09/07/2011

A guerra dos paulistas



A Revolução Constitucionalista de 1932, um marco na história do Brasil, completa 79 anos com atividades que visam manter viva a história de soldados e pessoas comuns que foram para o front de batalha para garantir a democracia

Gilson Hanashiro/Agência BOM DIA
O tenente Wagner Luciano de Oliveira, que se apresentou para estudantes no quartel da Polícia Militar caracterizado como o ex-combatente capitão Joaquim Bastos,  é cercado pelas crianças ao fim da apresentação.
O tenente Wagner Luciano de Oliveira, que se apresentou para estudantes no quartel da Polícia Militar caracterizado como o ex-combatente capitão Joaquim Bastos, é cercado pelas crianças ao fim da apresentação.
Carla de Campos
Agência BOM DIA
A revolução de  1932,   que deixou o Estado de São Paulo em pé de guerra com o governo de Getúlio Vargas, completa neste sábado (09) 79 anos. Apesar de ser um dos maiores conflitos civis do país, que começou com a elite mas acabou arrebanhando milhares de voluntários, o movimento é  um dos episódios menos explorados pelos livros de história.
Depois de tanto tempo, não há mais ex-combatentes vivos em Sorocaba. O último faleceu após os festejos de 2010. Mesmo assim, a homenagem aos revolucionários  de 1932  continua, arquitetada principalmente pela Polícia Militar, que todo anos trabalha na divulgação do ato cívico  e  mantém viva a memória da guerra dos paulistas.
“A PM esteve sempre presente nos momentos históricos. E é importante que a história da revolução, do movimento em São Paulo, não se perca”, explica o capitão Rubens Ramos, do CPI-7 (Comando de Policiamento do Interior), o centro nervoso da PM na região. 
Neste ano pela primeira vez a corporação promoveu um evento para levar aos mais jovens a importância histórica do conflito armado. Crianças de 7 a 14 anos  tiveram a oportunidade de conhecer os bastidores e os desdobramentos da luta.
No sede do CPI, o  evento começa com dispersão. Afinal, para que saber sobre um assunto tão antigo?  Mas na medida que começa a exibição de um documentário que mostra imagens do confronto e barulho de bombas,  a atenção das crianças é capturada.
História viva /Após o filme, veio a dinâmica. O tenente Wagner Luciano de Oliveira apresentou-se à plateia mirim como o capitão Alves Bastos. Devidamente caracterizado como o ex-combatente que lutou na região sul do Estado, o tenente explicou aos jovens as raízes do movimento paulista e suas consequências.
“Sempre ouvi estas histórias. Quando eu era pequeno achava que eram tolices. Agora sei a importância de ouvir os mais velhos”, disse, contando que teve a oportunidade de conversar com o assessor do capitão Bastos e que, a partir de um diário escrito pelo oficial, passou a estudar e a buscar mais dados sobre a história da revolução.
O tenente explicou à plateia que  revolução também contou com a participação de crianças e adolescentes. Alguns deles se destacaram a ponto de receber honrarias após a morte, como Aldo Guiorato, que tinha 10 anos e é considerado o mais jovem soldado constitucionalista. Ele foi enterrado junto com os combatentes.
O garoto era escoteiro em Campinas e encarregado do   transporte de correspondência da estação ferroviária até o quartel. No trajeto ele foi atingido por uma série de estilhaços e morreu. 
O exemplo de coragem do escoteiro e as imagens de combate em trincheiras  animou a imaginação das crianças, sobretudo dos meninos.  “Quero ser soldado de guerra”, decide o estudante Mateus Soares, 11 anos. Dando detalhes de tudo o que aprendeu sobre a revolução, ele afirma que é importante conhecer o passado. “Eles lutaram para que fosse feita a Constituição”, explica.
Já o amigo Leonardo  Gomes, 11, diz que aprendeu bastante com o tema e não imaginava detalhes como a participação de crianças nos bastidores. “Foi muito interessante. É muito legal   saber tudo isso”, afirma.  
Já no pátio, observando a apresentação do canil da P M, as amigas Beatriz Rocha, 12 e Fabiana Monte, 13, contam que gostaram da apresentação sobre a revolução e que tinham pouca informação, na escola, sobre ela.  “Valeu a pena vir aqui e saber mais”, dizem.
Data fecha a Semana da Revolução
As comemorações  pelos 79 anos da Revolução Constitucionalista serão encerradas neste sábado (09), data máxima do conflito. Às 9h haverá apresentação da Banda Regimental de Música do CPI-7 e Desfile Cívico Militar. O evento acontece na Praça 9 de Julho (próxima à avenida Eugênio Salerno). A programação acontece em  parceria com a Prefeitura  de Sorocaba, Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba e  Associação  Memória da Revolução Constitucionalista de 32.  
40 mil
é o número estimado de paulistas envolvidos na revolução
Importante só para São Paulo
A Revolução de 32 é um movimento mais  importante para São Paulo do que para qualquer outro estado. Justamente por isso, o tema não é tratado de forma especial ou com destaque nos livros. “É preciso esforço para que memória não se perca. Depende dos educadores, da imprensa e do interesse de pesquisa”, opina o professor de História, Carlos Cavalheiro.
A confusão que se faz entre os combatentes de 1932 com os pracinhas de 1964 (soldados brasileiros que lutaram na 2ª Guerra Mundial) pode ter sido um dos motivos  que empurraram a revolução para longe da memória.  “Essa comemoração cívica foi decaindo provavelmente por conta de uma certa aversão ao militarismo que havia no período”, aponta o professor. “Hoje muita gente nem sabe o que é, mesmo que seja feriado”. 
O próprio fato do feriado se restringir a São Paulo  mostra o desinteresse por parte dos demais estados.

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