegram", conta a revista.

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A partir da reunião com militares, o hacker passou a defender a tese - também difundida pelos próprios militares - de que o código-fonte das urnas podia, sim, conter um “código malicioso”. Tal código roubaria votos de Bolsonaro e os transferiria para Lula.  "Mesmo sem ter conhecimento técnico para fazer a análise de sistemas complexos como o eleitoral, embora entenda bem de informática, Delgatti passou a dizer também que estava convencido de que somente um teste de integridade feito na hora e no local da votação, com a biometria de eleitores reais, seria capaz de mostrar se os equipamentos estavam registrando os votos corretamente. Esse era o principal pleito da Defesa junto ao TSE e acabou sendo aceito parcialmente por Moraes. O ministro determinou que o teste de integridade com biometria fosse realizado, mas em pequena amostra das urnas, para não atrapalhar a votação".

Ao fim da eleição, militares não encontraram nenhuma fraude, mas divulgaram nota afirmando que, em seu relatório, encontraram brechas que poderiam causar eventuais erros no futuro.

"A maneira como Delgatti participou da movimentação arquitetada por Zambelli mostra como alguns órgãos do governo estavam envenenados para desacreditar as urnas. Segundo fontes ouvidas por VEJA, o hacker teria sido conduzido à Defesa pelo coronel Marcelo Costa Câmara, assessor especial de Bolsonaro na Presidência. Dentro do Ministério da Defesa, onde chegou por uma portaria na garagem, Delgatti teria tido um encontro com o titular da pasta, o ministro Paulo Sérgio Nogueira, e conversado com um grupo que incluía o coronel Eduardo Gomes da Silva — oficial do Exército que não tem cargo na pasta. Silva é secretário especial de Modernização do Estado, vinculado à Secretaria-Geral da Presidência, e ficou conhecido em julho de 2021 ao aparecer ao lado de Bolsonaro na live em que o presidente lançou suspeitas contra as urnas, sem apresentar provas. Questionado por VEJA, o Ministério da Defesa não quis se pronunciar sobre o caso. Já a Secretaria-Geral da Presidência disse, em nota, que 'não tem conhecimento dos fatos'. Na semana que passou, um grupo de advogados pediu ao STF o impeachment do ministro da Defesa, e o deputado Marcelo Calero (PSD-RJ), seu afastamento do cargo", diz a reportagem.

A matéria também conta que, em setembro, Delgatti "tentou invadir, em setembro, a intranet do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, após detectar supostas brechas que lhe permitiriam acessar a rede, mesmo que de forma superficial. A ideia, novamente, era só causar barulho, sustentando que o sistema não era seguro, ao contrário do que dizia o TSE. O plano não prosseguiu, possivelmente porque não teve sucesso. Tampouco prosperou a ideia de usar o hacker como garoto-­propaganda contra as urnas durante a campanha. Procurados pela reportagem, Delgatti e Zambelli não se manifestaram".

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