ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Trocas de mensagens eletrônicas entre
um empresário e um advogado levantam suspeitas sobre a existência de um suposto
esquema de uso de dinheiro público para patrocinar a defesa de acusados de
fraude em Taboão da Serra, na Grande São Paulo.
Os e-mails indicam que o prefeito da
cidade, Evilásio Cavalcante de Farias (PSB), teria usado uma construtora que
presta serviços no município para patrocinar a defesa de secretários municipais
e vereadores que estavam presos sob a acusação de fraudar o sistema de
arrecadação de impostos e taxas municipais. Ele nega envolvimento. As mensagens
foram escritas por um amigo de Farias.
Os honorários advocatícios para pagar o
habeas corpus são rastreados como provenientes da Construtora Etama Ltda., que
detém contratos milionários com a Prefeitura de Taboão da Serra.
Uma nota fiscal do escritório de
advocacia Pini Sociedade de Advogados foi emitida em nome da construtora, mas a
suspeita é a de que o valor era destinado para o advogado que defendeu os
políticos e servidores municipais ligados ao prefeito Farias.
Na lista de 22 presos beneficiados por
um habeas corpus, concedido pela
15ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de SP no dia 28 de julho,
estavam 4 dos 13 vereadores de Taboão, três secretários municipais e um
assessor especial (ex-secretário de desenvolvimento). Os políticos são da base
aliada do prefeito Farias.
Documentos obtidos
pela Folha demonstram
que o empresário Evandro Corado Oliveira, irmão de Maruzan Corado de Oliveira,
secretário de planejamento de Taboão que estava preso, foi quem intermediou por
R$ 700 mil a contratação do advogado Flávio Cesar de Toledo Pinheiro, um
ex-desembargador do TJ-SP, para que ele impetrasse um habeas corpus com pedido
de liberdade provisória para 7 dos 22 acusados de fraudar a arrecadação de
impostos na administração de Farias. O advogado Pinheiro não trabalha no
escritório Pini.
Num e-mail de 30 de julho, o empresário
Evandro Oliveira afirma ao advogado Pinheiro: "expliquei para o Dr. Carlos
a solicitação feita pelo sr. prefeito e ajustei com o Dr. Carlos o pagamento
complementar de R$ 250 mil, sendo que inicialmente já havia sido pago R$ 250
mil. Estou convicto de que faremos novas parcerias tendo em vista a abertura
dada pelo sr. prefeito".
Na mensagem seguinte, o advogado
Pinheiro responde não ter recebido os R$ 250 mil e que, "se foram
disponibilizados, grande parte desse valor foi 'repartido' entre outras pessoas
que participaram do assunto. Estou respondendo para deixar registrado que eu
não recebi R$ 250 mil".
O empresário Oliveira rebate ao
advogado, em outro e-mail: "Ok. Confirmo que realizei este pagamento
inicial ao Dr. Carlos e farei a mesma quantia ainda nesta semana".
POR R$ 700 MIL
Além da liberdade de seu irmão, o
empresário Evandro Oliveira também negociou com o advogado Pinheiro para que
ele trabalhasse pela soltura de Antônio Roberto Valadão (secretário de
finanças), Edgard Santos Damiani (ex-secretário de desenvolvimento e assessor
especial do prefeito Farias), e dos vereadores Carlos Alberto Aparecido de
Andrade, do PV, Arnaldo Clemente dos Santos, o Arnaldinho, do PSB, e José Luiz
Eloi, do PMDB.
Os R$ 700 mil, ainda segundo o
documento do empresário Evandro Oliveira, também devia ajudar na defesa da
advogada Claudia Pereira dos Santos, mulher do vereador Andrade e irmã do
geógrafo Claudinei Pereira dos Santos, ex-secretário de transportes de Taboão
da Serra investigado sob suspeita de operar um esquema dentro da prefeitura da
cidade para burlar o sistema de arrecadação de tributos com multas de trânsito.
Santos nega as acusações feitas contra
ele.
CORDA BAMBA
A negociação para colocar os quatro
vereadores em liberdade, segundo apurou a Folha, se deve ao fato de que o prefeito Farias quer
seus aliados políticos de volta ao cargo na Câmara Municipal para evitar que na
próxima terça-feira (16) seu afastamento seja aprovado. Farias teme ser alvo de
um possível impeachment sem o apoio dos políticos que estavam presos.
Hoje, o Tribunal de Justiça de SP
julgará se os vereadores que estavam presos poderão reassumir seus postos na
Câmara de Taboão.
OUTRO LADO
"Não tenho contrato, não tenho
compromisso com esse advogado. Só participei de uma conversa para contratar um
advogado para um secretário. Nada mais. E também fui atrás do meu próprio
advogado, preventivamente", disse o prefeito Farias sobre a possível
negociação para contratar um advogado para defender os políticos de sua base
aliada acusados de corrupção em sua gestão.
Farias confirmou que a Construtora
Etama tem contratos com sua gestão, mas negou que tenha havido triangulação de
verbas para pagar a defesa dos seus aliados políticos que estavam presos. O
prefeito também nega que esteja à beira de um possível afastamento do cargo.
"Fui o responsável pela prisão em
flagrante do primeiro servidor público que estava dando baixas irregulares nos
impostos. Tudo isso que veio à tona ocorreu por minha causa. Como posso estar
envolvido? Infelizmente, não tenho como saber 100% o que se passa no meu
gabinete. Se no meu governo cometeram desvio, que respondam por isso. Nenhum
dos 22 que estavam presos me acusaram de nada", continuou.
"Apesar de tudo o que é dito
contra mim, até agora não respondo sequer a uma investigação. Mas sei que vou
responder. Vai chegar a hora e eu quero que isso aconteça para que eu possa
mostrar a verdade", falou Farias, que admite ser amigo do empresário
Oliveira.
O empresário disse que as mensagens
eletrônicas com seu e-mail não são verdadeiras e que ele jamais as escreveu.
"Isso pode ter sido forjado. Vou lá saber quem pode ter usado meu
email", disse.
Ao ser questionado se o prefeito Farias
foi quem intermediou a contratação da defesa dos políticos aliados que estavam
presos, Oliveira disse: "Isso jamais ocorreu. Quem pagou tudo foram os
próprios acusados".
O escritório Pini Sociedade de
Advogados informou que irá rastrear a nota fiscal nº 0276 para a Construtora
Etama Ltda para saber se o serviço jurídico que consta descrito no documento
foi ou não realizado.
Os dois diretores da Construtora Etama
Ltda. foram procurados pela reportagem, mas segundo uma funcionária da empresa
ambos estão fora, em reunião.
O advogado Pinheiro não foi localizado.
Ele foi procurado em seu escritório e também por e-mail.
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