Comunidade denuncia existência de 'cracolândia' na rua Padre Madureira



Moradores e comerciantes querem chamar a atenção das autoridades para o problema
Jornal Cruzeiro do Sul
Adriane Mendes
adriane.mendes@jcruzeiro.com.br

Estranhos e sobretudo usuários de drogas transformaram uma área comercial da rua Padre Madureira, no Além-Ponte, na "cracolândia" de Sorocaba. A afirmação é dos comerciantes e moradores daquela região, que com medo de terem seus nomes identificados por conta de represálias dos marginais, preferiram recorrer ao Cruzeiro do Sul por meio de uma carta assinada pela Sociedade Civil, representando toda comunidade da rua Padre Madureira, Vila Arruda, Árvore Grande, Vila Haro, Além-Ponte, e Jardim Pelegrino. Entretanto, de um modo bastante consciente, os reclamantes têm como objetivo chamar a atenção das autoridades competentes visando o encaminhamento dessas pessoas para tratamentos e reinserção social.

A área citada fica no numeral 68, e sua última função comercial foi a de estacionamento de uma igreja evangélica cujo acesso dos fiéis se dá pela rua Cruz e Souza. Mas desde que o contrato de aluguel foi encerrado, o espaço passou a ser ocupado por dependentes químicos e prostitutas, e segundo comerciantes, até mesmo crianças recém-nascidas já teriam sido vistas no local, demonstrando assim a necessidade de uma intervenção também no âmbito social. A comunidade representada na carta enviada à redação, cita que "no quadrilátero que envolve o referido imóvel localizam-se duas grandes concessionárias de veículos, três bancos, três lojas de pneus, um supermercado, uma cooperativa de consumo, três lojas de roupas, e vários outros comércios, além de moradias residenciais".

Outras informações, tais como que a situação é de conhecimento das autoridades policiais, foram confirmadas por alguns dos comerciantes que aceitaram conversar com a reportagem, mas desde que suas fisionomias e seus nomes não fossem revelados. Segundo eles, o problema iniciado há menos de um ano, há dez meses aproximadamente, já resultou em ação policial no local. Porém, nada adiantou, pois em menos de quinze dias depois outras pessoas voltaram a habitar a área. Mas eles atentam que o problema não se limita à esfera policial, mas sim à social, entendendo que se tratam de pessoas miseráveis e doentes.

De acordo com um comerciante, viciados e prostitutas dividem o mesmo espaço. "As garotas são vistas conversando com supostos clientes entre a rua Padre Madureira e a avenida São Paulo, e em seguida entram no imóvel. O problema é que, normalmente todos são dependentes químicos, só que ao contrário das mulheres que vendem o corpo para conseguir dinheiro e manter o vício, os homens partem mais para o furto", relatou esse comerciante. Comentários sobre furtos não são raros, sejam em bares, residências, sendo que nem mesmo a igreja evangélica teria escapado da ação dos "nóias" (gíria utilizada para se referir aos usuários de entorpecentes).

Outro comerciante e um morador ouvidos pela reportagem, disseram que a "cracolandiazinha" (no diminutivo por não se comparar com a de São Paulo), é ocupada por todo tipo de gente, independente de sexo e idade, mas que o movimento aumenta sempre ao cair da tarde e principalmente a noite, já em torno das 22h. 

Em aproximadamente uma hora que ficou na rua Padre Madureira na quarta-feira ouvindo os relatos de alguns comerciantes e moradores, a reportagem constatou a existência de uma família, constituída por um casal e um menino, morando no local. Viu também quando um rapaz, citado como "nóia", veio da rua João Ferreira da Silva e entrou no referido endereço que tem sido motivo de grande preocupação. Ainda segundo as pessoas que moram ou trabalham naquela região, no começo deste ano até fogo foi colocado no lugar, precisando chamar o Corpo de Bombeiros. Segundo consta, a polícia teria feito uma revista no local e retirado os invasores, e alguns destes, por bronca, teriam ateado fogo em alguns objetos nos fundos do terreno. O fogo foi pequeno, mas caso se alastrasse levaria risco aos imóveis vizinhos, que são antigos.

A empresa proprietária da área informou ontem que o imóvel já foi alugado, devendo em breve receber algum tipo de melhorias pelo locatário, não citando porém enquanto tempo isso deverá ocorrer.
 
Fotos comprovam invasão 
As fotos feitas quinta-feira à noite comprovam que o imóvel é ocupado por diversas pessoas, havendo ao menos uma criança em torno de 12 anos de idade. Com base nas fotos pudemos conferir a existência de cinco pessoas no local, sendo uma mulher morena que vestia blusa rosa, outra morena com roupa preta de alças, um menino, um homem de cabelos grisalhos e outro que usava um boné branco.

Ainda segundo as fotos, pode-se afirmar que as pessoas estão morando no lugar, tendo em vista a existência de vassouras - numa das fotos a mulher de rosa aparece varrendo a frente de uma das edículas -, e roupas no varal. A porta aberta de uma edícula que fica mais para os fundos do terreno também é indicativo de pessoas ocupando aquele espaço. Além disso, um enfeite natalino mantido até agora no portão frontal do imóvel, confirma também a presença de pessoas.

Polícia alega que faz blitze

O capitão Ubiratã Marques da Silva, comandante da 4ª Companhia da Polícia Militar (unidade responsável pelo policiamento nos bairros da região da rua Padre Madureira), lembrou que já são feitas operações de abordagem no local que gerou as reclamações de moradores e comerciantes. Na noite da última sexta-feira, ao tomar conhecimento pela reportagem da carta dos moradores e comerciantes, ele também determinou a realização de operação de abordagem policial na região da rua Padre Madureira. 

Ubiratã acrescentou, no entanto, que este não é só um problema de polícia: "É um problema social que deve ser visto por várias outras situações." Explicou que a polícia faz a abordagem, verifica se não há prática de ordem criminal e, na quando não encontra problema, mesmo assim as dificuldades relatadas pelos moradores e comerciantes continuam e por isso existe a necessidade da presença de outros setores competentes para atendimento ao caso.

Ele disse ter ficado surpreso com a atitude de pessoas que primeiramente procuram a imprensa quando, no seu entender, deveriam ir até às autoridades competentes para pedir solução para tais problemas. "A população deveria ter um contato com a gente (Polícia Militar)", disse.

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