02/09/2025

Rede de ensino de São Roque rejeita o material didático do SESI

 
Desde 2023, o Conselho Municipal de Educação (CME) dialoga com o Departamento de Educação e Cultura (DEC) de São Roque sobre as razões pedagógicas que levaram o município a adotar o material didático (apostilado) do SESI (Serviço Social da Indústria). O questionamento surgiu a partir de reclamações que chegaram ao Conselho alegando que o material didático do SESI não conversa diretamente com o currículo elaborado pela própria Rede de Ensino de São Roque no período de 2017-2019; de ser um material que exige conectividade e acesso regular à internet, aspectos não ofertados por muitas escolas públicas da cidade; e por ser desnecessário devido à oferta gratuita de livros didáticos do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) do governo federal.
O DEC argumentou que o material foi adquirido por iniciativa do prefeito, pois constava no seu Plano de Governo. O Conselho verificou o Plano encaminhado ao Tribunal Eleitoral em meados de 2020 e não encontrou nenhuma referência à aquisição de material apostilado. Também se argumentou, por parte do Departamento, que as capacitações/formações disponibilizadas às educadoras e aos educadores pelo SESI contribuíam para melhorar a qualidade de ensino.
Com a publicação do resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), dado oficial do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) do Ministério da Educação (MEC) em 2024, referente ao ano de 2023, o CME preocupou-se com a suposta melhora nos indicadores. A publicação trouxe cenário diferente. Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental (1º a 5º ano), São Roque deixou de alcançar as metas mínimas desde 2015. Hoje a cidade encontra-se abaixo do estado de São Paulo e de municípios da região, com uma nota de 5,7. Vargem Grande Paulista alcançou o índice de 6,6; Barueri e Santana de Parnaíba 6,4; Osasco 6,3; Itapevi e Cajamar 6,1; Cotia 6,0; Jandira 5,8; e São Roque e Carapicuíba, 5,7.
Nos Anos Finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano), os dados reafirmam o declínio na qualidade de ensino na Rede de Ensino de São Roque, com nota de 4,9; enquanto a médio no estado de São Paulo é de 5,4.
Diante desse quadro, o Conselho solicitou a análise técnica que embasou a compra do material didático do SESI. O DEC informou que o material foi adquirido pela modalidade inexigibilidade técnica, que se refere às situações em que a competição é inviável, seja pela exclusividade de fornecimento do objeto ou pela escassez de empresas que possam concorrer e atender às necessidades da Administração Pública.
Também se questionou a avaliação por parte do DEC sobre a qualidade e aceitação do material didático do SESI, porém, até meados de 2025, esse estudo ainda não havia se concretizado. Assim, o CME propôs um questionário elaborado pelas conselheiras e conselheiros - e corrigido pelo Departamento de Educação e Cultura. Diante de possível desconforto por parte do DEC na aplicação do formulário, o Conselho encaminhou, via e-mail e grupos de WhatsApp de educadoras e educadores, questionário com 28 perguntas (quase todas fechadas), que deveriam ser respondidas entre 31 de julho e 8 de agosto de 2025.
A Rede de Ensino de São Roque possui cerca de 650 professoras e professores que atuam no Ensino Fundamental. Desses, 92 responderam o questionário, compreendendo percentual de quase 15% da totalidade do contingente.  Em outras palavras, mesmo com as intempestivas adversidades, a pesquisa alcançou significativo universo.
Nas perguntas estritamente pedagógicas, as respostas foram predominantemente “Parcialmente” ou negativa. Questionados se “No seu componente curricular, os materiais didáticos do SESI utilizados na Rede de Ensino de São Roque apresentam uma sequência/estrutura lógica?”, 37% indicaram que não e 51,1% que parcialmente.
Na pergunta se “No seu componente curricular, o conteúdo disponibilizado pelo material didático do SESI é complementado pelo conteúdo do ano seguinte, deixando a progressão do aprendizado mais fluida?”, quase 50% de docentes responderam que não, colocando em dúvida a proposta pedagógica do material didático em questão, pois uma das características de bons livros para o Ensino Fundamental é a garantida de continuidade do processo de ensino aprendizagem.
Ainda sobre os pontos negativos do material didático do SESI adotado na Rede de Ensino de São Roque, quase 50% de docentes responderam que as abordagens de conteúdo e atividades do material didático do SESI não são condizentes com o nível de ensino proposto. Nessa mesma linha, 63% responderam que o material didático do SESI não apresenta linguagem adequada à faixa etária.
Sobre os pontos positivos do material didático do SESI, os respondentes acentuaram que os conteúdos apresentados são atuais, contextualizados e os dados evocados são válidos. Quase 70% das pessoas que responderam indicaram que o material didático do SESI apresenta atividades extraclasse, item essencial no processo de ensino aprendizagem.
Ao mesmo tempo, quando questionado se “Sua unidade escolar apresenta condições materiais (exemplo: internet, laboratório, computadores/notebooks, etc.) que potencializam a aplicação do material didático do SESI?”, quase 50% de docentes indicaram que não. Um dos problemas sugestionados por educadoras e educadores que motivou o Conselho a realizar a presente pesquisa foi, justamente, o disparate entre a proposta pedagógica do material didático do SESI e as condições materiais objetivas de trabalho, especialmente a falta de conectividade, aparelhos de informática insuficientes e oscilação da internet em diferentes unidades de ensino.
Em 2023, o DEC argumentou que a parceria com o SESI contribuía com a capacitação/formação docente. Porém, as respostas colhidas no questionário não indicam isso. Sobre a pergunta: “O material de apoio ao(à) professor(a) oferece sugestões de abordagens e atividades que ajudam no momento do preparo e prática das aulas?”, 60% responderam que parcialmente; e 27% que não.
Quando confrontados com a pergunta: “A metodologia dos materiais didáticos do SESI é compatível com o Projeto Político Pedagógico (PPP) da sua unidade escolar?”, mais de 45% responderam que não.
Perguntado sobre “a relevância do material didático do SESI adotado pela Rede de Ensino de São Roque para tornar o processo de ensino aprendizagem significativo no último ano?”, mais de 70% deram uma nota abaixo de 5 (de 1 a 10). No final, confrontados com a questão se “gostaria de receber o material didático do SESI em 2026?”, quase 90% dos docentes responderam que não.
Pontos positivos foram ressaltados sobre o material didático do SESI, especialmente a proposta de conectividade e as atividades extraclasse, porém, muitas escolas de São Roque não possuem, segundo a pesquisa, condições materiais objetivas para concretizar o potencial das apostilas do Sistema SESI. Talvez por isso, docentes da rede não enxerguem razão para continuar a parceria.
Diante disso, o Conselho Municipal de Educação sugeriu um diálogo direto e franco com as educadoras e os educadores da Rede de Ensino de São Roque antes de tratativas para um novo contrato junto ao SESI para o ano escolar de 2026.
 
Conselho Municipal de Educação de São Roque
O relatório completo poder ser lido na página eletrônica do CME, no site da prefeitura de São Roque

Nenhum comentário:

Postar um comentário