Amigos e familiares se despediram nesta terça-feira (5) do fotógrafo Evandro Teixeira, um dos mais importantes fotojornalistas do país. Ele foi velado na Câmara Municipal no centro do Rio de Janeiro. Teixeira morreu nesta segunda-feira (4), no Rio. Estava internado na Clínica São Vicente, Gávea, zona sul da cidade. Segundo a instituição, a morte ocorreu por falência múltipla de órgãos, em decorrência de complicações de uma pneumonia.
Após o velório, Teixeira foi cremado no Cemitério do Caju. As cinzas dele serão levadas para Canudos, na Bahia. De acordo com familiares, a decisão foi tomada por causa da relação de Teixeira com a cidade e seus habitantes que ele fotografou e eram descendentes dos sobreviventes da Guerra de Canudos (1896-1897).
Teixeira deixou viúva, duas filhas e três netas. Uma das filhas, Carina Caldas de Teixeira, disse que o legado do pai é um olhar muito atento, com capacidade de enxergar o que a gente não via. “Ele tinha disciplina. Dizia que a sorte ajuda quem vai atrás. Ele tinha uma genialidade feita com disciplina. Ele tinha um olhar apaixonado pelo Brasil. Ele ainda fotografava. Ele foi ao Festival de Paraty em meados de setembro onde foi homenageado. Era um projeto por dia. Era uma generosidade muito grande com os fotografados, com os colegas, com os estudantes de fotografia”, disse Carina.
O cineasta Silvio Tendler era amigo de Evandro Teixeira desde a década de 1980. “Ele é um historiador da fotografia. Ele com os cliques dele cruza histórias maravilhosas. Fotografou a Marcha dos Cem Mil, o Evandro documentou o golpe no Chile, conseguiu entrar no Estádio Nacional, conseguiu fotografar o Pablo Neruda morto na clínica onde ele estava e a casa do Neruda toda destruída pelo golpe. Ele tem fotos da Rainha Elisabeth que ninguém tem. Ele conseguia fazer a foto que ninguém conseguia. Tem uma vastíssima documentação de Canudos. Era carinhoso, afetuoso. Teve uma vida bem vivida”.
O fotógrafo Ricardo Beliel foi amigo de Teixeira por 50 anos. “Desde o início da minha profissão eu convivi com ele. Fizemos muitas coberturas juntos. Muitas vezes como concorrentes, eu trabalhando pelo Globo e pela Manchete, e ele sempre pelo Jornal o Brasil. Ele fez fotos que se tornaram ícones do fotojornalismo. Era sempre um encontro amigável, afetuoso, de risadas. Agora nós nos encontrávamos e ríamos muito do que fizemos. A última vez que estive com ele foi recente e promovi o encontro com Walter Firmo e o Sebastião Marinho na casa do Evandro. Ele estava com planos de ir a Canudos de novo. O Evandro é um dos maiores fotógrafos da história da fotografia. Ele viveu intensamente. Ele soube viver bem”.
O acervo de Teixeira com 180 mil imagens está abrigado no Instituto Moreira Salles.
O fotógrafo nasceu no município de Irajuba, na Bahia, em 1935. Ele iniciou a carreira jornalística em 1958 no jornal O Diário de Notícias, de Salvador. Depois, transferiu-se para o Diário da Noite, do grupo dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, no Rio de Janeiro.
Em 1963, foi contratado pelo Jornal do Brasil, onde alcançaria a maior projeção como fotojornalista. Foram quase 47 anos na empresa, de onde saiu em 2010, quando o JB deixou de circular na versão impressa e passou a ter apenas a edição digital. Ele também se tornou autor dos livros: Fotojornalismo (1983); Canudos 100 anos (1997); e 68 destinos: Passeata dos 100 mil (2008).
Nenhum comentário:
Postar um comentário