Coronel Modesto Madia e outros 28 policiais são acusados de matar 76 presos no processo do massacre na Casa de Detenção, em 1992
Marcelo Godoy e William Cardoso, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Réu no processo do massacre da Casa de Detenção de São Paulo, o tenente-coronel Salvador Modesto Madia foi nomeado ontem o novo comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). Madia não é qualquer réu no processo. Depois do coronel Ubiratan Guimarães - absolvido da acusação de ser responsável por 102 das 111 mortes -, Madia e outros 28 policiais são acusados de matar 76 presos no Pavilhão 9 do presídio, que ficava no Carandiru, zona norte de São Paulo.
O massacre de 111 presos aconteceu no dia 2 de outubro de 1992 e é considerado um divisor de águas dentro da PM. Na época, uma briga entre detentos do pavilhão provocou uma rebelião. A Tropa de Choque foi chamada para abafar a revolta e retomar o controle. De acordo com a denúncia, os 80 policiais invadiram o pavilhão e mataram os presos - nenhum oficial morreu. Depois do massacre, dezenas de PMs foram afastados da Rota, o então secretário da Segurança Pública, Pedro Franco de Campos, pediu demissão e a PM criou programas de controle da violência letal.
O anúncio de Madia para assumir a Rota foi feito ontem pelo comando da Polícia Militar e pela Secretaria da Segurança Pública. É uma aposta por ele ser um integrante da corporação respeitado pela tropa.
A escolha recebeu críticas de entidades de defesa dos direitos humanos. “Alguém que participou do massacre do Carandiru não pode receber nem promoção, quanto mais chegar a um cargo tão sensível quanto o comando da Rota”, afirmou o presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Ivan Seixas.
Em nota divulgada ontem, o coronel prometeu combater “o crime com inteligência” e disse estar orgulhoso. Ele substituirá o tenente-coronel Paulo Adriano Telhada, que se aposentou na semana passada. Madia, segundo a denúncia do Ministério Público Estadual, era o quarto homem na linha de comando da tropa que retomou o 2.º andar do Pavilhão 9. Sob o comando do então capitão Valter Alves Mendonça, a tropa que ali atuou matou 76 dos 111 presos. Em média, cada um deles recebeu 4,5 tiros - a maioria na cabeça e no tórax. Muitos dos detentos foram atingidos nas costas. Os PMs alegam legítima defesa.
O nome do novo comandante da Rota está na folha 32 da denúncia. A 2.ª Vara do Júri de São Paulo decidiu mandar Madia e os demais réus a julgamento pelas mortes - até agora, só o coronel Ubiratan foi julgado - e pelo espancamento de presos depois de controlado o motim. Os réus recorreram da decisão e aguardam decisão do Tribunal de Justiça para saber se vão ou não a júri.
Confronto. Madia já havia trabalhado de 1986 a 1988 e de 1991 a 1993 na Rota e era o chefe operacional do Comando de Policiamento de Choque (BPChoq). Desde 2009, a Rota se transformou em um dos principais instrumentos de combate ao crime organizado no Estado. Madia negou que seu grupo tenha assassinado 76 pessoas, disse que tudo o que tinha para falar está relatado nos autos e que tem “total tranquilidade quanto ao que ocorreu”. Ele nega as execuções. “Foi confronto. Tenho certeza, tanto que deponho assim”, disse. Ele não vê problema em ser um dos acusados pelo massacre e assumir a Rota. “São atos inerentes à função do PM.”
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