31/05/2011

Dano respiratório mata mais no País



Ligada ao cigarro, doença respiratória obstrutiva crônica (DPOC) tem mortalidade acima da média no Brasil, apesar da queda do fumo


Fernanda Bassette - o estado de São Paulo
Apesar da queda no número de fumantes nos últimos anos, o Brasil ainda registra casos de mortalidade por doença respiratória obstrutiva crônica (DPOC) associada ao cigarro acima da média mundial.
Marcos de Paula/AE–14/8/2009
Marcos de Paula/AE–14/8/2009
Dano. Dos mortos por DPOC no País, 80% dos homens e 60% das mulheres são fumantes; índices mundiais são de 50% e 20%
Um levantamento do Instituto Nacional de Câncer (Inca), que será divulgado hoje durante o evento em comemoração ao Dia Mundial Sem Tabaco, aponta que oito em dez homens e seis em dez mulheres que morrem de DPOC no País fumam. A média mundial de mortalidade nesses casos, segundo o Inca, é de cinco em cada dez homens e duas em cada dez mulheres.
A DPOC é uma doença progressiva crônica e incapacitante, que pode se manifestar como bronquite ou enfisema pulmonar. Em 90% dos casos, o enfisema é causado pelo cigarro, que gera inflamação nos brônquios e destrói os alvéolos e o tecido pulmonar. Com o tempo, a pessoa perde a capacidade de respirar normalmente - a troca gasosa fica debilitada. Estima-se que de 6% a 7% da população com mais de 40 anos tenha o problema.
Além disso, o Inca estima que 1 milhão de brasileiros, jovens ou idosos, convivem com alguma doença respiratória crônica associada ao ato de fumar. Essas enfermidades representam hoje a terceira causa de mortalidade por doença no Brasil, ficando atrás apenas dos problemas cardiovasculares e dos cânceres.
Para Ricardo Henrique Meirelles, pneumologista da Divisão de Controle de Tabagismo do Inca, uma das hipóteses para explicar a mortalidade tão alta por DPOC entre os fumantes é a demora da doença para se instalar e demonstrar sinais, como falta de ar, tosse crônica e sensação de não estar conseguindo respirar.

"A gente sabe que a DPOC está diretamente associada ao tabagismo. Mas ela é uma doença de progressão lenta, demora uns 20, 30 anos para se instalar. Por isso, ainda estamos lidando com a mortalidade de pessoas que começaram a fumar há mais de 30 anos", diz Meirelles. Ele acredita que, em alguns anos, a tendência é diminuir essa mortalidade.
Para a psiquiatra Renata Cruz Soares de Azevedo, coordenadora do Programa de Prevenção ao Uso Indevido de Substâncias Psicoativas da Unicamp, outro fator que pode explicar a alta mortalidade por DPOC é a falta de diagnóstico precoce na rede.
"Quando o paciente chega à rede para fazer tratamento, já está com a doença instalada e em estágio avançado. Isso dificulta o tratamento e eleva a mortalidade", avalia a psiquiatra.
Dificuldade de acesso. Renata afirma que a dificuldade de acesso na rede pública a programas de tratamento para parar de fumar e a falta de acesso aos medicamentos necessários também são fatores que podem interferir na dificuldade em parar de fumar e, consequentemente, na progressão da doença.
"Parte dos pacientes atendidos pela Unicamp, por exemplo, precisa pagar pela medicação usada. Em geral, o tratamento custa R$ 40 por semana e dura pelo menos três meses", diz.
Segundo Meirelles, do Inca, 610 municípios do Brasil oferecem tratamento antitabágico pelo SUS - em 2009, cerca de 26 mil pessoas participaram. No Estado de São Paulo, no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), 2 mil pessoas são tratadas por ano.
Tratado. A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) realiza hoje um evento em que o tema será a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, tratado internacional assinado com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para implementar políticas de redução do consumo de cigarro em todo o mundo.
Uma das prioridades é implementar políticas para reduzir o tabaco entre as mulheres. Isso porque o número geral de fumantes como um todo caiu no Brasil, mas, entre as mulheres, ele se mantém estável - 12,7%. "O Inca está realizando uma pesquisa para entender melhor essa dinâmica e orientar políticas específicas para as mulheres", diz Tânia Cavalcanti, responsável pela implementação do tratado no País.


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