Protesto contra mudança de estação de metrô tem pagode e refrigerante popular em frente a shopping de bairro nobre
Cerca de 600 pessoas protestam neste sábado em frente ao shopping do bairro
de Higienópolis, em São Paulo, com um "churrascão". Com ironia, eles
criticam a oposição de um grupo de moradores à construção de uma estação de
metrô na avenida Angélica, que corta a região, umas das mais valorizadas da
capital paulista, e protestam contra o governo de São Paulo, que anunciou
a mudança do local da estação alegando motivos técnicos (ficaria próxima demais
de uma estação e longe demais de outra, da mesma linha).
O evento começou pontualmente às 14h, com cerca de 50 pessoas e ao som de
baterias, que entoavam gritos de ordem como "Ahá! Uhu! O metrô é nosso!" e "Ei!
Kassab! Vá pegar metrô", em referência ao prefeito de São Paulo, Gilberto
Kassab, e "Mamãe eu quero metrô".
Ao longo da tarde, foi crescendo, bloqueou a entrada do shopping, tomou
completamente o trecho da avenida que passa em frente ao complexo de lojas e,
por volta das 16h20, tomou a avenida Angélica, no lugar onde seria a estação.
Esta avenida também está completamente fechada.
Foto: AE
Paulistanos protestam contra grupo de moradores que se opõe à construção de
metrô na avenida Angélica, no bairro de Higienópolis
Várias pessoas carregavam caixa de isopor com cervejas e refrigerantes de
marcas populares. Outras traziam comidas acomodadas em marmitas e palitos com
carne. Aos poucos, todos começaram a cantar pagodes, especialmente dos anos
1990. A manifestação se transformou num carnaval de rua.
“
Morei
14 anos na Noruega e lá ninguém usa carro, tanto a população de bairros nobres
quanto pessoas menos favorecidas. Poderíamos aprender um pouco com eles. Quando
tratamos de transporte público, todos têm de ser beneficiados”, diz moradora do
bairro
Até às 16h30 deste sábado, não havia registro de conflitos. Alguns poucos
moradores do bairro protestaram contra os manifestantes, sem ocorrências graves.
A maior parte dos entrevistados pela reportagem, entre os moradores do bairro, é
a favor do metrô na região - e até mesmo dos protestos. Houve até alguns
momentos em que moradores do bairro e manifestantes repartiram o mesmo palito de
churrasco.
"Morei 14 anos na Noruega e lá ninguém usa carro, tanto a população de
bairros nobres quanto pessoas menos favorecidas. Poderíamos aprender um pouco
com eles. Quando tratamos de transporte público, todos têm de ser beneficiados.
O povo tem o direito de ir e vir", diz a artista plástica Fátima Pederen,
moradora de Higienópolis. "Não uso metrô, mas não vai me atrapalhar em nada ter
uma estação aqui do lado de casa, pelo contrário. Em todos os lugares em que
morei fora do País, em que havia estações de metrô perto de casa, eu tinha a
opção de me locomover do jeito que eu quisesse. O metrô é uma opção a mais. A
grande preocupação dessa meia dúzia de pessoas que são contra a construção aqui
é a mistura de pobres com ricos. E isso é preconceito", conclui ela.
Foto: AE
"Churrasco de gente diferenciada" em SP: marchinhas, pagode e protesto
contra mudança de estação do metrô
Para outra moradora do bairro, Myrna Kouyomdjian, empresária do setor
imobiliário, existe uma pressão muito forte da associação local para evitar
novas obras no bairro. Segundo ela, o mesmo tipo de protesto que acontece contra
o metrô atingiu o shopping do bairro - onde hoje acontece o protesto. "Desde
quando me conheço por gente, o pessoal ligado à associação é contra novas
construções aqui", diz ela. "Eles querem, na realidade, deixar o bairro isolado
e não atrair mais pessoas para cá. Quando houve o projeto para a construção do
shopping, eles também reclamaram, alegando que o bairro não precisava de um
centro comercial e que ele já era autosuficiente", critica ela, que é a favor do
metrô.
O caso
Foto: AE
Participantes "saboreiam" churrasco durante protesto em
Higienópolis
Alguns moradores se colocaram contra a obra porque ela atrairia, segundo
uma moradora entrevistada pelo jornal Folha de S.Paulo, “drogados,
mendigos, uma gente diferenciada..." Foi o bastante para que a expressão “gente
diferenciada" ganhasse a internet e batizasse o "churrasco" de hoje. O governo
paulista nega que a mudança tenha sido provocada pelos protestos dos
moradores.
Com a repercussão na internet, o churrasco chegou a ser cancelado pelo
organizador do evento, que disse temer pela segurança dos participantes. Era tarde demais: 50 mil pessoas já
haviam dito no Facebook que tinham a intenção de participar e o que era ironia,
realmente, virou protesto.
Veja abaixo as fotos publicadas na internet por algumas das pessoas
que estão no protesto:
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E vai rolar churrasco! #gentediferenciada http://yfrog.com/gyoo9foj
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Coisa bonita de se ver - RT @biosbug: http://twitpic.com/4xmeml #gentediferenciada
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RT: @JoaoCarlos2010: Opa! Está rolando até umas caixas de isopor !!! Agora sim! #gentediferenciada em Higienópolis http://twitpic.com/4xm5mi
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genial! RT @belle_rp @carlazatorre: Parabéns Dolly pelo flashmob, estratégia sensacional http://twitpic.com/4xlejg #gentediferenciada
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RT @carlamorim http://twitpic.com/4xmae5 esse disse tudo, mesmo calado #gentediferenciada
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RT @arnobio1969: http://yfrog.com/gymnzhzj tamos juntos #gentediferenciada
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http://twitpic.com/4xmb05 calma aí pessoal, aperta para caber na foto #gentediferenciada
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http://twitpic.com/4xmfk6 protesto auto organizado é assim, cada um faz sua camiseta #gentediferenciada
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