06/04/2011
Crack e outras drogas terão Frente Parlamentar e Observatório
Os deputados Donisete Braga e Enio Tatto anunciaram a criação de uma Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas durante o Seminário sobre o tema, realizado hoje no Auditório Paulo Kobayashi, da Assembleia Legislativa. Ainda durante o Seminário, a Confederação Nacional de Prefeitos antecipou a instituição de um Observatório do Crack, com informações para a orientação de políticas públicas no setor.
“Trata-se uma série de ações que serão concretizadas para o combate às drogas e também o atendimento de usuários. A partir do Seminário, vamos elaborar uma carta sobre o tema com propostas e sugestões de todos os setores da sociedade”, explicou o deputado Donisete Braga.
A carta do Seminário do Crack será levada como proposta para a elaboração de políticas públicas à Marcha de Prefeitos, que deve acontecer entre os dias 11 e 12 de maio, segundo informaram representantes da Confederação Nacional dos Municípios presentes à audiência.
Faltam serviços
Especialistas e participantes destacaram a importância de oferecer ao usuário atendimento clínico e condições sociais para superar o vício.
“Estima-se que existam cerca de 300 mil usuários de crack na Inglaterra, mas lá não existe a sensação de descontrole que encontramos aqui, porque há uma rede de serviços que garante segurança e tratamento clínico para os usuários. O Estado de São Paulo tem toda a condição de construir esta rede”, comparou o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, que é Coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD) da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.
O conselheiro tutelar Josival Felício Oliveira, que atua na região de Itaquera, resumiu a dificuldade dos que atuam com usuários de crack e outras drogas. “Temos problemas para encaminhar os jovens que nos procuram porque existem poucas clínicas de atendimento”, lamentou.
O atendimento e acompanhamento dos usuários de drogas devem levar em consideração outras dificuldades, como a predisposição genética ao vício. “Fui usuário e tenho um filho que é dependente. Tenho a convicção que existe uma tendência familiar ao problema e que o álcool é a porta de entrada de outras drogas”, contou o médico Antonio Chiromatzo, que hoje trabalha com o atendimento de dependentes químicos.
Epidemia
Também ex-usuário, o presidente da Câmara de São Roque, vereador Milton Brasil Cavalcante (PMN) classificou como epidêmico o avanço do crack no estado de São Paulo. “O combate às drogas exige uma força-tarefa de todos os Poderes. É como enfrentar um tsunami”, definiu o vereador de São Roque.
O coordenador de Saúde do Ministério Público de São Paulo, promotor Reynaldo Mapelle Júnior, também defendeu a integração de todos os Poderes no combate às drogas.
“Os usuários são pessoas doentes que precisam de atendimento. A União e o Estado precisam investir porque o número de viciados cresceu também nos municípios menores, que não têm recursos para combater a epidemia”, disse o promotor Mapelle.
A abordagem terapêutica e a não criminalização dos usuários também foi destaque da apresentação do psiquiatra Mauro Gomes Aranha de Lima, presidente do Conselho Estadual sobre Drogas.
“Temos que dar assistência sem desrespeitar os direitos dos usuários. São ações como garantir internações em casos de surtos psicóticos e tratar pessoas que estão morando nas ruas, sem vínculos familiares”, explicou o psiquiatra.
O promotor-coordenador do Centro Operacional da Infância e Juventude do Ministério Público de São Paulo, Lélio Ferraz de Siqueira Neto, revelou outros dramas dos profissionais e especialistas que trabalham com o problema.
“O problema é tratado como se não fosse do Poder Público. A família e os dependentes levam a culpa”, lamentou o promotor Lélio Ferraz, que defende estratégias a longo prazo e a participação da comunidade e das universidades no combate às drogas ilícitas, como o crack, ou lícitas, como o álcool e o tabaco.
Os sites dos deputados Donisete Braga e Enio Tatto irão publicar as apresentações dos especialistas que participaram do Seminário, que reuniu aproximadamente 200 pessoas, entre funcionários da Saúde, Assistência Social e Educação, além de prefeitos, vereadores e secretários.
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