14/05/2011

"Churrasco de gente diferenciada" reúne centenas de pessoas em SP



Protesto contra mudança de estação de metrô tem pagode e refrigerante popular em frente a shopping de bairro nobre

iG São Paulo 
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Cerca de 600 pessoas protestam neste sábado em frente ao shopping do bairro de Higienópolis, em São Paulo, com um "churrascão". Com ironia, eles criticam a oposição de um grupo de moradores à construção de uma estação de metrô na avenida Angélica, que corta a região, umas das mais valorizadas da capital paulista, e protestam contra o governo de São Paulo, que anunciou a mudança do local da estação alegando motivos técnicos (ficaria próxima demais de uma estação e longe demais de outra, da mesma linha).
O evento começou pontualmente às 14h, com cerca de 50 pessoas e ao som de baterias, que entoavam gritos de ordem como "Ahá! Uhu! O metrô é nosso!" e "Ei! Kassab! Vá pegar metrô", em referência ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e "Mamãe eu quero metrô".
Ao longo da tarde, foi crescendo, bloqueou a entrada do shopping, tomou completamente o trecho da avenida que passa em frente ao complexo de lojas e, por volta das 16h20, tomou a avenida Angélica, no lugar onde seria a estação. Esta avenida também está completamente fechada. 
Foto: AE
Paulistanos protestam contra grupo de moradores que se opõe à construção de metrô na avenida Angélica, no bairro de Higienópolis
Várias pessoas carregavam caixa de isopor com cervejas e refrigerantes de marcas populares. Outras traziam comidas acomodadas em marmitas e palitos com carne. Aos poucos, todos começaram a cantar pagodes, especialmente dos anos 1990. A manifestação se transformou num carnaval de rua.
Morei 14 anos na Noruega e lá ninguém usa carro, tanto a população de bairros nobres quanto pessoas menos favorecidas. Poderíamos aprender um pouco com eles. Quando tratamos de transporte público, todos têm de ser beneficiados”, diz moradora do bairro
Até às 16h30 deste sábado, não havia registro de conflitos. Alguns poucos moradores do bairro protestaram contra os manifestantes, sem ocorrências graves. A maior parte dos entrevistados pela reportagem, entre os moradores do bairro, é a favor do metrô na região - e até mesmo dos protestos. Houve até alguns momentos em que moradores do bairro e manifestantes repartiram o mesmo palito de churrasco.
"Morei 14 anos na Noruega e lá ninguém usa carro, tanto a população de bairros nobres quanto pessoas menos favorecidas. Poderíamos aprender um pouco com eles. Quando tratamos de transporte público, todos têm de ser beneficiados. O povo tem o direito de ir e vir", diz a artista plástica Fátima Pederen, moradora de Higienópolis. "Não uso metrô, mas não vai me atrapalhar em nada ter uma estação aqui do lado de casa, pelo contrário. Em todos os lugares em que morei fora do País, em que havia estações de metrô perto de casa, eu tinha a opção de me locomover do jeito que eu quisesse. O metrô é uma opção a mais. A grande preocupação dessa meia dúzia de pessoas que são contra a construção aqui é a mistura de pobres com ricos. E isso é preconceito", conclui ela. 
Foto: AE
"Churrasco de gente diferenciada" em SP: marchinhas, pagode e protesto contra mudança de estação do metrô
Para outra moradora do bairro, Myrna Kouyomdjian, empresária do setor imobiliário, existe uma pressão muito forte da associação local para evitar novas obras no bairro. Segundo ela, o mesmo tipo de protesto que acontece contra o metrô atingiu o shopping do bairro - onde hoje acontece o protesto. "Desde quando me conheço por gente, o pessoal ligado à associação é contra novas construções aqui", diz ela. "Eles querem, na realidade, deixar o bairro isolado e não atrair mais pessoas para cá. Quando houve o projeto para a construção do shopping, eles também reclamaram, alegando que o bairro não precisava de um centro comercial e que ele já era autosuficiente", critica ela, que é a favor do metrô. 
O caso
Foto: AE
Participantes "saboreiam" churrasco durante protesto em Higienópolis
Alguns moradores se colocaram contra a obra porque ela atrairia, segundo uma moradora entrevistada pelo jornal Folha de S.Paulo, “drogados, mendigos, uma gente diferenciada..." Foi o bastante para que a expressão “gente diferenciada" ganhasse a internet e batizasse o "churrasco" de hoje. O governo paulista nega que a mudança tenha sido provocada pelos protestos dos moradores.
Com a repercussão na internet, o churrasco chegou a ser cancelado pelo organizador do evento, que disse temer pela segurança dos participantes. Era tarde demais: 50 mil pessoas já haviam dito no Facebook que tinham a intenção de participar e o que era ironia, realmente, virou protesto.
Veja abaixo as fotos publicadas na internet por algumas das pessoas que estão no protesto:
 

Churrasco em Higienópolis

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