DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Após 18 dias de intensos e violentos protestos que tomaram
diversas cidades do Egito, o ditador Hosni Mubarak, 82, renunciou ao poder
depois de comandar uma ditadura com mão de ferro durante 30 anos. O anúncio foi
feito pelo vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, na TV estatal. Em poucos
minutos, centenas de milhares estavam em festa e aos gritos na praça Tahrir,
epicentro das manifestações de oposição.
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"Presidente Hosni Mubarak decidir renunciar como
presidente do Egito", disse Suleiman, em um breve anúncio, acrescentando
que o poder foi entregue às Forças Armadas.
Segundo Suleiman, a decisão foi tomada diante das
"difíceis circustâncias pelas quais o país passa".
A saída de Mubarak solidifica a crise no mundo árabe, sendo
a segunda ditadura a ruir na região em menos de um mês. Ainda no dia 14 de
janeiro a Revolução do Jasmim levou o ditador da Tunísia, Zine el Abidine Ben
Ali, a abandonar o país, em meio ao movimento que se alastrou para outros
países, causando protestos na Mauritânia, Argélia, Jordânia e Iêmen.
Após o anúncio, uma explosão de alegria tomou as ruas do
Cairo. Centenas de milhares de egípcios agitaram bandeiras, choraram e se
abraçaram em celebração. "O povo derrubou o regime", cantavam em
coro.
AFP
Manifestantes antigoverno tomam as ruas da litorânea
Alexandria, segunda maior cidade do Egito, no 18º dia de protestos
A renúncia ocorre menos de 24 horas depois de fortes rumores
de sua saída imediata do poder. Na noite de quinta-feira, Mubarak discursou à
nação e disse que passava parte de seu poder a Suleiman, mas permaneceria até
setembro --quando estão previstas eleições presidenciais. O discurso de
"fico" causou fúria nos manifestantes que marcharam em direção ao
Palácio Presidencial aos gritos para que deixasse o poder.
O ditador Mubarak ascendeu na Força Áérea --principalmente
pelo seu desempenho na guerra de Yom Kippur com Israel-- e tornou-se
vice-presidente em 1975. Ele assumiu a Presidência quando islamitas mataram a
tiros seu antecessor, Anwar Sadat, em um desfile militar em 1981.
Mubarak se beneficiou de artigos da Constituição egípcia que
ditam mandatos presidenciais de seis anos com um número de reeleições
indefinidas. Além disso, alterações à lei fizeram com que a vitória de
candidatos de outro partido que não o seu fosse praticamente impossível.
Sob denúncias de corrupção e em meio a diversas acusações de
abusos de autoridade e prisões tornadas possíveis devido ao estado de
emergência, em vigor há 30 anos no país, a imagem de Mubarak deteriorou-se ao
longo dos anos.
Aos 82 anos, Hosni Mubarak renunciou ao comando do Egito
após três décadas à frente da ditadura no país
Aliado de Washington na região, o ditador usufruía de boas
relações com o Ocidente embora fosse fato conhecido de que seu governo era uma
ditadura de mão de ferro.
Mubarak também era bem visto por ter mantido um acordo de
paz com Israel, assinado em 1979, país com o qual o Egito travou três guerras.
Nas eleições legislativas de novembro passado, o partido de
Mubarak ganhou cerca de 90% dos assentos no Parlamento, que viu a principal
oposição islâmica perder todos os seus 88 lugares, garantindo ao partido de
Mubarak as decisões do Parlamento e apertando o punho Mubarak no poder.
SAÍDA DO CAIRO
Em uma tentativa de acalmar os manifestantes, Mubarak
anunciou dias atrás que não concorreria às eleições presidenciais de setembro
próximo, mas alertou que ficaria no poder até lá para evitar o "caos"
no país. Ele mandou ainda seu vice, Omar Suleiman, negociar com a oposição
--oferta que foi rejeitada. Os manifestantes exigiam que Mubarak deixasse o
poder antes de iniciar qualquer diálogo.
Mais cedo, o porta-voz do partido de Mubarak havia
confirmado que o mandatário e sua família viajaram para o balneário de Sharm
el-Sheikh, no mar Vermelho.
"Ele está em Sharm el-Sheikh", afirmou Mohammed
Abdellah, do Partido Nacional Democrático.
Pouco antes, fontes ligadas ao governo informaram que
Mubarak e a família haviam deixado o Cairo nesta sexta-feira, mas sem deixar
claro qual era o destino.
A TV estatal egípcia informou também que uma importante
declaração de Mubarak será transmitida em breve, mas não deu mais detalhes.
A edição digital do jornal pró-governo "Al Ahram"
afirma, citando fontes próximas às Forças Armadas, que Mubarak esteve em uma
base militar durante as últimas 48 horas para garantir sua segurança.
AP
Guardas presidenciais egípcios observam manifestantes
rezando na entrada do palácio presidencial, no Egito
O jornal diz ainda que, "devido à situação na capital,
foi impossível para o presidente mover-se com segurança com sua comitiva
habitual".
A informação sobre a viagem de Mubarak também foi divulgada
pelas redes de TV árabes Al Arabiya e Al Jazeera. Sharm el-Sheikh, localizado
no extremo sul da península do Sinai, é o local em que Mubarak costuma receber
personalidades estrangeiras e realizar conferências internacionais.
PROTESTOS
Os violentos protestos registrados no Egito por mais de duas
semanas registraram quase 300 mortes, segundo a ONU (Organização das Nações
Unidas), além da morte de jornalistas e diversos ataques à imprensa.
Iniciadas no Cairo, as manifestações se espalharam por
outras cidades, como Alexandria e Suez.
O Exército teve um papel crucial desde o início da crise,
por vezes apoiando a população mas em algumas ocasiões também abrindo fogo
contra os manifestantes
Egípcios gritam frases contra o ditador Hosni Mubarak
durante protesto na praça Tahrir, centro do Cairo
Nesta sexta-feira, centenas de milhares de pessoas fizeram
orações na praça Tahrir, onde clérigos traçaram paralelos entre a luta dos
manifestantes contra Mubarak e a do profeta Moisés com o antigo faraó.
"Que Deus force os opressores para fora!", os clérigos diziam.
"Amém, amém", respondiam os fiéis. Depois, seguiram para o palácio
presidencial.
Do lado de fora do prédio, homens rezavam atrás de veículos
blindados. Os militares não interferiram, apesar de eles terem bloqueado as
principais ruas que levam ao palácio, um grande complexo onde Mubarak conduz a
maioria de suas tarefas oficiais.
"Abaixo, abaixo Hosni Mubarak!", cantavam os
manifestantes. Centenas deles andaram por mais de uma hora para chegar até o
palácio na noite de quinta-feira, saindo do epicentro dos protestos, a praça
Tahrir, no centro do Cairo.
"Saia! Por que você continua?", gritavam cinco
mulheres idosas. "Trinta anos é o suficiente", elas diziam ao
ditador, de 82 anos de idade. O número de manifestantes no palácio já era de
2.000 no início da tarde.
"Não sairemos até que Mubarak renuncie e, se Deus
quiser, o protesto de hoje será pacífico", disse Yasmine Mohamed, 23, uma
estudante universitária. "Tudo ficará bem e ele renunciará com
certeza."
Manifestantes antigoverno participam das orações de
sexta-feira na praça Tahrir, Cairo, no 18º dia de protestos
Um membro de um dos movimentos jovens por trás protestos,
que começaram em 25 de janeiro, disse que os manifestantes iriam "tomar o
palácio". "Teremos massas de egípcios após as orações de sexta-feira
para tomá-lo", disse Ahmed Farouk, 27.
Na segunda maior cidade egípcia, Alexandria, na costa
mediterrânea, centenas de milhares de pessoas foram às ruas após as orações. O
xeque Ahmed al Mahalawi, em seu sermão na principal mesquita da cidade, pediu
aos fiéis para não desistirem.
"Não recuem de sua revolução porque a história não irá
recuar", afirmou o xeque em um sermão transmitido pela rede Al Jazeera.
Mahalawi disse aos fiéis que eles estavam derrubando um "regime
corrupto" que não serve para governar.
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