Flagrante de maconha gera confronto com a PM e quebra-quebra na USP

PMs usaram gás lacrimogêneo e estudantes reagiram a pedradas; após confronto, alunos resolveram invadir o prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

Bruno Paes Manso, do Estado de S.Paulo, e Pedro da Rocha e Priscila Tridande, do estadão.com.br
SÃO PAULO - Dezenas de estudantes invadiram, no final da noite de quinta-feira, 27, o prédio da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), na Universidade de São Paulo (USP), na zona oeste da capital, segundo eles, em uma demonstração de repúdio à ação da Polícia Militar que, horas antes, abordou três universitários que portavam maconha, gerando um confronto entre as duas partes.
Viatura teve vidros quebrados a socos e pontapés - Tiago Queiroz/AE
Tiago Queiroz/AE
Viatura teve vidros quebrados a socos e pontapés
Alguns dos cerca de 100 alunos que tomaram o prédio afirmaram que a invasão também foi motivada pelo descontentamento em relação à gestão de João Grandino Rodas, atual reitor da Universidade de São Paulo. A invasão, segundo os estudantes, foi decidida em uma a assembleia logo após o confronto entre os cerca de 300 universitários e a Polícia Militar. Como esta sexta-feira, 28, é Dia do Funcionário Público e a próxima quarta-feira, 2, Feriado de Finados e muitos alunos acabam emendando os dias para viajar para cidades do interior onde moram , vários estudantes votaram contra a invasão por considerá-la de pouca repercussão neste momento, afinal muitos deles teriam de deixar o local para saírem da cidade.
Diversos alunos que ocupam o prédio da FFLCH foram vistos pela reportagem doestadão.com.br segurando latinhas de cerveja. Uma viatura da Guarda Universitária às 2h30 estava estacionada em frente ao prédio ocupado. Barricadas, feitas de blocos de cimento, bloqueiam as duas principais entradas do prédio. A abordagem feita por PMs a três estudantes de História da USP, que estavam com maconha no estacionamento da FFLCH, provocou quebra-quebra e protestos na noite desta quinta-feira no câmpus do Butantã, na zona oeste de São Paulo. O auge da confusão foi às 22h, quando os alunos estavam sendo levados ao distrito policial. A viatura em que eles estavam foi rodeada por universitários e teve vidros quebrados a socos e pedras. Alunos chegaram a subir em cima do veículo. Para dispersar a aglomeração, a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo. Estudantes revidaram com pedras. Policiais então deixaram o câmpus em alta velocidade. Pelo menos cinco viaturas foram depredadas.
O flagrante havia sido feito cinco horas antes. Segundo o tenente Luiz Salles, do 16.º Batalhão, a intenção inicial era fazer um termo circunstanciado na  própria universidade, o que evitaria a ida ao DP. Mas PMs ficaram com os documentos dos três estudantes e a situação esquentou com a chegada de integrantes  do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e do Sindicato dos Funcionários da USP, que iniciaram o bate-boca. Mais alunos foram se aglomerando e a tentativa  de professores e PMs de contornar a situação foi interrompida. Por volta das 20h, já havia cerca de 300 alunos protestando contra a presença da PM na universidade e gritando palavras de ordem, do tipo: “Maconha é  natural, coxinha é que faz mal”, “Fora PM do mundo” e “Ditadura, assassinatos e tortura. Não esquecemos”.
Por volta das 21h30, o comandante do 16.º Batalhão e um delegado chegaram ao câmpus para levar os alunos detidos para o DP. Estudantes os escoltaram em uma  corrente humana até a viatura. O carro partiu, mas um grupo impediu a passagem, enquanto outros corriam atrás do veículo, incentivados por um carro de som  que pedia que estudantes bloqueassem o caminho. Foi quando a confusão se armou e até jornalistas e fotógrafos foram agredidos. O repórter fotográfico do Estado Tiago Queiroz, por exemplo, foi empurrado e impedido de fotografar. Alunos também tentaram arrancar sua câmera. O tumulto só diminuiu após a PM usar gás lacrimogêneo e sair com os três alunos.
Patrulha. A presença de PMs na Cidade Universitária foi intensificada, por meio de convênio da universidade, após o assassinato do aluno Felipe Ramos de Paiva, de 24 anos, durante uma tentativa de assalto, em maio. Estudantes que estavam no protesto reclamam que a abordagem policial aos alunos no dia a dia tem sido violenta. “Esse é um dos motivos para a revolta dos estudantes”, disse um aluno que não quis se identificar.

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