por Jose Orenstein
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o Congresso não está pronto para discutir e eventualmente aprovar a descriminalização das drogas no País. “Não está preparado para isso”, afirmou em entrevista sobre o filme “Quebrando Tabu”, documentário de Fernando Grostein Andrade, que entra em cartaz nos cinemas nesta semana.
Segundo o ex-presidente, a discussão sobre a implementação de formas alternativas de combate às drogas no Brasil – que deixe de considerar o usuário um criminoso – ainda é pouco conhecida da sociedade. “Primeiro a sociedade tem que se informar e discutir, só depois o Congresso deve tratar o tema”.
O ex-presidente evitou avaliar o Brasil como um País de perfil conservador, o que dependeria de momentos políticos e do grau de informação das pessoas. “Não é que a sociedade seja em si conservadora, mas é preciso provocá-la, senão ela fica conservadora”, analisou FHC.”É um processo, a sociedade muda, mas aos pouquinhos.”
Questionado ainda se uma flexibilização das regras sofreria forte rejeição dos parlamentares mais conservadores, FHC disse considerar o Congresso e o Brasil “bastante abertos” e lembrou que o deputado Paulo Teixeira, do PT, tem um projeto que revisa a política de drogas em discussão.
FHC no lançamento do documentário ‘Quebrando o Tabu’. Foto: Tiago Queiroz/AE
Ao ser lembrado sobre a questão do controle da entrada de drogas nas fronteiras brasileiras – tema caro ao seu colega de PSDB, José Serra, durante a campanha eleitoral de 2010 -, FHC afirmou que a repressão é necessária, “mas não vai resolver, não é meu caminho”. Comentando a recente ação da polícia em São Paulo contra ativistas da Marcha da Maconha, que foram proibidos de se manifestar pela Justiça, o ex-presidente reiterou que a sua experiência na luta contra o regime militar nos anos 1960 e 1970 o inclinam a rejeitar tais medidas: “como eu venho de outra época, eu não gosto de repressão deste tipo.
No documentário, que tem o próprio FHC como um dos redatores do argumento, outros líderes pelo mundo são ouvidos sobre as experiências de seus países com as drogas e todos parecem convergir na afirmação de que a ideia de “guerra às drogas”, lançada em especial pelos Estados Unidos nos anos 1970, é fracassada. Os ex-presidentes americanos Bill Clinton e Jimmy Carter são alguns dos que fazem coro a FHC no questionamento à noção de tolerância zero ao se lidar com as drogas e seus usuários. Não são ouvidos ao longo dos 74 minutos de filme, no entanto, depoimentos favoráveis à criminalização das drogas
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