Tema dominante nas colunas políticas das últimas semanas, a agonia
em praça pública dos partidos de oposição não mereceu ainda qualquer
manifestação do seu maior líder até o final do ano passado, o
ex-candidato presidencial José Serra, que sumiu do cenário político.
Na medida em que PSDB e DEM vão desmilinguindo a cada dia, e
engordando o PSD de Gilberto Kassab, mais estranho fica o silêncio do
ex-governador paulista, que abriu duas frentes de combate nos bastidores
e sumiu.
No plano federal, os serristas disputam o comando do partido com o
senador mineiro Aécio Neves, que se apresenta como candidato natural dos
tucanos nas eleições de 2014. Em São Paulo, o confronto se dá entre a
turma de José Serra e a turma de Geraldo Alckmin, com os dois lados
sofrendo baixas. Na semana passada, perderam metade da bancada de
vereadores paulistanos.
Nesta segunda-feira, foi a vez do serrista Walter Feldman,
secretário da prefeitura paulistana e um dos fundadores do partido,
pedir para sair do PSDB.
Desde o dia 18 de março, quando foi anunciada oficialmente a
criação do PSD de Kassab, uma cria de Serra recrutada no malufismo para
ser seu vice e depois prefeito de São Paulo, a oposição passa por um
desmanche federal.
O que quer Serra, afinal? Qual o seu papel na criação do PSD, que
pode ser tudo, menos um partido de oposição? O que ele acha da fusão do
PSDB com o DEM, já chamado de o abraço dos afogados? O que fazer com o
PPS do seu aliado Roberto Freire, que foi à Justiça para salvar alguns
(poucos) parlamentares em suas fileiras?
Ninguém sabe. A situação chegou a tal ponto que o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso foi obrigado a sair dos seus cuidados para
tentar salvar alguns aliados do seu lado.
Primeiro, FHC lançou um manifesto, “O papel da oposição”, que
deveria servir de bússola para os náufragos, mas no fim só aumentou a
confusão, causando divergências entre os líderes tucanos, que não
entenderam direito a opção dele pela nova classe média, deixando o
“povão” para o PT.
Agora, o ex-presidente está sendo chamado para servir de bombeiro
até em Santa Catarina, onde o governador Raimundo Colombo, o único do
aliado DEM, também está ameaçando sair do partido, abrindo a porteira
para a família Bornhausen.
O estado de saúde da oposição brasileira é tão grave que deve estar
preocupando até mesmo o governo federal e os que verdadeiramente
defendem a democracia no país. Não é bom para ninguém que sucumbam as
lideranças dos partidos de oposição, deixando o campo livre para setores
radicalizados da mídia, do empresariado e das igrejas.
Nestas horas, ainda mais com a delicada situação econômica do
momento, costumam aparecer malucos salvadores da pátria, o que é sempre
um perigo. Para se ter uma ideia, a bancada da oposição caiu para apenas
96 parlamentares na Câmara Federal, num total de 514 deputados, o menor
número em 15 anos.
De outro lado, a base do governo cresceu tanto que a ministra Ideli
Salvatti, da Pesca, se permite até fazer piada: “Com uma base assim, é
melhor passar protetor…”.
Aguarda-se alguma palavra de José Serra, ainda que seja pelo twitter.
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