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O Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos, se inicia no próximo dia 10 de março. A data tem sido um marco importante na nova rodada de negociações que tiveram início no domingo
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Por Henry Galsky, RFI - "O Egito continua seus intensos esforços para chegar a uma trégua antes do Ramadã", afirma o canal AlQahera News, citando "um alto responsável". Segundo a fonte, cuja identidade não foi revelada, "houve um avanço significativo nas negociações" no Cairo.
A poucos dias do início do mês sagrado dos muçulmanos, os mediadores internacionais pressionam o grupo Hamas a aceitar as linhas gerais obtidas nas conversas em Paris e em Doha, no Catar. Israel havia concordado com esse esboço que dava conta de uma proporção de um refém israelense a ser libertado em troca de dez prisioneiros palestinos soltos.
No domingo, a situação era de impasse; Israel estabeleceu que a condição para o prosseguimento das conversas deveria ser a apresentação por parte do Hamas de alguns esclarecimentos: quantos reféns israelenses permanecem vivos e se o Hamas concordava com a proporção numérica entre reféns do país a serem libertados e prisioneiros palestinos que devem ser soltos.
Segundo o Catar, o Hamas não entregou a lista das pessoas mantidas em cativeiro, nem se pronunciou de forma precisa sobre a proporção entre reféns de Israel e prisioneiros palestinos. Assim, o gabinete de governo israelense se reuniu e decidiu não enviar ao Egito a delegação de negociadores israelenses.
Um oficial de alto escalão do Hamas disse posteriormente que o grupo só irá aceitar um acordo para a saída das pessoas do cativeiro caso Israel venha a se comprometer com um “cessar-fogo definitivo”. Ou seja, o grupo retornou a uma posição inicial das negociações que, aos olhos dos mediadores, já havia sido discutida e superada.
Questão crítica
Nesta semana, os israelenses devem tomar a decisão oficial sobre as restrições de acesso ao Monte do Templo - como é chamado pelos judeus - ou Esplanada das Mesquitas - segundo a tradição muçulmana - em Jerusalém. Esta é uma das questões mais críticas no conflito entre os dois lados, mesmo em momentos de relativa tranquilidade. Há quem considere o local o ponto mais tenso em todo o Oriente Médio.
Diante disso, Benny Gantz e Gadi Eisenkot, membros de oposição que se juntaram ao governo de emergência, querem que as diretrizes acerca do acesso de fiéis muçulmanos sejam decididas apenas pelo Gabinete de Guerra reduzido, formado somente por cinco membros, não pelo gabinete mais amplo. A ideia de ambos é excluir o nome mais extremista da atual coalizão do processo de tomada de decisão: Itamar Ben Gvir, ministro da Segurança Nacional.
Ben Gvir não faz parte do Gabinete de Guerra reduzido. Tendo em seu currículo basicamente atos de incitação, ele é considerado uma ameaça ao frágil equilíbrio que tem sido mantido em Jerusalém mesmo durante o conflito atual. O Ramadã é o período mais delicado e durante o qual esta fragilidade vai ser testada em seu limite máximo.
Interesses políticos
Todos os anos Israel estabelece restrições de acesso ao Monte do Templo ou Esplanada das Mesquitas. Agora, com a guerra em curso, as discussões sobre como proceder são ainda mais afetadas por interesses políticos, em especial dos extremistas. Ben Gvir havia sugerido um plano em que mesmo o acesso aos árabes-israelenses seria autorizado apenas a quem tivesse mais de 70 anos. Nenhum palestino da Cisjordânia poderia ir ao local durante o Ramadã.
A visão de Ben Gvir é oposta a das agências de segurança de Israel. O Shin Bet, o serviço de segurança interno, e o exército do país consideram importante dar livre acesso aos árabes-israelenses, assim como a mulheres palestinas com mais de 50 anos de idade e homens palestinos com mais de 60. As duas instituições – Shin Bet e exército – entendem que é preciso aliviar a pressão, não aumentá-la, como parece querer Ben Gvir.
Benny Gantz e Gadi Eisenkot estão alinhados a esta visão e entendem a sensibilidade do local e do momento. A avaliação em Israel é que um erro de cálculo tem o potencial de transformar o conflito numa guerra religiosa capaz de mobilizar todo o mundo muçulmano.
Por isso, os dois membros de oposição querem reforçar o compromisso com uma orientação profissional e não ideológica, como a de Ben Gvir. Assim, ainda nesta semana, a polícia de Israel vai apresentar o parecer oficial sobre o assunto e a decisão será tomada.
Tragédia durante distribuição de ajuda humanitária
Na última quinta-feira (29), 115 palestinos morreram no norte da Faixa de Gaza num projeto inicial de Israel de distribuir ajuda humanitária diretamente para a população sem passar pelo grupo Hamas e as agências das Nações Unidas. A tragédia, que comoveu o mundo inteiro, é também resultado da falta de decisão do governo Netanyahu sobre o chamado “dia seguinte” em Gaza, ou seja, o que deve acontecer com o território após a guerra. Desde o início do conflito, os Estados Unidos cobram do premiê israelense um plano viável para o enclave palestino.
Não há exatamente muitas opções disponíveis a Israel: ocupar o território e estabelecer um governo militar - algo que Tel Aviv já deixou claro que não irá fazer -, devolver a Faixa de Gaza ao Hamas e começar todo o processo do zero, ou aceitar a sugestão dos norte-americanos e transferir o poder para a Autoridade Palestina, sob a liderança do presidente Mahmoud Abbas.
Um oficial de alto escalão do Exército de Israel disse que há um atraso de pelo menos dois meses na transferência de poder a “outros responsáveis” na Faixa de Gaza. A declaração reforça a pressão que já tem sido exercida pelo governo dos Estados Unidos: era preciso planejar o “dia seguinte”. Segundo essa fonte israelense, o exército considera que o período já chegou.
Assim, Israel se expõe e se complica: ainda não há um acordo para a libertação dos reféns e não se sabe quantos ainda permanecem vivos. Além disso, episódios como o da tragédia que levou à morte de dezenas de pessoas durante a distribuição de ajuda humanitária isolam o país ainda mais na comunidade internacional.
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