Do UOL Notícias
O Tribunal de Contas de São Paulo (TCE-SP) anulou definitivamente nesta
quarta-feira (6) a licitação lançada pelo governo estadual para contratação de
empresas para limpar, transportar e separar os resíduos que se acumulam no rio
Tietê, serviço essencial para evitar o assoreamento do leito e as consequentes
enchentes na marginal.
Em sessão realizada hoje, o plenário referendou o voto do relator Fúlvio
Julião Biazzi, que classificou como “imprópria” a modalidade de concorrência
pública usada pelo Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), o
pregão.
Na análise do TCE, houve um “vício de ilegalidade”, pois o pregão deve ser
usado somente para serviços comuns (cujos padrões de qualidade possam ser
objetivamente definidos) e não para tarefas de alta complexidade técnica.
Assim, o TCE determinou que o DAEE elabore um novo edital para desassorear
o leito do Tietê, adiando o início do projeto que é uma das bandeiras de maior
destaque neste começo da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) no Estado.
No total, após enfrentar três transbordamentos do Tietê desde a posse, o
tucano anunciou um pacote de intervenções de macro drenagem da ordem de R$ 558
milhões na Região Metropolitana, sendo que a limpeza do fundo do Tietê é um dos
itens mais importantes do plano.
Biazzi foi o responsável pela suspensão da licitação no dia 23 de março. Na
ocasião, após receber impugnações vindas de construtoras e advogados, o membro
do TCE decidiu interromper momentaneamente o pleito para analisar detalhadamente
a documentação referente à contratação.
Foram várias as reclamações das empresas que concorrem pelos serviços. Por
exemplo, as empreiteiras julgavam distorcidos os índices econômico-financeiros
do edital e inadequadas exigências para qualificação técnica dos concorrentes.
Ambas as críticas foram julgadas menores pelo tribunal.
Outra impugnação apontava ser incorreta a inclusão do serviço de triagem
dos detritos na mesma licitação que contratava firmas para escavar o rio. Como
anunciou o governador Geraldo Alckmin, o Estado quer separar o lixo da terra
retirada do Tietê, como forma de reaproveitar os resíduos e baratear o
processo.
Na avaliação das empresas, o desassoreamento e o beneficiamento seriam
ações distintas que mereceriam editais separados. Nisso, o TCE também concordou.
Assim, sugeriu que, na próxima licitação, o governo crie ferramentas para não
transformar o beneficiamento dos detritos do Tietê em elemento de desequilíbrio
no pleito.
Limpeza do rio virou imbróglio político
Destino do equivalente a cerca de 400 piscinas olímpicas de lixo e resíduos
todo ano, o trecho metropolitano do rio Tietê passou por uma grande obra de
rebaixamento de sua calha, em intervenção entregue em 2006 e financiada em parte
com recursos do Japan Bank for International Cooperation (Jbic).
Na ocasião, pelo preço de quase R$ 2 bilhões, o governo alargou o rio em
até 30 metros e o aprofundou em 2,5 metros. A promessa era a de que o Tietê não
voltaria a transbordar tão cedo.
Como mostrou reportagem do UOL Notícias em 25 de março, no
entanto, nos três anos seguintes à inaguração da obra (2006, 2007 e 2008), o
serviço de desassoreamento não foi realizado. Na ocasião da publicação da reportagem,
engenheiros e geólogos criticaram tal suspensão, afirmando que o assoreamento
acumulado poderia potencializar novos transbordamentos.
Em 2008, o então governador José serra (PSDB) voltou a limpar o rio, mas
somente a partir de outubro. Desde então, o volume retirado anualmente do Tietê
foi sendo suplementado seguidamente pelas autoridades, já que a incidência das
cheias no rio passou a tornar-se novamente preocupante.
Auditoria japonesa apontou carência orçamentária
Em 2009, a Agência de Cooperação
Internacional do Japão (JICA), que passou a cuidar da obra executada pelo
parceiro Jbic, chegou a produzir uma auditoria cujo relatório final apontava
serem "insuficientes" as verbas alocadas pelo governo de São Paulo para a
manutenção do rebaixamento do leito.
No documento, que classificava como
"satisfatório" o estado geral de conservação da obra, os auditores destacaram
que investimentos mais pesados deveriam ser feitos no desassoreamento, sob pena
de novas cheias.
Por conta de todos esses problemas, o Ministério Público (MP) anunciou a
abertura de inquérito civil para apurar as consequências da suspensão na limpeza
e as eventuais responsabilidades pela decisão.
Atualmente, o contrato usado pelas autoridades para limpar o rio também
apresenta problemas, segundo estudo da Liderança do PT na Assembleia
Legislativa. Segundo levantamento feito no Sistema de Informações Gerencias da
Execução Orçamentária (Sigeo), o DAEE já aditou (prolongou) em 52% o contrato
inicial, sendo que o limite legal, teoricamente, é de 25%.
Tal aumento levou os deputados de oposição a fazerem uma nova representação
no MP, pedindo explicações do governo. Os parlamentarem também anunciaram que
convidaram os responsáveis pelo DAEE a comparecer ao Palácio Nove de Julho para
esclarecer toda a questão.
Procurado para se pronunciar, o DAEE não retornou até a publicação desta
reportagem.
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06/04/2011
TCE manda governo de São Paulo refazer principal licitação contra enchentes no Tietê
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