Desde 7 de novembro, ação federal integrada antecipa benefícios, mobiliza forças de saúde, defesa civil e assistência social e atua na retomada de serviços e estruturas essenciais
“Começou aquele barulho e minha filha pegou o Pietro, meu neto de um aninho, e puxou para o lado em que eu estava, perto do banheiro. Nós nos juntamos todas, nos abraçamos e oramos, sempre protegendo o Pietro. Dizem que durou 40 segundos, mas parecia um ano.”
O relato resume um trauma que completa um mês: o desespero de ver a casa destruída por um tornado, descrito pela faxineira Rosalina Gonçalves Rodrigues, de 44 anos, 25 deles em Rio Bonito do Iguaçu (PR). Ela dividia o lar com três filhas e o neto no município de 14 mil habitantes na região centro-sul do estado, um local que agora é lembrança da força devastadora dos eventos climáticos extremos.
Com o dedo apontado em direção ao chão de terra, ela indica os escombros do que até um mês atrás eram paredes, pilastras e pilares. Os danos espalhados já não fazem Rosalina chorar. O sentimento atual é uma mistura de otimismo e esperança. Uma reconstrução que ainda vai exigir um tempo, mas que conta desde o dia seguinte à tragédia com presença e acolhimento do Governo do Brasil.
Logo no dia 8, a ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais da Presidência), paranaense de Curitiba, visitou Rio Bonito e ajudou na coordenação integrada das ações na cidade e em municípios vizinhos. Já no dia 11, o Governo havia aprovado dois planos de trabalho, com R$ 25 milhões para reparo de infraestruturas públicas essenciais. Após 10 dias, o investimento federal superava R$ 44 milhões para múltiplas ações em apoio aos paranaenses.
Segundo Josias Lesch, representante da SRI designado como coordenador das iniciativas federais na região, o conjunto de auxílios supera R$ 50 milhões.
Planilhado pelos ministérios, principalmente o da Integração e do Desenvolvimento Regional, são R$ 45 milhões, mais a contribuição de Itaipu Binacional. São recursos para reconstruir escola, ginásio, centro cultural, rodoviária e ajuda humanitária. Um valor grande foi destinado à limpeza e retirada de escombros e lixo, mais de R$ 8 milhões”, detalha Lesch.
“O Governo do Brasil coloca esse dinheiro na recuperação do município, faz a articulação dos ministérios em campo — mais de 90 profissionais — e com as esferas municipal e estadual, mas também com movimentos da sociedade civil organizada presentes no território. E o estado do Paraná faz a parte das moradias e outras ajudas”, explicou Lesch.

- Tendas do Governo do Brasil organizadas no centro da cidade para atendimento da população. Foto: Diego Campos / Secom / PR
GATILHOS EMOCIONAIS – Uma das vertentes essenciais da presença federal é o acolhimento de quem perdeu tudo e em ações voltadas para cuidar da saúde mental. Um abrigo provisório foi montado em um hotel da cidade. Profissionais da Força Nacional do SUS e do Sistema Único de Assistência Social passaram a atender famílias e crianças. Isso porque voltar à escola e a atividades cotidianas muitas vezes é desafiante, porque qualquer mudança do clima, formação de nuvens escuras ou ventos mais intensos se tornam gatilhos emocionais. Dão a sensação de que algo similar ao que ocorreu em novembro possa se repetir.
“Foi muito bom ir para o abrigo, pois ficamos mais confortáveis e à vontade. Lá a minha menina foi, logo nos primeiros dias, atendida por psicóloga, porque chorava muito e nem podia ver como estava a casa que começava a chorar. As meninas ainda não foram à escola. Vão continuar sendo acompanhadas para ver se conseguem se concentrar. Eu também preciso me controlar quando vem chuva, porque ainda fico com medo de elas saírem de perto e acontecer uma coisa ruim”, explicou Rosalina.
A filha caçula dela, por exemplo, ainda fica com lágrimas nos olhos ao reconhecer objetos como os que faziam parte de sua vida — brinquedos, roupas, móveis e eletrodomésticos — em meio a escombros. “É difícil porque depois que passou o tornado vimos que arrancou o telhado e caiu o forro. A janela quebrou, portas arrebentaram e emperraram. Fogão e guarda-louça amassaram. O guarda-roupa não tem mais”, listou a mãe das garotas.
RETOMADA – O processo de retomada tem a ajuda da população local e de vários cantos do país. “Conseguimos doações de colchão, roupa, calçado, comida, produtos de limpeza e higiene. Todo mundo ajudou um ao outro", relatou. Agora, ela foca nos planos que tinha antes do tornado para projetar o futuro. “Íamos construir um quartinho para a minha filha mais velha e perdemos quase todos os materiais. Agora conseguimos um pouco de material para construir novamente e ela morar atrás da minha casa”, contou Rosalina, com esperança de retornar rapidamente ao seu canto. “Não vai demorar. Acredito que a reforma vai ser rápida. Deus é bom e põe todos os anjos para ajudar”.
COMO É — O abrigo mencionado por Rosalina é um espaço temporário implantado com recursos federais para serviços de acolhimento. “A gente trabalha com o município, tanto na transferência de uma metodologia para eles entenderem como é a gestão de um alojamento provisório, quanto no atendimento às famílias. Desde orientação quanto aos benefícios a que têm direito a questões de saúde mental, em parceria com a rede de saúde”, explicou Priscila Leite, coordenadora da Força de Proteção do Sistema Único de Assistência Social (ForSuas) do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).
Priscila ressalta que, tal como Rosalina e sua família, muitas pessoas ainda sentem o estresse do 7 de novembro.
O medo da mudança de clima, de que alguma situação se repita, pesadelos, dificuldade de dormir e de se alimentar. São elementos que podem perdurar por mais tempo”, observou.

- A faxineira Rosalina Gonçalves Rodrigues, 44 anos, vive o processo de reconstrução da casa após os efeitos devastadores do tornado. Foto: Diego Campos / Secom / PR
ESTRUTURA – Os investimentos do Governo do Brasil na área social também se conectam ao custeio de alojamento provisório na rede hoteleira e/ou em residências. “No momento de emergência, o Piso Variável de Alta Complexidade é um recurso que toda cidade que declara calamidade pública tem direito a solicitar. Em menos de uma semana do episódio, foram transferidos R$ 504 mil aos cofres do município, para alojar e abrigar pessoas que perderam tudo. O repasse é rápido. O cálculo é feito considerando o número de pessoas desalojadas e desabrigadas”, explicou Priscila.
BENEFÍCIOS ANTECIPADOS — Ainda na área social, o MDS unificou o pagamento do Bolsa Família em Rio Bonito do Iguaçu para que as 1.465 famílias inscritas no programa acessassem os recursos no primeiro dia do cronograma. O objetivo está previsto na política como forma de minimizar dificuldades em localidades em estado de calamidade pública ou em situação de emergência. O repasse foi recebido pelos beneficiários em 14 de novembro. No calendário de dezembro, o repasse será na quarta-feira, dia 10.
Houve ainda a antecipação de direitos sociais, trabalhistas e previdenciários e a liberação de parcelas adicionais do Seguro-Desemprego, Saque do FGTS, Bolsa Qualificação e suspensão de recolhimento do FGTS por empresas. O Benefício de Prestação Continuada (BPC) também teve repasse antecipado, enquanto uma força-tarefa de entrevistadores do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) atende a população afetada e, por busca ativa, cadastra novas pessoas que preencham os requisitos para inclusão em programas de transferência de renda.

- Imagem retrata o processo de retirada de lixo, entulho e recuperação do terreno para reconstruir a escola municípal. Foto: Diego Campos / Secom / PR
FORÇA NACIONAL DO SUS — Em sinergia com o ForSUAS, a Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FN-SUS) ampliou o acesso a consultas com psicólogos e psicólogas na Unidade Básica de Saúde (UBS) da cidade, onde foi estacionada uma das duas carretas do programa Agora Tem Especialistas enviadas pelo Governo do Brasil a Rio Bonito do Iguaçu — parte do movimento inicial de ofertar atendimentos de saúde em seis consultórios móveis.
A Força Nacional do SUS iniciou os trabalhos no próprio dia 7 de novembro e chegou a mobilizar 50 profissionais especializados (psicólogos, psiquiatras, médicos, enfermeiros, entre outros) e de programas de vigilância epidemiológica. ]
Chegamos nas primeiras horas. Houve grande destruição de casas, mercados, comércio e equipamentos de saúde. Nossos voluntários fizeram atendimentos iniciais de pessoas que se cortaram, tiveram fraturas, foram feridas com telhas, pedaços de tijolos e materiais de construção. Algumas também foram vítimas de mordidas de animais soltos, por isso reforçamos a vacinação, principalmente a antitetânica e antirrábica”, afirmou o médico Leonardo Gomes.
DO LUTO À LUTA — Após os primeiros momentos, o trabalho se voltou para superar o trauma. “Também fornecemos apoio psicossocial e foi importante ouvir e buscar histórias de pessoas que não estavam com ferimentos físicos, mas com problemas psicossociais. A escuta foi muito importante na resposta à tragédia”, explicou o médico. Leonardo explica que o luto abalou a saúde mental tanto das pessoas que perderam entes queridos quanto as que tiveram prejuízos materiais. “Foi um tornado de grande nível, ventos muito fortes, casas destelhadas, pessoas arremessadas e veículos revirados. A chegada e a escuta foram importantes para que eles pudessem desabafar, falar o que estavam sentindo, olhar pra frente, enxergar um cenário melhor e saber que há um futuro”.
PRESENÇA DE ITAIPU – Outro órgão federal que entrou em campo desde os primeiros dias foi Itaipu Binacional. Situada na fronteira entre Brasil e Paraguai no Paraná e vinculada ao Ministério de Minas e Energia, a empresa foi fundamental no suporte imediato e no apoio a projetos de obras e estrutura logística. Equipes da empresa participaram de visitas domiciliares, ofereceram escuta, orientaram sobre serviços disponíveis e acompanharam demandas sociais, trabalhistas e de saúde. Duas tendas montadas por Itaipu se tornaram sede provisória do Governo do Brasil em Rio Bonito, ambas no centro cívico e que funcionam como espaço para atendimento à população
“A atuação integrada entre a empresa e diversos órgãos públicos tem contribuído para organizar a resposta emergencial e acelerar o processo de reconstrução em Rio Bonito do Iguaçu”, explicou o diretor de Coordenação da Itaipu, Carlos Carboni. Assessor da diretoria de Coordenação de Itaipu, Adriano Lima relatou que a Superintendência de Obras da usina elaborou projetos de reconstrução de equipamentos públicos de acordo com a listagem encaminhada pela Defesa Civil Nacional, e listou outras frentes de atuação da empresa.
“Temos o Fundo de Auxílio Emergencial, uma forma rápida para contribuir com instituições, sejam educativas ou públicas, para restabelecimento em decorrência de alguma tragédia. Temos convênio de Assistência Técnica e Extensão Rural no estado, com equipes que vêm atuar emitindo laudos de perda de lavoura e de estruturas produtivas. Outro convênio trabalha com saúde, cultura e atividade com mulheres. O Projeto Bem Viver, integrado ao SUS, oferece terapias integrativas e atua na parte de psicologia. São convênios à disposição para contribuir”, elencou.

- Cidade vai aos poucos reconquistando a dignidade após o evento climático que devastou boa parte do município. Foto: Diego Campos / Secom / PR
DEFESA CIVIL — Uma esfera de atuação federal adicional ocorre via Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR), responsável pelo alinhamento de ações da Defesa Civil Nacional com outras forças, por estabelecer comunicação permanente com as defesas civis municipal e estadual e alinhar as ações de resposta ao desastre. O tenente Josué Alves dos Santos integra o Grupo de Apoio a Desastres (Gade) da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil e é um dos que atuam in loco.
“Sempre trabalhamos com previsões climatológicas e as equipes ficam de pré-aviso para envio aos locais que necessitem de apoio, para ajudar os municípios na resposta após o impacto”, esclareceu. Imagens espaciais com o antes e o depois de Rio Bonito, por exemplo, auxiliaram a Defesa Civil Nacional a dimensionar os danos. O material ajudou no planejamento das ações de resposta e reconstrução da cidade. “O município está avançando com o apoio federal. Algumas ações já ocorreram, como o restabelecimento de vários serviços e a liberação de vias públicas, já todas desobstruídas”, relatou Josué. “Houve integração muito boa entre município, estado e União em mapear áreas que haviam sofrido danos”.
PREFEITURA – O prefeito de Rio Bonito do Iguaçu, Sezar Bovino, avalia que a articulação com o Governo do Brasil tem sido essencial no processo de reconstrução. “Logo no dia seguinte recebemos a ministra Gleisi, uma das primeiras a chegar em Rio Bonito. Ela conhece a cidade como a palma da mão e veio ver o que precisava ser feito. A gente planejou, ela coordenou, deu a voz para pedirmos o que a gente necessitava e deixou o governo federal à disposição para que a gente estudasse e determinasse a responsabilidade das obras e a competência de cada um”, declarou. “Na área de saúde não tive problema ou reclamação sobre o atendimento, assim como na área social ou em outras áreas necessárias. Pedi para que todos trabalhassem em conjunto e que viessem com o interesse de reconstruir. E essa é a gratidão eterna que tenho com todos que estão aqui ajudando a reconstruir Rio Bonito Iguaçu”.

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