do PT SP
De passagem, por Charles Gentil
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Praticamente às vésperas da passagem de ano, Ricardo Nunes, que por cálculo eleitoral, até ontem, havia se esquivado de anunciar, enfim,comunica que a passagem de ônibus em São Paulo irá aumentar para R$ 5,00 no dia 06 de Janeiro de 2025.
O presente de Natal de Ricardo Nunes para os paulistas foi, intencionalmente, adiado para não gerar colapso em suas intenções de reeleição.
No entanto, superado o calendário eleitoral o mimo natalino previsto chegou ( com atraso, mas chegou) e em um momento em que, devido as festividades de fim de ano, muitos só saberão, na prática, quando na primeira segunda-feira de 2025, o reajuste de Ricardo Nunes, se tornar realidade.
Realmente, este anúncio é para estragar a passagem de ano.De fato, já mostra que a ida de um ano e a chegada a outro não será nada fácil, e fará com que nós, ao rodarmos a catraca do ano velho para sermos transportados para o ano novo, não veremos nada de mágico acontecer, a não ser o dinheiro sumir ainda mais rápido de nossos bolsos, já fantasticamente onerados com dispêndios anteriores de mobilidade urbana.
A passagem de ano foi,assim, tarifada por Ricardo Nunes. Assim, até o sabor da champanhe ficou mais caro. E no ano vindouro – já se sabe – teremos que amargar nossa prosperidade ir para o ralo do validador do ônibus.
Aliás, Ricardo Nunes conseguiu mesmo a façanha de estragar a festa (Deus me livre !!!). Francamente, depois do anúncio de ontem, soará até esquisito dizer: “Adeus Ano Velho. Feliz Ano Novo”. Porque, em matéria de mobilidade urbana: quem não se caberá em si mesmo de tamanha felicidade? ao terminar o transporte no túnel do tempo e descer,em 2025, no ponto do reajuste tarifário.
Assim, o ano que vai nascer já traz menos dinheiro no bolso e para que tudo (de bom) se realize, só mesmo se conseguissemos que Noel transportasse Nunes e Mello para o inferno ou melhor dizendo: para o Pólo Norte, já que a rota deste aumento é irreversível e, com isso, melou-se até a expectativa da passagem de ano, daí porque, o recurso à imaginação de uma intervenção generosa do bom velhinho do Ártico, talvez, pudesse trazer, de passagem, algum breve alento.
Alento,talvez.Encanto nunca. Porque diante de um aumento real da passagem não há – reflete o paulista – magia que resista até porque isto irá repercutir no próximo Natal com menos compras, menos presentes e até com menos champanhe de final de ano, quando aquele ano novo se tornar velho e chegar o momento de fazer a nova passagem(vou começar a me benzer quando falar em passagem, já fico até arrepiado).
Aliás, me espanta também a capacidade e habilidade de Ricardo Nunes, enquanto gestor, em terceirizar as consequências de suas decisões e ainda de passagem buscar atribuir – por má-fé ou fé, má – quem, na verdade, deveria isentar desta responsabilidade.
Ricardo Nunes, durante a campanha eleitoral transportou ( leia-se: terceirizou) para o governo federal, o caos da prestação de serviços da Enel, que mergulhou parte de São Paulo na mais absoluta escuridão, quando sabe-se que a situação só chegou onde chegou, porque houve um apagão de Prefeito na cidade, ou seja, faltou ao Prefeito prefeitar e cuidar, portanto, da capital.
Agora, muda o assunto, mas mais uma vez, responsabiliza o Executivo e quer Ricardo Nunes argumentar que o reajuste tarifário, em parte se faz necessário, devido projeções macroeconômicas que não se apresentam confiáveis, atribuindo, assim, a performance questionável do governo federal nesta área, quando, aqui, o correto seria considerar que a inflação está sendo ditada não por Lula, mas por Roberto Campos Neto, que na condição de presidente do Banco Central ( ele que foi nomeado por Bolsonaro) deliberadamente decidiu manter os juros altos, como método de sabotagem ao governo Lula.
Logo, inquestionável é o fato de que, embora Ricardo Nunes, não admita, a passagem de Bolsonaro pelo governo colapsou a economia (que hoje está sendo reconstruída ), mas o itinerário de Roberto Campos Neto no Banco Central procura continuar a obra de Bolsonaro que custou muito caro ao país.
Aliás, por falar em custo outro argumento de Ricardo Nunes é que, desde Janeiro de 2020, a passagem não havia sido reajustada, embora a inflação acumulada seja de 32%, o que equivaleria a uma tarifa, hoje, de R$ 5,80, quando o valor para o ano vindouro ficou fixado em R$ 5,00, portanto, abaixo da inflação.
É ponto pacífico que o valor fixado ficou abaixo da inflação. Isto, porém, não significa que deve-se agradecer por isso, até porque o valor – ainda que abaixo da inflação – fica acima do que é possível às pessoas suportarem.
Deste modo, fica evidenciado que não adianta dar com uma das mãos: Tarifa Zero aos domingos ( aliás, reduzindo-se a frota de ônibus) e tirar com a outra: aumentando o valor semanal diário da passagem( ainda que o reajuste esteja abaixo da inflação acumulada).
Afinal, para além destes malabarismos de ocasião, o que Ricardo Nunes, enquanto gestor, precisa entender é que o tema da mobilidade urbana precisa ser tratado com seriedade e para além da pequenez da lógica meramente eleitoral e do compromisso específico para gerenciar eventuais futuras crises, com soluções simplistas de reajuste tarifário permanente, advindas dos administradores do transporte público, que tratam o modal, no entanto, como se privado fosse quando, na verdade, é algo surreal ter-se que pagar um transporte que é público.
E tratar com seriedade este tema significa que não basta sequestrar, enquanto Prefeito, uma pauta da esquerda: a Tarifa Zero e implantar pontualmente, apenas para fins de benefícios eleitoreiros, mas consiste em reconhecer que o custo exorbitante da passagem afeta o direito constitucional de ir e vir dos cidadãos, quando encarece o custo de vida das pessoas e impacta negativamente em suas vidas comprometendo o orçamento das famílias e, com isso, prejudicando por exemplo, o consumo adequado de víveres, a renovação do vestuário, o custeio com moradia ou mesmo a aquisição de medicamentos indispensáveis.
Por isso, já é chegada a hora de reconhecer a necessidade de se implantar a Tarifa Zero não de passagem (apenas em um dia ), mas de forma eficiente, isto é, como um direito assegurado de todos cidadãos em todos os dias e sem restrições( e de segunda-feira a segunda-feira) e isto, não só é financeiramente viável, como é componente fundamental para a garantia de um dos aspectos fundamentais do Direito à Cidade, a fim de torná-la mais justa, acolhedora e melhor para se viver.
Portanto, apesar de Ricardo Nunes ter se esforçado ao máximo para jogar um balde de água fria nesta passagem de ano pelo anúncio do aumento, em 2025, da tarifa da passagem de ônibus na cidade, não pode-se esquecer – devido a indignação e a tristeza por entendermos que mesmo contrariados teremos que carregar o peso deste ônus no cangote de nossos bolsos – que apesar de tudo, a passagem de Ricardo Nunes na Prefeitura pode nos custar caro, mas ainda assim, – e isto há de ser celebrado ainda este ano com champanhe – ainda assim, Ricardo Nunes (graças à Deus) só está, na Prefeitura, de passagem.
Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro
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