Aluno falou sobre morte do irmão


Por William Cardoso
Em uma conversa com o irmão mais velho, umas duas semanas antes de se matar com a arma do pai, na escola onde estudava, em São Caetano do Sul, o estudante David Mota Nogueira, de 10 anos, perguntou: “Se eu morrer, você vai ficar triste?”. O diálogo foi contado por G., de 16 anos, em depoimento à delegada Lucy Mastellini Fernandes, ontem.
Sem entrar em detalhes, G. afirmou que respondeu “claro que sim” ao caçula e que não era para o irmão pensar mais nisso. Depois, desconversou. Na manhã dessa conversa, David disse também ao irmão mais velho que não tinha problema com nenhuma professora.
A delegada não descarta a possibilidade de David ter atirado por influência de algum colega. “Às vezes, não teve problema com professor, mas pode ser que algum amigo tenha tido. Se ele fez propositadamente e não tinha motivo, pode ser que tenha tomado as dores de alguém”, afirmou.
Agora, a polícia deverá interrogar a professora baleada. A conversa ocorrerá hoje no Hospital das Clínicas, na zona oeste da capital, onde Rosileide Queirós Oliveira, de 38 anos, está internada. Na segunda-feira, será a vez de quatro colegas de classe de David.
O pai de David Mota Nogueira, o guarda-civil Milton Evangelista Nogueira, também prestou depoimento ontem e, segundo a delegada, ele não deverá ser indiciado por negligência. O menino usou o revólver calibre 38 do pai para ferir a professora e depois se matar com um tiro na cabeça, há uma semana, na Escola Alcina Dantas Feijão. A mãe também foi ouvida.
Nogueira por diversas vezes reafirmou que guardava a arma no alto de um armário de 1,90 metro. No dia da tragédia, havia esquecido de tirar a munição. Disse também que procurou os filhos na escola para questioná-los sobre o paradeiro do revólver, assim que deu falta dele. “Não acho que ele foi negligente, não. Até porque sempre orientou os filhos de que tinha arma em casa e de que era o instrumento de trabalho dele, que não deveriam mexer nela”, afirmou Lucy.
A delegada ressaltou que a maioria dos policiais guarda a arma com munição, justamente porque podem utilizá-la a qualquer momento. “Com o que ouvi hoje (ontem), eu me inclino a não fazer o indiciamento.” Nogueira corria o risco de responder por omissão de cautela, crime previsto quando o dono de uma arma não toma as medidas necessárias para impedir que menores de 18 anos possam manuseá-la.
Sobre o momento em que o pai foi à escola em busca da arma, o irmão mais velho pediu que David olhasse a sua mochila para confirmar que o revólver não estava ali. O caçula respondeu que não tinha tempo para ver o material de G.. “O mais velho não percebeu ali nenhuma dissimulação.”
Conforme haviam combinado por meio de redes sociais, alunos chegaram à escola ontem com flores brancas. Em frente à unidade, foram fixados dois cartazes. Um dizia “David, saudades” e outro “Que Deus acolha a alma de David”. A escola não organizou homenagens ao menino, mas permitiu aos alunos que soltassem balões, de manhã e à tarde, nos intervalos de aula.

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