12/07/2011

Morte de duas meninas, de 9 e 10 anos, comove bairro



O crime aconteceu ontem, logo pela manhã, no Jardim Betânia

Adriane Mendes
adriane.mendes@jcruzeiro.com.br 

Duas meninas, de 9 e 10 anos de idade, foram assassinadas ontem pela manhã no Jardim Betânia, com requintes de crueldade. Os corpos, franzinos, apresentavam diversas facadas da parte da cintura para cima, com parte dos ferimentos concentrados na cabeça. O crime chocou até mesmo policiais acostumados com a brutalidade do submundo do crime. O duplo homicídio aconteceu na casa da Maiara Natali da Silva, que no próximo sábado completaria 10 anos de idade. A outra vítima, Nicoli Maíra da Silva Nogueira, 10 anos, que teria escapado da morte há um mês, após uma cirurgia, tinha ido dormir na casa da colega. 

Segundo o que foi inicialmente apurado pela polícia, os corpos foram encontrados por Luciene, a irmã mais velha de Maiara, que mora ao lado e ficava incumbida de cuidar da menina, tendo em vista que a mãe, Nerci Cuchera da Silva, sai da casa por volta das 6h para trabalhar. Como de costume, a mãe, ao sair, deixou o portão trancado com cadeado, mas Luciene, ao ir na casa que fica na rua Serafim de Souza, teria encontrado o cadeado aberto, sem sinal de arrombamento. Ao se deparar com a cena chocante - os corpos estavam no chão de um dos dois quartos da moradia - ela saiu chorando para a rua.

O pai de Nicoli, Sebastião Gomes Nogueira, que mora naquela mesma calçada, um pouco pra cima de onde aconteceu a tragédia, estava na rua e perguntou para Luciene o que havia ocorrido e, ao saber, correu também para o local, não acreditando no que via. Separado da mãe de Nicoli, Luzinete Ferreira da Silva Gomes, Tião, como é conhecido pelos vizinhos, contou que a filha o visitou domingo para dormir em sua casa, mas que, depois, ela pediu para passar a noite na casa da amiga e ele deixou.

Tião contou ainda que chegou a ir na casa da Maiara por volta das 8h, pois queria saber se a filha Nicoli já havia se alimentado. Bateu palmas mas ninguém atendeu e ele retornou para sua casa, achando que as crianças estivessem dormindo. Pouco depois, conforme disse, teria perguntado para Luciene sobre as meninas, ao que ela respondeu que logo iria até lá, mas que estaria tudo bem. Segundo Tião, o cadeado naquele momento estaria trancado. Durante a permanência da reportagem no local, apenas Luzinete, mãe de Nicoli, foi até lá. Desesperada, ela foi amparada pelos moradores e parentes que iam chegando perplexos com a notícia. Luciene teria passado mal e sido encaminhada para um atendimento médico. Sua mãe também teria sido avisada, mas provavelmente pelo estado de choque, nem foi levada ao local.

A comoção dos vizinhos e curiosos que se aglomeraram em frente à casa era visível em suas expressões e também pelos comentários. Revolta, indignação e desejo de morte para o autor de tal brutalidade era o que mais se ouvia. Sentada numa cadeira levada para ela no meio da rua, Luzinete, mãe de Nicoli, não se conformava. Ela recordava que há pouco mais de um mês a filha havia lutado para sobreviver - ela teria sido operada de apendicite - e que não dava para acreditar que agora, ao dormir na casa da colega, tinha morrido de forma tão violenta. Também arrasados, três irmãos da Nicoli comentaram não imaginar quem seria capaz de tal atrocidade e muito menos qual seria a motivação.

O comerciante José Francisco de Barros, que mora na avenida Betânia com fundos para a rua Serafim de Souza, disse que já reclamou diversas vezes para a Prefeitura em decorrência de tantos terrenos baldios "que servem para esconder marginais". "Minha casa mesmo já foi furtada quatro vezes e, por isso, não tenho segurança em deixar minha esposa e filha de 14 anos sozinhas em casa na minha ausência."
 
Loucura ou vingança 
O trabalho da perícia durou mais de uma hora e foi acompanhado pelo delegado Acácio Aparecido Leite, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), e também pela delegada Jaqueline Barcelos Coutinho, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), que também cuida de maus tratos às crianças. Segundo o perito Elias, a princípio se pensou na possibilidade de haver mais uma pessoa envolvida no crime, mas que, como as duas meninas eram franzinas, uma única pessoa poderia ter cometido o crime sozinho. Elias também citou que um dos ferimentos da Nicoli demonstrava certa brutalidade do assassino.

A faca utilizada, encontrada num terreno baldio jogado em frente da casa da Maiara, seria da própria casa da vítima. E, embora as meninas estivessem vestidas, sem vestígios de abuso sexual, dois preservativos jogados próximos da faca também foram encontrados e apreendidos pelo perito Elias, que também chegou a ouvir por lá que o terreno seria usado para casais manterem relações sexuais. Chocado com o caso, apesar dos seus já 20 anos de trabalho como delegado, Acácio disse que nenhuma hipótese é descartada, mas que a forma como os golpes foram desferidos, todos em órgãos vitais, indica que o assassino estava com muito ódio. Também foi constatado que nada foi subtraído da moradia, como dinheiro e objetos.
 
O fato de não haver arrombamento do cadeado do portão, também o leva a pensar na possibilidade de mais alguma pessoa conhecida da família ter a chave. De acordo com o delegado, a investigação conta com a ajuda da comunidade pelo telefone 197 da Polícia Civil, e que os familiares serão ouvidos nos próximos dias, podendo, inclusive, se lembrarem de algum fato que possa ser determinante. O que também o intriga é o fato da faca pertencer à própria casa da Maiara, ou seja, o autor teria entrado desarmado. Além do portão de entrada, outro acesso para a casa seria a janela do próprio quarto onde foram mortas, que dá saída para um desmanche. Mas lá, nem o cachorro da raça rottwailer foi ouvido latir.

O delegado apela para que a comunidade denuncie pois "alguém chegou hoje na casa com as roupas sujas de sangue e se trocou, e alguém pode ter visto algo." Comovido com a situação, Acácio Aparecido Leite disse que normalmente os crimes estão relacionados a drogas ou desavenças. "Mas qual o motivo de matar duas crianças?". Ele pede também para que a comunidade, apesar de revoltada, não tente fazer justiça com as próprias mãos. Os velórios das meninas são realizados na Ossel Central, sendo Nicoli Maíra a primeira a ser sepultada, às 13h, no cemitério Memorial Park, e Maiara Natali da Silva, às 15h30, no cemitério Saudade.

Um comentário:

  1. assistir no plograma da Sonia Abrão( a tarde é sua) é ter o coração frio mesmo ter matado as crianças e está ali no lugar do crime, vendo todo sofrimento da familia. Isso é o fim do mundo.

    ResponderExcluir